Em seu famoso ensaio O mal-estar da civilização, Freud diz que - TopicsExpress



          

Em seu famoso ensaio O mal-estar da civilização, Freud diz que “... o que chamamos de nossa civilização é em grande parte responsável por nossa desgraça e que seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas.” Para o psicanalista, a civilização é um lugar de constante conflito entre a liberdade individual e as necessidades do grupo. Por isso, a felicidade é sempre algo episódico e não permanente. O indivíduo civilizado está constantemente submetido à perda. Inserido na coletividade, ele necessita submeter-se às leis que regem o grupo e moldam ações, desde as mais gerais até as mais íntimas. Desse modo, há uma espécie de direito de poder da comunidade sobre o indivíduo. Este deve sacrificar seus instintos e restringir sua satisfação para que o grupo seja perpetuado. Em nome da coletividade, o ser humano civilizado tem que se permitir um controle de seus desejos e de seus atos. Na Grécia antiga, a pólis (ou a cidade) era considerada o lugar ideal. Era o lugar onde o homem da aristocracia mostrava sua honra e força física estando integrado a um conjunto de relações sociais que o conferiam um certo grau de poder e liberdade de ação política. Séculos mais adiante, o imaginário iluminista constrói uma concepção da cidade como lugar ideal de progresso. Para os iluministas, a cidade era onde o progresso conduziria o indivíduo à felicidade pelo uso efetivo da racionalidade. Tais concepções da cidade como esse lugar ideal sucumbe drasticamente com o advento da modernidade. No mundo moderno, a suposta liberdade e felicidade da vida citadina cede lugar ao automatismo e à coisificação. Na cidade moderna, a individualidade é reduzida ao adestramento do movimento da multidão que se desloca mecanicamente para sua rotina de trabalho. Benjamim (2000, p.124) descreve a multidão como algo que despertava medo, repugnância e horror naqueles que a viam pela primeira vez. Nesse momento, o ser humano se entrega à mecanização e à disciplina. A multidão é o lugar da uniformidade dos gestos e das ações, é onde as pessoas se inserem cegamente na cruel lógica capitalista e abdicam de suas vidas. Assim diz ainda Benjamim (p. 126): “À vivência do choque, sentida pelo transeunte na multidão, corresponde a vivência do operário com a máquina.” Da mesma forma que a máquina na indústria, os transeuntes automatizavam-se, eles se deixavam conduzir pela disciplina e pela selvageria da ação massificada. Esse era o cenário incipiente (final do século XVIII) do que até hoje se chama de metrópole moderna. Baudelaire foi um poeta escreveu de forma magnífica essa transformação da cidade. Ele viveu em Paris no tempo das reformas urbanas e da consolidação do capitalismo. Em seu poema, Sonho Parisiense, ele escreve: O sono engendra assombros vários! / Por capricho singular / Banira eu já desses cenários / O vegetal irregular. Mais não somente uma modificação física acontecera: Quando meus olhos eu reabri / O horror surgiu numa visão, / E na minha alma eis que senti / O gume agudo da aflição. Como se vê, o poeta não se limita a admirar cegamente a transformação; algo a mais mudou: além do cenário, a dinâmica das relações também sofreu alteração. Contudo, o progresso, que supostamente levaria o ser humano a ter uma vida melhor, trouxe a exclusão, a massificação ou, como diz Baudelaire, o horror e a aflição. Bueno (2000, p. 92) enfatiza o fato de que a aposta de um progresso infinito, no sentido positivo e linear da história, rumo a uma sociedade coesa e igualitária nunca foi alcançada. Essa aposta é, na verdade, uma promessa de felicidade sempre adiada. A urbanização, ocorrida no decorrer dos vários anos, foi um processo negativo, pois exigiu do trabalhador sacrifício, renúncia, trabalho dobrado e aceitação do que é negado em prol de um estado de vida melhor que nunca ocorreu e que se sempre se projeta para o futuro. Na sociedade urbana, a idealização de um progresso por meio do capitalismo exerceu uma grande força na condução das ações e do sentimento social. Contudo, tal idealização sucumbe diante de realidade que escraviza o indivíduo e o transforma em mercadoria. No elo social, o trabalho é agente alienador; ele adestra o trabalhador e o torna dependente da miséria. Na cidade, não há uma vontade consciente, mas estranheza ou estranhamento criado pela divisão de trabalho, pelo sistema produtor de mercadorias e pelo fetiche da mercadoria. Nesse cenário, o homem urbano é isolado ou absorvido na massa, um alguém alienado, estranho a si mesmo e ao mundo em que habita. Nessa ordem do caos e do estranhamento urbano, todo um sistema para a manutenção da ordem é realizado. Até mesmo a cultura possui esse papel. Adorno, em sua obra Dialética do Esclarecimento, diz: “A cultura sempre contribuiu para domar os instintos revolucionários e, não apenas os bárbaros. A cultura industrializada faz algo a mais. Ela exercita o indivíduo no preenchimento da condição sob a qual ele está autorizado a levar essa vida inexorável.” (p.143) Diz ainda: “Ao serem reproduzidas, as situações desesperadas que estão sempre a desgastar os espectadores em seu dia-a-dia tornam-se, não se sabe como, a promessa de que é possível continuar a viver.” (ibid.) Na sociedade urbana, onde a desigualdade e o conflito se manifestam cruelmente sobre o trabalhador, deve-se impedir qualquer atitude que modifique a estrutura. Esta é a lógica da cidade e da civilização. É, justamente, inserido nessa lógica dos caos, do conflito, do estranhamento, do horror, da aflição e da impossibilidade, que a discussão dos romances de Camus irão se desenvolver. Como já foi dito anteriormente, os personagens das obras em questão são homens da cidade. Suas vidas estão entregues a um jogo de conexões que engendram uma relação de distúrbio entre a liberdade individual e a força de coesão que rege o processo de inserção do indivíduo na civilização. Relacionando civilização, a cidade como parte do processo e a cerveja, o Homem conhece o processo de fermentação há mais de 10.000 anos e obtinha nessa época, mesmo em pequenas quantidades, as primeiras bebidas alcoólicas. Especula-se que a cerveja, assim como o vinho, tenha sido descoberta acidentalmente, provavelmente fruto da fermentação não induzida de algum cereal. Afirma-se que a descoberta da cerveja se deu pouco tempo depois do surgimento do pão. Os sumérios e outros povos teriam percebido que a massa do pão, quando molhada, fermentava, ficando ainda melhor. Assim teria aparecido uma espécie primitiva de cerveja, como "pão líquido". Várias vezes repetido e até melhorado, este processo deu origem a um género de cerveja que os sumérios consideravam uma “bebida divina”, a qual era, por vezes, oferecida aos seus deuses. Diversos estudos arqueológicos realizados na região do Nilo Azul, actual Sudão, comprovaram que, cerca de 7000 a.C., os povos locais produziam uma bebida a partir de sorgo que seria semelhante à nossa cerveja. Análises químicas efectuadas aos depósitos residuais do fundo de um pote recolhido num campo arqueológico neolítico iraniano, datado de 5500 a.C., confirmaram a existência local de bebidas alcoólicas e especificamente de cerveja. Mas a prova arqueológica mais concreta que temos relativamente à produção de cerveja é proveniente da Mesopotâmia, mais propriamente da Suméria. Tratam-se de inscrições feitas numa pedra, relativas a um cereal que se utilizava em algo similar à produção de cerveja. Também desta civilização foi encontrada uma placa de barro (selo), recolhida em Tepe Gawra e datada de cerca de 4000 a.C., onde se vêm duas figuras que bebem possivelmente cerveja de um pote, utilizando para isso longas palhas, tradicionalmente usadas para aspirar a bebida e evitar a ingestão dos resíduos de cereal. Aliás, o Hino a Ninkasi (c. de 1900-1800 a.C.), a deusa da cerveja dos Sumérios é, na realidade, uma receita de cerveja. Refira-se, por curiosidade, que Ninkasi significa algo como "senhora que enche a boca". A nomeação mais corrente da cerveja suméria é sikaru, feita a partir da fermentação de grãos de cereal. Se a cerveja ajudou a nos agruparmos para produzí-la, nos ajuda a suportar o grupo e o conflito entre a individualidade e o social. Vou comemorar com bastante cerveja! Saudades da Cidade Branca, do calor e do calor das pessoas... PARABÉNS CORUMBÁ!
Posted on: Sat, 21 Sep 2013 11:31:25 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015