Em 1618 a nobreza da Boêmia tomou coragem, decidiu defender suas - TopicsExpress



          

Em 1618 a nobreza da Boêmia tomou coragem, decidiu defender suas liberdades religiosas, e, furiosa contra o imperador sentado em seu trono vienense, jogou por uma janela do Hradchine dois de seus eminentes representantes. Foi assim que começou a guerra dos Trinta Anos, que provocou a destruição quase total do povo tcheco. Deveriam os tchecos ter sido, então, mais prudentes que corajosos? A resposta parece fácil, mas não é. Trezentos e vinte anos mais tarde, em 1938, depois da conferência de Munique, o mundo inteiro resolveu sacrificar o país dos tchecos a Hitler. Deveriam eles naquele momento ter lutado sozinhos contra um inimigo oito vezes superior em número? Ao contrário do que tinham feito em 1618, revelaram então mais prudência do que coragem. A capitulação deles marcou o começo da Segunda Guerra Mundial, que consolidou por muitos decênios ou por muitos séculos a perda definitiva de sua liberdade como nação. Teriam na época mais necessidade de coragem do que de prudência? O que deveriam ter feito? Se a história tcheca pudesse se repetir, seria interessante experimentar a cada vez a outra eventualidade, e em seguida comparar os dois resultados. Como essa experiência não pode ser feita, todos os raciocínios são apenas um jogo de hipóteses. Einmal ist keinmal. Uma vez não conta. Uma vez é nunca. A história da Boêmia não vai se repetir uma segunda vez, nem a história da Europa. A história da Boêmia e a história da Europa são dois esboços que a inexperiência fatal da humanidade traçou. A história é tão leve quanto a vida do individuo, insustentavelmente leve, leve como uma pluma, como uma poeira que voa, como uma coisa que vai desaparecer amanhã. (Milan Kundera – A insustentável leveza do ser)
Posted on: Mon, 18 Nov 2013 22:39:23 +0000

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