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Escrevi estes singelos versos sobre Joaquín Torres García para um álbum (centrado na vida-obra do artista uruguaio) da coleção O OLHAR APRENDIZ, destinado ao Setor de Arte-Educação do MON, em Curitiba. Seguem agora para o Eduardo, filho da Edijane (que me ajudou a cuidar do meu pequeno Jero). AS ARTES NA VIDA DE UM CERTO JOAQUÍN Mais de cem anos atrás ( ou, para ser mais exato, em "um-oito-sete-quatro") nascia, em Montevidéu – num dia em que a ventania girava até carrossel –, Joaquín Torres García. Seu pai foi um espanhol que embarcou para o Uruguai atrás de um lugar ao sol. Morava em Montevidéu, e era dono de um armazém e de uma carpintaria na Plaza de las Carretas. Era cheia de andarilhos a Plaza de las Carretas; cheia de sons, de cantigas, carneiros, cestas de milho, camponeses das antigas, e de alguns índios, também. Dessa praça, Joaquín foi descobrindo seu mundo. Os olhos desse menino, transparentes, de tão claros, adoravam ver os aros das carroças que rodavam range-rangendo bem fino. No meio do alvoroço, dos cavaleiros de poncho que tocavam acordeom, o pequeno Joaquín talvez visse um arlequim dançando torto, meio troncho, sobre uma sela marrom. Depois, entre um som e um tom, o pequeno Joaquín talvez visse outro arlequim colorido com as paletas da Plaza de las Carretas. Logo descobriu seu dom: perguntar o que era a arte que existe em toda parte, com uma curiosidade que não se vê nem em Marte... Brincando de carpinteiro cortava uma e outra peça encaixando-as, sem pressa. Com um círculo, um quadrado – talvez sem régua ou compasso –, foi montando, passo a passo, o seu mundo imaginado. Como nem tudo são flores, como o sol nem sempre brilha, o Uruguai entra em crise (como a Lua sob o eclipse...). Já com dezessete anos, ouve do pai algo assim: “Se tu para a Espanha fores verás o que é maravilha, caro filho Joaquín...” Sem dinheiro, mas com planos, embarca com a família num desses grandes vapores com chaminés de duas cores. E então, depois de três anos morando no Velho Mundo, seu pai exige saber (pois todo bolso tem fundo...) que ofício vai escolher. “Já escolhi. Vou ser pintor”, diz Joaquín, sem temor. A partir desse momento Joaquín Torres García vai cultivar seu talento: aluno da academia, estuda a arte egípcia e a arte grega antiga. Pensa na imitação, na invenção, na abstração. Lê um tanto de poesia e outro de filosofia, vai da pintura rupestre até o clássico mestre. Vendo a arte primitiva, que mostra a coisa inteirinha com poucas formas e linhas, pensa que ela é meio eterna pois “vive” na arte moderna (ao menos, nas entrelinhas...). Entre desenho e aquarela, afresco e pintura em tela, ele ainda encontra tempo pra pedir a mão da bela Manolita em casamento... Então viaja a Paris, Bruxelas, Roma e Florença, faz várias exposições, e escreve tudo que pensa. Mas é lá mesmo, na Espanha, que constrói a própria casa (na cidade de Tarrasa). Nesses tempos ele cria os brinquedos de madeira, mas com o pouco que ganha e sua pintura à beira de uma grande mudança, Joaquín Torres García, com Manolita e as crianças, parte pra outro país. Em Nova York, Joaquín gosta tanto da cidade, que até o seu pincel vibra na velocidade da terra do arranha-céu. Depois de dois anos lá – meio peixe fora d’água –, vê que era fogo-de-palha... E se muda para a Itália, fabricando em grande escala seus juguetes da Aladdin. Mas só na França que amava (na Paris dos anos vinte e na virada dos trinta), o artista enfim se depara com a pergunta que buscava (pois uma boa pergunta é metade da resposta...) Essa pergunta o levara a gastar quilos de tinta, a escrever livro após livro – à procura de um caminho que, afinal, devagarinho, o levou ao “construtivo”. Se criasse sua arte só com formas abstratas que faria se quisesse expressar coisas concretas? Conhecera Mondrian, que era neoplasticista (um artista abstrato de tipo construtivista). Como um equilibrista que sobre a corda esticada caminha com pés de lã, Mondrian só usava retas – verticais, horizontais –, e além das cores primárias, o preto e o branco, mais nada. E figuras? Nem pensar! Só se forem geométricas... Suas pinturas são tão planas que parecem estar paradas (como planos matemáticos de cidades ideais). Já em Torres García as telas parecem ter movimento, e suas pinceladas lembram a liberdade da mão. Suas cores não respeitam os contornos do desenho, e saem fora das bordas causando uma “vibração” (assim como o equilibrista – com toda arte e engenho – balança na corda bamba). Nesse tempo suas pinturas são como estruturas “vivas” (feito aquele cata-vento que, se sopramos direito, parece inventar o vento). Como as peças de uma casa, suas obras abrem “janelas” para o símbolo e a palavra. Suas obras abrem “portas” por onde fluem as formas. E também lembram “gavetas” onde guardamos lembranças. E também lembram os “nichos” de imagens santas, amém. E não lembram as prateleiras daquele antigo armazém na Plaza de las Carretas...? Volta para sua cidade, e é tão bem recebido que fica até comovido. Pois agora, na verdade, Ele era o maior artista Do Uruguai, desde a Conquista... Constrói, no Parque Rodó, um monumento em granito, que pra ele não foi só (como alguns dizem) um “bico” para ir “tocando o barco”, mas um verdadeiro marco de seu sonho construtivo. E alguns anos mais tarde ainda criou uma escola – o Taller Torres García – onde a arte estava viva (sem o “formol” da academia) e onde não havia “cola”! Lá nem tudo era memória... Bem, e o resto... o resto é história. Depois da longa viagem Entre o antigo e o moderno ele se descobre... eterno. Num dia azul de um agosto o grande Torres García morre em Montevidéu, talvez sonhando com o rosto de um velho arlequim (daquela carpintaria) desengonçando no céu.
Posted on: Thu, 01 Aug 2013 03:03:26 +0000

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