Derrota alemã na Rússia Catástrofe alemã na Criméia Luta na - TopicsExpress



          

Derrota alemã na Rússia Catástrofe alemã na Criméia Luta na Rússia meridional: Vitória russa na Ucrânia Reconquista da Criméia Questão Rússia x Polônia 1944 começara para a URSS com uma esmagadora vitória dos seus exércitos frente a Leningrado. A cidade, que Hitler se propusera a arrasar, considerando-a como “berço e símbolo do poder bolchevista” sobrevivera ao espantoso sítio de quase três anos. Seu martírio agora estava encerrado definitivamente. Ao longo de toda a frente norte, as forças alemães batiam em desordenada retirada. Sua derrota era total. Enquanto isso, no sul da Rússia, o Exército Vermelho se aprontava para reativar o seu avanço. A chegada do “período da lama” havia imposto uma pausa nos operações, porém desta vez, a trégua seria extremamente curta. Os russos estavam dispostos a prosseguir, com todo o ímpeto, seus movimentos ofensivos, apesar das enormes dificuldades apresentadas pelo terreno. O Estado-Maior do Exército alemão calculava corretamente que, apesar do barro, não cabia desta vez esperar uma longa permanência na imobilidade dos forças inimigas. Os serviços de inteligência denunciavam dia a dia a concentração de efetivos e a chegada de unidades de reserva à frente situada sobre a margem ocidental do rio Dnieper. Nesse setor, indiscutivelmente, se produziria uma nova e gigantesca arremetida russa. Seu objetivo, como sempre, seria tentar o envolvimento e destruição de todas as forças alemães localizadas na Rússia meridional: o Grupo de Exércitos Sul, do Marechal von Manstein, e o Grupo de Exércitos A, do Marechal von Kleist. Para alcançar tal propósito, os soviéticos empenhariam na luto os unidades da 1a, 2a e 3a Frentes da Ucrânia, comandadas respectivamente por Zhukov (que substituiu Vatutin), Koniev e Malinovski. Tal como julgavam os alemães, o centro de gravidade das operações serio dirigido sobre as forças de Manstein. Caso conseguissem superar as suas linhas e desarticular os seus efetivos, os soviéticos estariam em condições de completar uma gigantesca manobra de tenazes sobre as costas do Mar Negro. Nessa armadilha ficariam presas, e sem possibilidades de salvação, as forças alemães. Esta mortal ameaça foi discutida com o Führer, que se negou o aceita-la como possível. Manstein transcreve em suas memórias a conversa que, a respeito, manteve com o General Zeitzler, chefe do Estado-Maior. Transcrevemos o diálogo: Zeitzler: “Mantive uma longa conversa com o Führer sobre isso e suas conseqüências, porém desta vez também não o encontrei nada propício”. Manstein: “Então como acha ele que temos que continuar a luta?” Zeitzler: “Diz que algum dia os russos têm de parar de nos atacar, pois que vêm acometendo-nos, sem trégua, desde julho do ano passado e isso não pode durar eternamente...”. Uma vez mais, o ditador alemão expressava a opinião, que já se tornara uma obsessão nele, de que a potência russo tinha, inevitavelmente, que esgotar-se. Não podia resignar-se a aceitar aquilo que os fatos já haviam demonstrado não uma, mas cem vezes: O Exército Vermelho, no transcorrer da encarniçada luta, não somente não se debilitava, mas; sim, aumentava, dia a dia, o seu caudal humano e o seu poderio ofensivo. Em contraste com esse acelerado fortalecimento dos russos, a Wehrmacht, pelo contrário, via diminuir, rápida e inexoravelmente, seus efetivos. No período entre julho de 1943 e janeiro de 1944, o Grupo de Exércitos Sul de Manstein havia perdido mais de 400.000 soldados entre mortos, feridos e desaparecidos, e somente havia recebido, em substituição, 200.000 homens. Nesse mesmo lapso de tempo, as forças russas na frente meridional haviam recebido 2.700 tanques novos, enquanto que os alemães só dispuseram de 800, e nessa cifra estavam também incluídos os canhões de assalto. Apesar dessa situação, o Führer se manteve irredutível na sua estratégia de resistir a todo transe e em todos os lugares, sem ceder um só metro de terreno. Foi assim que se negou a ordenar a evacuação do 17o Exército, que ficara isolado na península da Criméia. Não somente não determinou a retirada das tropas dessa posição indefensável - com o que teria ganho importantes efetivos para reforçar von Manstein e Kleist mas, pelo contrário, ordenou que fosse enviada à Criméia uma divisão do 6o Exército, e conseguiu também induzir o Marechal Antonescu a reforçar as tropas romenas localizadas na península. A atitude de Hitler só podia produzir um único e inevitável resultado: a derrota. Foram em vão todas as tentativas que fizeram os seus generais para dissuadi-lo; o ditador rechaçou sem a menor contemplação todos os apelos. Avanço rumo ao Bug Ao enfrentar a reativação do seu ataque, os soviéticos tinham que resolver as enormes dificuldades impostas ao deslocamento de suas forças pelo amolecimento do terreno, convertido pelo degelo num imenso lodaçal. Nesse fator depositava Hitler suas maiores esperanças para a contenção da investida russa. Porém o barro atuou também contra os alemães. Considerando que a investida soviética era iminente, von Manstein trabalhou energicamente reunindo todas as forças possíveis e concentrando-as na sua ala norte, onde esperava a investida principal dos russos. Essa operação contudo, não pôde concretizar-se com a necessária rapidez por causa do péssimo estado das estradas, e os destacamentos só completaram os seus deslocamentos quando a ofensiva russa já estava em marcha. Às vésperas do encontro decisivo, os serviços de informação alemães haviam identificado, do extremo norte ao sul da frente, as seguintes forças soviéticas: Localizadas frente ao 4o Exército Panzer: 18 divisões de infantaria, 1 corpo de cavalaria e 5 corpos de tanques e motorizados. Localizadas frente ao 1o Exército Panzer: de 37 a 40 divisões de infantaria e 11 corpos de tanques e mecanizados. Localizadas frente ao 4o Exército: 62 divisões de infantaria, 1 corpo de cavalaria e 4 corpos de tanques e motorizados. Com essa gigantesca massa de forças, Zhukov, Koniev e Malinovski se dispuseram a pôr em marcha a que posteriormente seria denominada “Ofensiva da Lama”. Poucas vezes na história militar foi empreendida uma ação dessa magnitude em um terreno tão desfavorável. Contudo, o Alto-Comando russo julgou acertadamente que a lama prejudicaria mais à Wehrmacht que ao Exército Vermelho. As razões desse fato foram assinaladas pelo próprio von Manstein: “... o lamaçal nos prejudicava mais que aos russos. Já mencionamos antes que os tanques russos se deslocavam com maior facilidade sobre a neve e sobre o instável solo lamacento que os alemães, pois estes tinham lagartas mais estreitos, e menor base de sustentação. Pois bem, para aumentar essa desvantagem, vinham agora os novos e numerosos caminhões americanos, que apareceram entre os russos e que também eram capazes de progredir transversalmente no terreno, enquanto os nossos não, podiam se desviar um passo da margem das estradas. Fato que dava ao inimigo condições de transportar rapidamente a infantaria de seus corpos blindados e motorizados. Ainda se tornaria mais sensível o nossa inferioridade quando o período do degelo avançou. Então, sentimos ainda mais a falta dos indispensáveis tratores de que carecíamos. O resultado de tudo isso foi uma grande perda de tempo, cada vez que nossas unidades rápidas tinham que se deslocar por um espaço mais vasto, e a conseqüente inferioridade no luta com um inimigo mais veloz e flexível”. A 3 de março de 1944 iniciou-se o ataque russo ao longo de toda a frente meridional. As forças da Primeira Frente da Ucrânia, comandadas por Zhukov, se lançaram rumo ao sul, com a intenção de aniquilar o 4o Exército Panzer, comandado pelo General Rauss, e alcançar logo as margens do rio Dniester. Se os soviéticos conseguissem cumprir esse objetivo, toda a ala norte das forças alemães seria varrida e não restaria escapatória para as restantes unidades. Apoiados por uma violentíssima barreira de fogo de artilharia, os tanques e a infantaria russa irromperam nas posições alemãs, desbaratando toda oposição. O Marechal von Manstein, ao ser informado da grave situação, emitiu imediatamente a ordem de contra-ataque aos dois corpos de tanques que mantinha em reserva. Os blindados alemães, travando encarniçados combates, conseguiram finalmente frear a investida inimiga. O 4o Exército Panzer pôde assim escapar à destruição, e ficou temporariamente frustrada a manobra de envolvimento soviético pelo norte. Mais ao sul, porém, ocorreriam fatos catastróficos. A Segunda Frente da Ucrânia, sob o comando de Koniev, passou ao ataque no dia 5 de março e se arrojou sobre as linhas defendidas pelo 1o Exército Panzer e 8o Exército alemães. Milhares de canhões martelaram com um bombardeio incessante as posições alemãs. Deslocando-se velozmente sobre o barro, as colunas blindadas de Koniev, convergiram sobre a cidade de Uman. Conquistada essa localidade, os soviéticos prosseguiram o seu vertiginoso avanço rumo ao sul. Seu objetivo agora era o rio Bug. As forças alemães, apesar das tentativas desesperadas, não puderam conter a arremetida de Koniev. Os tanques T-34 de lagartas largas e os caminhões americanos de tração dupla, permitiam aos russos marchar sem inconvenientes pela lama, e sua aviação abastecia pelo ar as colunas em movimento, arrojando com pára-quedas combustível, munições e alimentos. Toda a ala esquerda do 8o Exército foi, assim, literalmente varrida e, a 11 de março, von Manstein se viu obrigado a ordenar o imediato recuo dos restos dessa força para a margem ocidental do Bug. Dois dias mais tarde, as tropas de vanguarda de Koniev cruzaram o rio, encrustando uma cabeça-de-ponte na margem oposta. Uma gigantesca brecha se abria no centro do dispositivo alemão. Ao norte, o 4o Exército Panzer conseguia manter suas posições, porém o 1o Panzer, atacado pelo flanco, foi obrigado a bater em retirada. As forças alemães ficavam portanto, praticamente cortadas no meio. Apoderando-se da linha do Bug, as unidades de Koniev já se dispunham a aprofundar a cunha até alcançar as margens do rio Dniester. Por sua vez, os exércitos de Zhukov estavam prontos para descarregar um novo golpe destinado a completar o aniquilamento do 1o Exército Panzer. Manstein diante de Hitler Enquanto os forças de Zhukov e Koniev continuavam o seu avanço, no extremo sul, a Terceira Frente da Ucrânia, sob o comando do General Malinovski, rompeu as posições do 6o Exército alemão e, em um rápido movimento envolvente, caiu sobre suas costas. O Marechal von Kleist, comandante-chefe desse setor, dirigiu uma dramática mensagem a Hitler, solicitando autorização para abrir imediatamente passagem com suas tropas para o oeste. Somente essa manobra podia salvá-las da destruição. O ditador concordou com o movimento de ruptura, e os efetivos alemães, travando furiosos combates, romperam o cerco russo e se retiraram até o Bug. A situação derivava assim para uma crise inevitável. Enquanto no QG de Stalin reinava um entusiasmo transbordante, no lado alemão espalhava-se uma completa desmoralização. Em todos os pontos a Wehrmacht se retirava em desordem, e as lamacentas estradas ficavam cobertas com o equipamento que as tropas abandonavam na esperança de acelerar a marcha. Já não era a retirada de um exército organizado, mas uma verdadeira fuga. Manstein explicou assim as causas dessa catástrofe: “Além da esmagadora superioridade inimiga, o motivo fundamental dessa atropelada retirada residia, sem dúvida, no tremendo esgotamento de nossas tropas. As divisões alemãs foram literalmente se extinguindo na luta sem tréguas que vinham travando desde meados de julho. Os efetivos dos regimentos haviam caído a meras frações insignificantes de seus números originais e até mesmo esses sobreviventes haviam perdido grande parte da sua individual virtude combativa, pelo prolongado esforço realizado. Por outro lado, os recrutas, em escasso numero, com que se pretendera cobrir as baixas, careciam de experiência de guerra e de modo algum podiam compensar-nos da perda dos nossos aguerridos veteranos e dos experimentados comandos subalternos. Podíamos pois considerar consumida a espinha dorsal do exército. Como poderíamos reagir ainda com contragolpes potentes se, por exemplo, de todo um Corpo blindado, constatássemos que somente nos restavam 24 tanques utilizáveis? ”. A única solução possível para conjurar a ameaça iminente do derrota total residia, para os alemães, num acelerado encurtamento da frente. Isso permitiria aumentar a densidade dos seus efetivos e tapar as extensas brechas pelas quais irrompiam, sem oposição, as colunas de tanques e infantes russos. A 19 de março, von Manstein se entrevistou com Hitler e lhe solicitou a adoção dessa medida. De acordo com sua aprovação, o 6o Exército seria imediatamente retirado de sua posição avançada no Bug, onde corria o risco de ser novamente cercado, e localizado na linha do Dniester. Essa retirada possibilitaria o deslocamento de parte dos forças do 6o Exército para o norte, onde, indiscutivelmente, ocorreria o principal ataque russo. Hitler, porém, se negou a aceitar a proposta do seu marechal e lhe ordenou manter o 6o Exército no Bug. Nessa mesma noite, enquanto se encontrava ainda no QG do Führer, Manstein recebeu uma mensagem da frente, anunciando um repentino agravamento da situação. Os russos, redobrando os seus esforços, continuavam inexoravelmente o sua penetração, sem que as tropas alemães conseguissem refazer suas linhas. Toda a frente do 8o Exército ameaçava desmoronar-se sob os embates de Koniev e, no norte, as forças de Zhukov estavam em vias de completar o envolvimento do 1o Exército Panzer. A crise se desencadeou finalmente a 20 de março. Dois exércitos de tanques russos, em violenta acometida, irromperam rumo ao sul, e mediante uma manobra de tenazes separaram o 1o Exército Panzer do resto das forças alemãs. O cerco estava fechado! Manstein, ao receber a notícia, solicitou imediatamente ao Alto-Comando o envio de todas as tropas disponíveis para conseguir a libertação das forças sitiadas, antes que fosse demasiado tarde. Hitler, como única resposta, ordenou: “O 1o Exército Panzer manterá sua posição... e, com suas próprias forças, deverá, ao mesmo tempo, restabelecer a união com o 4o Panzer!”. Essa determinação era, na prática, totalmente irrealizável. Os efetivos do 1o Panzer, dizimados e esgotados, não poderiam jamais cumprir com a dupla missão que o Führer, totalmente desligado da realidade, lhes designava. A decisão de Hitler deu lugar imediata reação de Manstein. Este, totalmente abatido, viu cair sobre as tropas cercadas a mesma e trágica sorte sofrida pelos soldados de Paulus em Stalingrado. Em conseqüência, o chefe alemão enviou um telegrama ao QG do Führer no qual evidenciava a sua resolução de ordenar ao 1o Panzer que abrisse passagem para o oeste, se não lhe fossem imediatamente enviados os reforços que solicitara. As horas correram numa tensa espera. Ao cair da noite, Manstein recebeu a ordem de se apresentar no dia seguinte no QG de Hitler. Na manhã de 25 de março, o marechal empreendeu vôo em seu avião pessoal, decolando do aeródromo de Lemberg. Poucas horas mais tarde se achava em presença de Hitler. A discussão foi violenta! Hitler, não somente se negou a adotar o plano de Manstein, mas o recriminou duramente, atribuindo-lhe a responsabilidade pelas sucessivas derrotas sofridas no sul da Rússia. Acusou, também, os soldados de falta de combatividade, assinalando que, em determinadas oportunidades, bastaram uns poucos tanques russos para pôr em fuga grandes massas de tropas alemães. Manstein lhe respondeu, “quase com aspereza”, conforme declara em suas Memórias, manifestando que se isso ocorrera era pela simples razão de que se havia submetido as tropas a um esforço sobre-humano que as reduzira à mais completa exaustão. Com essas mútuas recriminações, encerrou-se a conferência. Ao abandonar a sala, Manstein solicitou ao General Schmudt, ajudante pessoal de Hitler, que expressasse ao Führer seu desejo de ser imediatamente substituído no comando, visto que seus projetos haviam sido repelidos. O desenlace dessa discussão foi inesperado. Ao se reunir novamente com Hitler, à noite, Manstein se viu surpreendido pela total mudança de opinião do seu superior. O Führer, intempestivamente, declarou: “Estive refletindo sobre o assunto, e estou de acordo com o senhor em que o 1o Exército Panzer abra caminho rumo ao oeste. Passando por cima de todos os meus escrúpulos, resolvi agregar ao 4o Exército Panzer um corpo blindado SS, recentemente formado no ocidente, assim como as divisões 100a de Caçadores e a 367a de Infantaria, procedentes da Hungria, para que possa constituir a força de libertação solicitada”. Desta forma ficou assegurada a salvação das tropas cercadas. “Com sua obstinada insistência, Manstein evitara que o 1o Panzer fosse totalmente desbaratado. No entanto, Hitler não perdoaria a sua atitude. Poucos dias mais tarde, o marechal seria destituído do posto de chefe do Grupo de Exércitos Sul. O avanço russo é detido O mês de março chegava ao fim. Aceleradamente, as tropas do 4o Exército Panzer completavam os seus preparativos para empreender o contra-ataque destinado o abrir uma via de escape aos seus camaradas do 1o Panzer. Os soviéticos, entrementes, prosseguiam pressionando ao longo de toda a frente, confiantes em que obteriam uma vitória decisiva. Uma vez mais, contudo, a tenacidade dos alemães haveria do frustrar os seus propósitos. A 30 de março, Manstein foi chamado à presença de Hitler e este lhe comunicou que resolvera substituí-lo no comando. Para justificar essa medida, declarou ao marechal “que o tempo das operações de grandes vôos terminou, e que o importante dali por diante era a resistência intransponível...”. Manstein, o mais brilhante estrategista do Wehrmacht, já não era portanto necessário. Em seu lugar assumiria o comando o Coronel-General Model, agora nomeado marechal, que por sua reconhecida energia era, de acordo com a opinião de Hitler, o chefe ideal para o novo tipo de luta, “um homem infatigável, que passaria de divisão em divisão com a celeridade do raio, e não deixaria de tirar de cada uma seu rendimento máximo”. As mudanças no comando não se limitaram a Manstein; também von Kleist foi destituído e o General Schörner o substituiu. Por sua vez, as forças alemães receberam novas designações: o Grupo de Exércitos Sul passou a ser Grupo de Exércitos Ucrânia Norte, e o Grupo de Exércitos A, Ucrânia Sul. Estes nomes não correspondiam já à realidade geográfica da atuação das tropas alemãs, pois praticamente haviam sido desalojados da Rússia, porém, assim foram designados para manter a ficção de uma possível posterior reconquista da Ucrânia. O avanço russo, prolongando-se sem trégua, levou as forças de Koniev até os limites da Romênia. A 2 de abril de 1944, as tropas do Exército Vermelho cruzaram a fronteira. No momento em que as tropas russas penetraram no território romeno, Molotov deu publicidade em Moscou a um comunicado em que manifestava que essa operação era imposta pelas necessidades da guerra, porém que a URSS não tinha a menor aspiração territorial sobre aquele país. Essa declaração era destinada a provocar o afastamento da Romênia do Eixo. No norte, os alemães iniciaram, a 5 de abril, o ataque, que culminaria na libertação do 1o Exército Panzer. Uma força de choque, combatendo encarniçadamente, abriu passagem para o Leste e conseguiu estabelecer contato, no dia 9, com as tropas sitiadas. Essa operação vitoriosa não significou, no entanto, nenhuma mudança na situação. Os russos, retinham a iniciativa em toda a frente. Deslocando-se velozmente sobre as costas do Mar Negro, a Terceira Frente da Ucrânia, de Malinovski, alcançou, no próprio dia 9, os arrabaldes do grande porto de Odessa. Na jornada seguinte essa localidade foi ocupada e Malinovski lançou, então, suas forças sobre o rio Dniester. A 12 de abril, os russos, aniquilando toda a oposição, chegaram às suas margens. Assim, em meados de abril, o Exército Vermelho concretizara os objetivos fundamentais da sua ofensiva. Nessa época, a intensificação do degelo provocou total amolecimento do terreno, fato que deu lugar à diminuição do ritmo do avanço. Também, o constante prolongar das linhas de abastecimento causou grandes dificuldades ao suprimento das tropas. Estas circunstâncias adversas impuseram a paralisação da ofensiva. A frente, então, ficou estabilizada. Catástrofe na Criméia Enquanto a luta na Ucrânia chegava ao seu término, os soviéticos preparavam suas forças para empreender a reconquista da península da Criméia. Ali ficara cercado o 17o Exército alemão, a quem Hitler havia ordenado resistir até o fim. Essa força só contava com 5 divisões alemães e 6 romenas, e carecia por completo de unidades blindadas. Em diversas oportunidades, os comandos militares haviam pedido ao Führer que determinasse a evacuação marítima das tropas sitiadas na Criméia, a fim de salvá-las de um inevitável aniquilamento. Hitler, porém se negou obstinadamente a tomar essa medida, pois considerava que se os russos conseguissem apoderar-se da península, não deixariam de utilizá-la como base para iniciar o bombardeio aéreo das vitais jazidas petrolíferas de Ploesti, na Romênia. O comando russo dispôs-se a realizar a investido principal sobre a península com as tropas do Quarta Frente da Ucrânia, comandadas pelo General Tolbuchin. Essas forças irromperiam através dos istmos de Siwash e Perekop e convergiriam sobre o porto de Sebastopol. Simultaneamente, pelo leste, outro exército, colocado na península de Kersch, secundaria o avanço. As operações se iniciaram a 8 de abril. Dois corpos blindados e 18 divisões de infantaria se lançaram, do norte, sobre as posições defendidas por duas divisões alemãs e duas romenas. O ataque decisivo se produziu pelo istmo de Siwash, onde não existiam praticamente fortificações. Cerca de 200 tanques soviéticos irromperam através das linhas e acometeram para o sul, varando as estepes. Com a retaguarda ameaçada, as tropas alemães, colocadas no istmo de Perekop bateram em acelerada retirada, abandonando sua poderosa linha de re dutos. O caminho para Sebastopol ficava, então, totalmente aberto aos russos. No dia 12 rompeu-se também a resistência alemã no leste da península. Nessa jornada, e enquanto as tropas se retiravam desordenadamente para Sebastopol, Hitler enviou ao chefe do 17o Exército, General Jaenecke, a ordem de defender a praça de guerra até o último homem. O Marechal Antonescu, porém, solicitou e conseguiu que se permitisse a evacuação das tropas romenas. Para a guarnição alemã iniciou-se então uma luta que carecia de qualquer esperança. A 5 de maio as tropas de Tolbuchin se lançaram ao assalto final. Apoiada por uma gigantesca concentração de artilharia e lança-foguetes, a infantaria irrompeu pelo perímetro defensivo de Sebastopol, travando furiosos combates com as dizimadas unidades alemães. Nesse mesmo local, dois anos antes, em julho de 1942, a Wehrmacht havia conseguido uma das suas mais retumbantes vitórias, ao quebrar a resistência da defesa russa em Sebastopol, depois de 250 dias de sítio. Agora, os alemães viam-se diante de uma catastrófica derrota. O próprio Hitler compreendeu finalmente que o prolongamento da resistência carecia já de qualquer sentido, e na noite de 8 de maio autorizou a evacuação. Realizando um esforço supremo, as unidades navais alemãs, atuaram para resgatar as tropas sitiados. Durante três dias e três noites, barcos e lanchas se aproximaram de Sebastopol debaixo do fogo da artilharia e da aviação soviética e carregaram os exaustos combatentes. Mais de 60 embarcações de todos os tipos, repletas de soldados, foram afundadas pelos russos. Contudo, a operação conseguiu o que parecia impossível. Mais de 150.000 homens foram evacuados. Em Sebastopol ficaram, porém, cerca de 60.000 soldados. Para eles já não haveria salvação. Irrompendo de todas os direções, as unidades soviéticos convergiram sobre o porto. Milhares de alemães pereceram entre os escombros combatendo até o último cartucho. Os que sobreviveram depuseram finalmente as armas no cabo Quersoneso, no mesmo local onde, em 1942, houve a última resistência russa. Sebastopol, convertida num montão de ruínas, havia sido reconquistada. Stalin e a Polônia As vitórias obtidas pelo Exército Vermelho em Leningrado, na Ucrânia e na Criméia, haviam praticamente concretizado a definitiva expulsão das forças alemães do território soviético. Restava, porém, uma grande região nas mãos da Wehrmacht, na zona central. Era a posição ocupada pelas tropas do Grupo de Exércitos Centro do Marechal von Busch, que, como uma profunda cunha de mais de 500 km de profundidade, se estendia em direção ao Leste. Ali, uma nova grande ofensiva russa se desenrolaria. Se os exércitos soviéticos conseguissem concretizar a curto prazo, como esperavam, a destruição destas forças alemãs, estariam em condições de empreender o avanço sobre os países da Europa oriental. Esta circunstância fôra já vislumbrada com muita antecedência pelos dirigentes do governo polonês estabelecido em Londres. Stalin havia rompido relações em abril de 1943, com esse governo, e promoveu a formação, em território russo, de uma organização política polonesa. Era a denominada União dos Patriotas Poloneses. A intenção do líder russo era clara: estabelecer em todos aqueles países que rodeavam as fronteiras da URSS, regimes comunistas. Esse fato era temido pelos grupos poloneses de Londres. Ao efetuar-se a conferência de Teerã entre Stalin, Churchill e Roosevelt, Stanislaw Mikolajczyk, primeiro-ministro polonês, havia feito saber a Roosevelt que era necessária a sua intervenção para convencer Stalin a permitir a instalação, em Varsóvia, das autoridades democráticas polonesas, quando a Polônia fosse libertada pelos russos. Mikolajczyk comunicou ao presidente americano que se Stalin se negasse, o governo polonês consideraria as tropas russas como invasoras da sua pátria, e ordenaria aos seus combatentes da resistência lutar contra elas. Com referência às pretensões territoriais soviéticas, assinalou que não estava disposto a considerar a cessão das províncias orientais polonesas, mesmo que lhe fossem oferecidas em compensação a Prússia Oriental, Dantzig e a Silésia. Em Teerã, Roosevelt incumbiu Churchill da colocação do problema polonês diante de Stalin. O primeiro-ministro britânico se referiu à questão na ceia que manteve com o líder russo, a 28 de novembro. Embora não formulasse de maneira terminante e expressa a exigência do governo polonês, declarou que era necessário fixar concretamente qual seria a atitude que os três grandes aliados seguiriam com relação à Polônia. Stalin perguntou, então, se tal resolução seria tomada sem a participação dos líderes poloneses. Churchill declarou que essa era a sua intenção. Posteriormente, comunicaria aos poloneses o que fôra combinado, depois que Roosevelt, Stalin e ele tivessem chegado a uma definição, Eden então interveio na discussão, e assinalou que o que a Polônia perdera nas mãos dos russos no Leste, poderia ser compensado à custa de territórios alemães no Oeste. Stalin limitou-se o comentar: “possivelmente”. A 1o de dezembro, Roosevelt voltou ao tema, desta vez numa entrevista mantida, a sós, com Stalin. De acordo com o memorando que posteriormente foi redigido sobre as conversações, Roosevelt manifestou o seguinte: “Pessoalmente concordava com o ponto de vista do Marechal Stalin acerca da necessidade de restaurar a vida independente do Estado Polonês, porém lhe agradaria ver deslocada a fronteira oriental mais para o Oeste, e a fronteira ocidental deslocada ainda até o rio Oder. Esperava, contudo, que o marechal compreendesse que, por razões políticas já expostas, não participaria de nenhuma decisão sobre o assunto em Teerã ou ainda no próximo inverno, e que não tomaria, publicamente, parte em nenhum acordo no presente”. Roosevelt declararia posteriormente que, ao reconhecer como necessária a cessão de parte dos territórios poloneses no Leste à URSS, não estava reconhecendo a linha de fronteira pretendida pelos soviéticos. No entanto, Stalin e o seu chanceler Molotov acreditaram que sim. Mais tarde, ao se reunirem os três líderes aliados, Roosevelt declarou a Stalin que esperava que se estabelecessem logo conversações para restabelecer as relações entre o governo polonês e o soviético. Stalin reagiu energicamente, lembrando que o governo polonês estabelecido em Londres “estava em contato com os alemães, se unia a estes em sua propaganda contra o governo soviético e mandava matar guerrilheiros que estavam combatendo contra os alemães”. Exigiu então garantias de que todas essas atividades cessariam no futuro e assinalou que, se o governo polonês tornasse clara a sua conduta e começasse a lutar contra os alemães, as autoridades da URSS estavam dispostas a entabular relações. Churchill, alentado por estas palavras, solicitou a Stalin que definisse suas idéias acerca das futuras fronteiras da Polônia. Stalin declarou que o Governo soviético reconhecia como única fronteira a que fôra estabelecida em 1939, depois do avanço do Exército Vermelho, dentro das províncias orientais polonesas, às quais qualificou como “territórios integrantes da Ucrânia e Rússia Branca”. A atitude do líder russo era irremovível. A Polônia teria que aceitar a retificação de suas fronteiras no Leste e ser compensada no Oeste com territórios pertencentes à Alemanha. Na sua viagem de regresso a Londres, Churchill, temendo que o embate entre Stalin e o governo polonês levasse o líder soviético a constituir outro governo na Polônia, de signo comunista, ordenou a Eden que pedisse aos dirigentes polacos que aceitassem a situação. Na instrução a Eden, manifestava-se assim: “Deve o senhor expor-lhes que, ao apropriar-se dos atuais territórios alemães até o Oder, prestarão um serviço a toda Europa, possibilitando uma política amistosa com a Rússia, e uma estreita colaboração com a Tchecoslováquia”. O problema continua A reação dos poloneses não foi favorável. A 5 de janeiro, o governo presidido por Mikolajczyk, emitiu um comunicado pela rádio de Londres, sem consultar nem as autoridades britânicos nem as americanas, dirigido a todos os poloneses livres. Esse comunicado comentava que um acordo com a URSS era extremamente desejável, porém que era de se esperar que o URSS não deixaria de respeitar os interesses e direitos da República Polonesa e seus habitantes. Fazia saber também que já se haviam emitido ordens à resistência na Polônia para intensificar a sua luta contra os alemães e evitar qualquer conflito com os exércitos soviéticos que estavam entrando em território polonês, cooperando com os comandantes soviéticos no caso do restabelecimento das relações russo-polacas. Embora estivesse escrita em tom moderado, a declaração deixava claramente expresso que o governo polonês não estava disposto a renunciar aos seus interesses e direitos. O Presidente Benes, da Tchecoslováquia, refugiado também em Londres, interveio então, assinalando a Mikolajczyk que era necessário chegar a um acordo com Stalin, aceitando suas propostas. O primeiro-ministro polonês respondeu que, mesmo que ele, pessoalmente, estivesse disposto a aceitar a retificação de fronteiras, por considerar impossível outra saída, seus colegas mantinham uma oposição que ele não podia eliminar. A 11 de janeiro, e já quando os exércitos russos haviam penetrado em solo polonês, Molotov mandou chamar os embaixadores americano e britânico em Moscou, e lhes entregou um documento. Este continha uma contra-declaração do governo russo, na qual se salientava que o governo polonês de Londres focalizava erroneamente a questão fronteiriça. A focalização correta era que as fronteiras estabelecidas em 1939 estavam de acordo com os desejos dos povos que viviam na Ucrânia e Rússia Branca ocidentais. As fronteiras anteriores, afirmava-se, haviam sido impostos pela força e eram injustas para estes habitantes da URSS. O governo soviético, continuava, desejava ver estabelecida uma Polônia poderosa e independente, com a qual pudesse manter relações amistosas... porém, esta nova Polônia devia renascer, não pela apropriação de terras da Ucrânia e da Rússia Branca, mas sim tratando de recuperar os territórios polacos arrebatados pela Alemanha. Em outras passagens, o documento lembrava que o governo polonês se demonstrara incapaz de entabular relações amistosas com a União Soviética e de sustentar uma luta ativa contra os alemães. Em compensação, a União dos Patriotas Poloneses, estabelecida na Rússia, e o exército polaco que combatia nas fileiras do Exército Vermelho, lutavam perseverantemente contra os nazistas pela libertação da sua pátria. Harriman, o embaixador americano, considerou que, embora o documento fosse aparentemente conclusivo quanto à aversão russa contra os poloneses de Londres, existiam ainda possibilidades de chegar a um acordo. Essas possibilidades, porém, se desvaneceriam por completo, quando as forças russas ocupassem o território da Polônia. Churchill tinha o mesmo ponto de vista, e o comunicou aos dirigentes poloneses. Estes, em decorrência das sugestões do primeiro-ministro britânico, deram publicidade a um novo comunicado, três dias mais tarde. Neste se declarava que, embora o governo polonês não reconhecesse decisões impostas, ou fatos consumados, desejava sinceramente chegar a um acordo com o governo soviético sobre bases justas e aceitáveis para ambos, e tornava público que havia solicitado aos governos dos EUA e Grã-Bretanha que atuassem como intermediários para concretizar tal acordo. Os russos, porém, desdenharam o oferecimento e declararam que o comunicado polaco constituía um rechaço de suas propostas. Churchill, ante o agravamento da situação, manteve uma entrevista com Mikolajczyk, na qual declarou categoricamente que nem a Grã-Bretanha nem os EUA iriam à guerra com a URSS pelas fronteiras da Polônia. O primeiro-ministro polaco, aniquilado, respondeu que teria que consultar os seus colegas e os dirigentes da resistência. Tratou assim de ganhar tempo, para conseguir uma mudança na posição britânica e americana, que favorecesse a defesa dos interesses do seu país. Churchill e Roosevelt, por sua vez, deram instruções aos seus embaixadores em Moscou para que trabalhassem ativamente em prol da superação do problema. A 2 de fevereiro, Harriman se entrevistou com Stalin, que, ao iniciar a conversa, colocou sobre a mesa uma revista que declarou ser editada pelos membros da resistência polonesa com sede em Londres. A publicação estava encabeçada por um grande título: “Hitler e Stalin, dois semblantes do mesmo mal”. Em seguida o líder russo manifestou estar convencido de que “os poloneses acreditavam que os russos eram bons combatentes, mas idiotas, e que podiam deixar que o Rússia carregasse com todo o peso da guerra, para intervir no final e repartir as sobras...”. O problema, longe de ser solucionado, caminhava para uma grave crise. Os dirigentes da resistência e os membros do gabinete polonês, manifestaram-se, dizendo que embora estivessem dispostos a aceitar territórios alemães do Oeste, não cederiam nada no Leste. Repeliram também as pretensões russas à Prússia Oriental. O General Anders, chefe do corpo polonês que combatia na Itália, enviou uma mensagem a Londres, na qual declarava energicamente que “todos os soldados do exército polonês se negarão a considerar a possibilidade de que algum pedaço do território polaco possa ser cedido aos bolchevistas”. Churchill, ao ser informado destas comunicações, foi tomado por grande abatimento. Poucos dias depois, declarou publicamente, na Câmara dos Comuns, que havia recebido completas garantias de Stalin de que este desejava uma Polônia forte e independente, porém, acrescentou, “não posso considerar que a exigência russa de querer uma confirmação referente às suas fronteiras ocidentais, exceda os limites do que é razoavelmente justo. O Marechal Stalin e eu discutimos e concordamos em que a Polônia obtenha compensação às custas da Alemanha, tanto no Norte como no Oeste”. Stalin, por sua vez, voltou a expor aos embaixadores britânico e americano, Harriman e Clark-Kerr, sua obstinada hostilidade para com o governo exilado em Londres. A Harriman comunicou claramente: “No momento em que a Polônia for liberada, outro governo terá surgido dentro do país”. Ao chegar o mês de maio de 1944, a imprensa soviética deu ênfase especial às notícias referentes à Polônia. Estava já em preparação a grande ofensiva que concretizaria a derrota alemã em território russo, fato que levaria as forças soviéticas até as portas de Varsóvia. No dia 19, os jornais publicaram a notícia que um destacado dirigente polonês que se achava em Londres, o General Zeligowski, se rebelara contra o governo de Mikolajczyk, declarando que a união dos eslavos era a única salvação para a Polônia, e que ao recusar-se o adotar essa perspectiva, esse governo favorecia a perpetuação do domínio alemão. A 24 de maio, a União de Patriotas Poloneses tornou pública em Moscou uma inesperada notícia: “Há poucos dias, delegados do Conselho do Povo da Polônia chegaram a Moscou... Este Conselho foi estabelecido em Varsóvia a 1° de janeiro de 1944, pelos partidos democráticos e grupos que lutam contra os ocupantes alemães. As seguintes forças estavam representadas no Conselho: os grupos de oposição do Partido Camponês, o PPS (Partido Socialista), o PPR (Partido dos Trabalhadores Comunistas), o Comitê de Iniciativa Nacional, Democratas Apolíticos, o Movimento Sindical Clandestino, o Movimento de Luta da Juventude, grupos e representantes das organizações militares subterrâneas, a Guarda Nacional, o Milícia Nacional, etc. Tornou-se necessário formar um centro de luta e coordenação. O governo emigrado no combate contra os alemães, ao contrário, apregoa a inatividade. Em 1943, as esperanças aumentaram na Polônia, porém, ao mesmo tempo, o terror alemão se intensificou. O Conselho Nacional, em sua primeira reunião, tomou a importantíssima decisão de unir a todos os grupos de guerrilheiros, unidades armados, etc., que lutam contra os ocupantes, e unificá-los em um único Exército do Povo... A Guarda Nacional, a Milícia Nacional, uma grande parte dos batalhões de Camponeses, já se incorporaram a ele. Em poucos meses, uma rede de organizações locais foi estabelecida pelo Conselho Nacional. A luta contra os ocupantes tem sido sumamente intensificada”. Por este comunicado foi que, pela primeira vez, tomou-se conhecimento público da existência de um movimento clandestino, dentro da Polônia, de orientação abertamente comunista. Esse Conselho Nacional, que os poloneses de Londres imediatamente qualificaram como carente de qualquer representatividade, constituiu o núcleo do Comitê Polonês de Libertação Nacional, estabelecido na cidade de Lublin, a 22 de julho de 1944, depois da sua libertação pelo Exército Vermelho. Esse Comitê foi reconhecido oficialmente pelo Governo da URSS como única autoridade legal na Polônia, confirmando assim sua definitiva oposição à liderança, em território polonês, dos dirigentes democráticos de Londres. Anexo “Resistir até o fim” Fracassada a sua última grande ofensiva em Kursk, e derrotados os seus exércitos na linha do rio Dnieper, que havia sido proclamada como a intransponível “Muralha do Leste”, Hitler se viu diante da ameaça de um rápido avanço russo sobre as fronteiras da Alemanha. O Führer resolveu então emitir terminantes diretivas às suas forças para firmar a resistência ao longo de toda a frente oriental. Reproduzimos o texto da ordem: QG do Führer 8 de março de 1944 Ordem do Führer n° 11 Em vista dos últimos acontecimentos, resolvo o seguinte: 1. Far-se-á uma distinção entre as “Zonas Fortificadas”, cada uma sob o comando de um “Comandante de Zona Fortificada”, e os “Centros de Resistência Locais”, cada um sob o comando de um “Comandante de Batalha”. As “Zonas Fortificadas” cumprirão as funções das antigas fortalezas. Assegurarão que o inimigo não ocupe essas áreas de importância operativa decisiva. Permitirão que elas sejam cercadas, comprometendo, em conseqüência, o maior número possível de forças inimigas e criarão assim as condições favoráveis para contra-ataques vitoriosos. Os “Centros de Resistência Locais” compreenderão os redutos localizados na retaguarda da frente de batalha. Estes serão tenazmente defendidos no caso de produzir-se uma penetração inimiga. Ao serem incluídos na linha principal de luta, atuarão como reserva da defesa e, no caso de rompimento inimigo, servirão como guarda-flancos da frente, a partir dos quais se poderão lançar contra-ataques. 2. Cada “Comandante de Zona Fortificada” será um soldado enérgico e especialmente selecionado, preferencialmente do posto de general. Será designado pelo grupo de exércitos correspondente. Estes comandantes serão responsáveis ante o comandante-chefe do grupo de exércitos. Os “Comandantes de Zonas Fortificadas” comprometerão sua honra de soldados no cumprimento do seu dever até o fim. Somente o comandante-chefe do grupo de exércitos poderá, com minha aprovação, dispensar de seu dever ao “Comandante de Zona Fortificada” e, talvez, ordenar a rendição da zona fortificada. Além da guarnição e suas forças de segurança, todas as pessoas que vivam numa zona fortificada ou tenham sido concentradas ali, se encontram sob a ordem do comandante, tanto soldados como civis, seja qual for o posto ou situação. O “Comandante de Zona Fortificada” tem os direitos militares e as faculdades disciplinárias de um comandante geral. Para o cumprimento do seu dever terá à sua disposição cortes marciais e civis móveis. 3. A guarnição de uma zona fortificada compreende: a guarnição de segurança e a guarnição geral A guarnição de segurança deve permanecer sempre dentro da zona fortificada. Seu poderio será fixado pelo comandante-chefe do grupo de exércitos e será determinado pela extensão de área e as missões a cumprir (preparação e terminação das defesas, vigilância da zona fortificada contra incursões ou ataques locais do inimigo). A guarnição geral deve ser colocada à disposição do comandante de zona com suficiente antecedência para que as tropas ocupem as posições defensivas e se encontrem prontas quando um ataque inimigo ameaçar se desencadear. Seu poderio será fixado pelo comandante-chefe do grupo de exércitos, de acordo com a extensão da zona fortificada e a missão que deve cumprir (defesa total da zona fortificada). 4. O “Comandante de Batalha” fica colocado sob as ordens do comandante das forças locais. Será designado por ele, e a ele estará subordinado. Seu posto dependerá da importância da posição na zona de batalha e do poderio da guarnição. Seus deveres exigem que seja um oficial enérgico, cujas condições tenham sido testadas em situações críticas. 5. O poderio das guarnições de um “Centro de Resistência Local” será determinado pela importância da posição e das forças disponíveis. Receberá suas ordens das autoridades às quais estará subordinado o “Comandante de Batalha”. Adolf Hitler “Apenas eu tenho autoridade” O Marechal von Manstein descreve em suas Memórias os pormenores da entrevista que manteve com Hitler, nos primeiros dias de janeiro de 1944, com o propósito de obter que o Führer renunciasse à condução direta da guerra e cedesse o comando das operações a um chefe militar. “Diante da numerosa assistência que na hora do “relatório diário da situação” assistia a estas discussões, nenhum êxito eu podia esperar do prolongamento dos debates; solicitei, então, ser recebido por Hitler, na presença tão-somente do Chefe do Estado-Maior-Geral. Visivelmente enfadado e receoso das minhas intenções, afinal concordou em escutar-me... “Quando todos, exceto o General Zeitzler, tinham abandonado a sala, eu me dirigi a Hitler, solicitando vênia para falar-lhe com inteira franqueza. Ostensivamente frio e áspero, respondeu seco: “Diga”. Comecei com estas palavras: “É preciso reconhecer, meu Führer, que a situação crítica em que nos encontramos por toda a parte não deve ser imputada inteiramente à inegável superioridade do inimigo; é conseqüência, também, da forma por que conduzimos a guerra”. Apenas disse isso, as feições de Hitler endureceram subitamente. Seus olhos se cravaram nos meus com uma expressão tão enérgica que eu disse para mim mesmo: Agora pretende subjugar tua vontade e anular tua decisão de continuar por esse caminho... Eu não me lembro de ter observado, em toda a minha vida, um olhar mais senhor da sua própria vontade. A propósito, me vem à lembrança o que um dos embaixadores credenciados em Berlim, escreveu, sobre a impressão que lhe havia causado o primeiro encontro com Hitler; assegura que era incrível o poder dos seus olhos... A verdade é que no seu rosto, demasiadamente rude, os olhos constituíam o único atrativo, e eram bastante expressivos. Como um relâmpago cruzou a minha mente a imagem do índio encantador de serpentes. Foi uma luta surda essa nossa, de apenas alguns segundos... Contudo, continuei o meu discurso, encarecendo que a forma como o comando funcionava entre nós era inadmissível, e eu era obrigado a insistir na proposta que, por duas vezes antes, já havia feito: a de que Hitler necessitava de um chefe de Estado-Maior para a condução total da guerra, porém, um chefe autenticamente responsável, a cujo exclusivo conselho seria submetido o comando militar. Depois, como conseqüência dessa instituição, seria nomeado também um comando-supremo na Frente Oriental, que gozasse de plena independência dentro do âmbito do comando conjunto. Da mesma forma que nas duas ocasiões precedentes, em que procurara fazê-lo compreender a necessidade de uma profunda modificação na sua maneira de exercer o comando militar (se não formalmente, no aspecto prático era a mesma coisa que aconselhar-lhe que se demitisse), Hitler repudiava abertamente a solução. Opunha como argumento capital o fato de que somente ele, com todos os recursos do Reich em suas mãos, podia comandar eficientemente o setor militar também, porque nenhum outro profissional possuía elementos como ele, para decidir quais e quantas eram as forças disponíveis para os diversos cenários da guerra e, conseqüentemente, a possibilidade de ação. Nem tampouco Goering jamais se submeteria - alegava - às ordens de quem quer que não fosse Hitler. Quanto à nomeação de um comandante-supremo para o Leste, atacou-me aos brados: “Se nem a mim os marechais obedecem! Acaso pensa que a outro, por exemplo ao senhor, iam obedecer? Afinal de contas, eu posso destituí-los, e ninguém além de mim tem autoridade para isso!”. Minha resposta de que as ordens que eu desse seriam obedecidas, aceitou-as tacitamente, mas suspendeu, ao mesmo tempo, a entrevista. Pela terceira vez, eu havia fracassado...”.
Posted on: Sun, 25 Aug 2013 00:52:00 +0000

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