"Depois de percorrer o mundo inteiro, Yasuyoshi Chiba, um dos grandes fotógrafos jornalísticos da atualidade, escolheu o Brasil como seu novo lar, e como terra natal de seu filho que nasceu no final de 2012. Colecionando alguns dos principais prêmios de sua área no mundo inteiro, entre seus muitos trabalhos de grande repercussão estão a cobertura da Guerra Civil no Kenya em 2008 e do Japão nos dramáticos momentos que se seguiram ao trágico tsunami de 2011. A ele devo a foto de fundo que escolhi para meu perfil no Facebook, onde apareço tocando um piano de cauda suspenso no ar em pleno Vale do Anhangabaú. Profissional apaixonado e convicto da função social que a fotografia pode ter na sociedade contemporânea, não poderia jamais se furtar a cobrir as passeatas e manifestações populares que este ano marcaram o despertar de sua pátria adotiva depois de tantos anos de apatia e de descrença. No entanto, depois de documentar os horrores da guerra e a fúria da natureza, foi justamente no Brasil que Chiba foi ferido fisicamente com maior gravidade. Não pela violência de algum grupo radical, ou pelo vandalismo de baderneiros oportunistas - mas pela polícia militar do Rio de Janeiro. Atingido por um golpe de cassetete enquanto documentava os protestos contra a visita do papa, Chiba, coberto de sangue, teve de receber pontos na cabeça para evitar riscos e complicações maiores advindas do ferimento. A imagem dele ferido corre agora o mundo, somando-se a tantas outras que vêm desfazendo aos olhos da comunidade internacional a visão idílica e sorridente com que o Brasil por muito tempo buscou se apresentar. A máscara que um dia ostentou esse sorriso vai aos poucos se dissolvendo no sangue de Chiba e de tantas outras vítimas da violência que assola a vida de nosso país - não apenas a violência gratuita e imprevisível da criminalidade, mas também, e com cada vez maior evidência, a nossa violência institucional, fruto e algoz de uma sociedade visceralmente desigual cuja brutalidade a transparência e velocidade da informação no mundo contemporâneo já não permitem mais ocultar."
Posted on: Wed, 24 Jul 2013 11:36:19 +0000
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