Ediléia. mulher negra de uns 50 anos, criou 3 filhx sozinha e foi taxada de prostituta por ser mãe solteira. já teve conflitos com a polícia, foi presa e solta em 15 dias. já trabalhou como empregada doméstica, mas cansou do trabalho e foi morar na rua. Ediléia me contou tudo isso na parada de onibus onde ela dormia no último mês, em frente a barreiros, na df-140, perto do rio onde ela ia lavar roupa todos os dias, perto das beiras da estrada onde ela cozinhava todos dias. dizia ela que não precisava de nada, que tinha decidido estar na rua pra secar, pra resolver um mal de família, que não queria voltar a trabalhar de empregada doméstica, e que estava bem assim, que já tinha estado na rua em outro momento, ficou uns 5 meses e tinha resolvido. edileia não tinha medo, se sentia protegida de alguma maneira. não vi edileia essa semana. no onibus e no posto de gasolina, a população fala que ela foi assassinada, que passou uma moto ou um carro e disparou nela. não encontro nenhuma notícia do assassinato de edileia, muitas coisas passam pela cabeça: acerto de contas? de que contas? algum morador próximo com incomodado com a presença de uma moradora de rua livre perto de sua residência? alguém de longe que passou e que se incomodou com a moradora de rua? não sei o que pensou a pessoa que atirou na edileia, só sei que me revolta não ter uma notícia sequer, me entristece que não possa mais conversar com edileia e que ela não terminou de secar como gostaria, me deixa com raiva pensar que nessa cidade com condições sociais tão difíceis aquelas que vão morar na rua não possam ser minimamente respeitadas, como pessoas e não pelo que tem de material. me revolta profundamente que o assassinado de ediléia esteja completamente impune. edileia, mulher sábia, você estará viva na minha memória.
Posted on: Fri, 13 Sep 2013 18:23:13 +0000
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