Estive Paris e lembrei de vocês Cansado de tantas - TopicsExpress



          

Estive Paris e lembrei de vocês Cansado de tantas manifestações, de quebra-quebras, de fora Cabral, de greves, de fora Dilma e de cadê Amarildo. Cansado também de ouvir que fulano é corrupto, que sicrana é puta e que beltrano é viado. Cansado das maldades do Felix, dos bate-bocas do Barbosa com o Lewandovski, da inflação, do Pibinho, do dólar subindo todos os dias. Cansado da queda do IBOVEPA e da quebra do Eike Baptista.Resolvi dar um FORA DIOGO. Para onde vou? Primeiro pensei passar uns dias em Maricá. Lembrei dos engarrafamentos da Alameda e das nomeações do Qua-Qua, desisti. Que tal Iguaba? Pedágio caríssimo para banhar-se numa lagoa. Nem Pensar. E Rio das Ostras? Poderia passear nas calçadas de porcelanato e nas ruas iluminadas com lâmpadas de LED. Não dá, muito desperdício do dinheiro dos royalties do petróleo. Aproveitei a promoção da aérea francesa. Dez por cento de entrada e o restante em sessenta suaves prestações com juros de 5% ao mês. Calculei. Conta final! Quase uma viagem à lua pela Space X, mas Paris é Paris Hilton e vale qualquer sacrifício. Num site de reservas de hotéis consegui uma ótima pechincha de hospedagem. Cheguei em Paris no CDG. Mais uma hora e trinta e cinco minutos de trem, mais 32 minutos de metrô, mais 35 minutos de ônibus e mais 25 minutos à pé, cheguei quase na fronteira com a Bélgica. Lá estava meu hotel. Afinal, Paris é Paris e merece qualquer sacrifício para chegarmos lá. Depois da maratona, cheguei no Hotel Des Petit Chambre na Rue Des Brasiliens Sans D´Argent 69. Pensei, como não sei francês, finalmente homenagearam um herói brasileiro com um nome de rua por aqui, mas não conheço este herói Sans D´Argent. Na verdade não conheço nenhum herói brasileiro, a não ser o próprio povo brasileiro. Pensei mais ainda. Hotel que tem peti no nome, que remete à bagunça, pirraça e também tem chambre, que me lembra roupa de dormir e além disso com número 69 da rua, espetáculo. Vai rolar um bundalelê neste hotel e vou me dar bem. Entrei na farmácia em frente ao hotel e reforcei meu estoque de Viagra e camisinhas. Paguei a conta e não olhei o pacote, mas acho que meu pedido está no pacote. Com meu francês ruim, não tive coragem de conferir a compra. Entrei no hotel e com meu sofrível francês e me dirigi à simpática senhora que estava na recepção. Me chamou à atenção seu bigode, o chumaço de pêlos que saía pelos sovacos da senhora e os pêlos de suas pernas que mais parecia o peito do Toni Ramos. Caprichei no francês e disse: - Bonjour Madame! Ela me fitou com aquela sua cara bigoduda e num grunhido sussurrou: - Mademoiselle! E eu, a contragosto disse: - Pardon. Mademoiselle, Toni Ramô! Por mim, aquela mulher peluda ficaria para sempre mademoiselle. Outra vez ela se dirige a mim e noutro grunhido diz: - Checkin às 16 horas e check-out às 8 horas! Ela abaixa a cabeça e continua a ler uma espécie de almanaque. Bem, não me resta outra coisa a não ser ficar sentado e esperar a hora do check-in. Quando dá 16 horas, ela me entrega a chave do apartamento. Olho e vejo que meu deu a chave do aposento de número 767. Penso eu, deve ser alguma homenagem a algum modelo de avião da Boeing. Pego minha mala, que nestas alturas já havia perdido três das quatro rodinhas e já não fazia mais toc-toc vrumm... toc-toc, vrumm. Além das rodas, minha mala também perdeu a alça. Me abracei com minha mala sem alça – não era a primeira e nem será a última vez que me abraço com uma mala sem alça -. Procuro o elevador e não o encontro. Grito: - Mademoiselle, ónde estay the elevateur? Acho que ela entendeu e respondeu: -Cest hotel sans ascenceur. Go to upstair! Depois de subir sete andares abraçado com uma mala sem alça, cheguei no quarto e aí entendi o porquê do nome do hotel. O quarto era minúsculo, mal cabia a cama e minha malinha sem alça. Se eu abria os braços, a mão saía pela janela, se esticava as pernas, dava com o calcanhar na parede. Depois disso, só um bom banho. O banheiro era um quadradinho de setenta por setenta centímetros. Queria ver a Mc Anitta fazer um quadradinho de oito naquele banheiro, iria ficar literalmente com o rabo preso. O vaso sanitário, a pia e a ducha ocupavam a mesma área. Um em cima do outro. E a ducha, como os franceses gostam destas duchas. Quando abri a ducha, depois de trinta minutos para regular a temperatura da água, parecia uma perereca loca em minhas mãos. Tentava lavar o rosto, lavava a bunda, queria lavar a bunda e a água escorria para baixo do sovaco. Nada do que pensei antes iria acontecer. Me arrependi de ter gastado tanto naquela farmácia, mas um homem prevenido vale por dois. Olho para o lado e vejo minha mala torta, tentando se equilibrar numa só rodinha. Estava capenga e renga ao mesmo tempo. Em cima dela, meu estoque de camisinhas e um envelope de Viagra. Adormeço. Muito cedo, acho que deveria ser uma sete horas da manhã. Acordo com um barulho de toc-toc, toc-toc. Penso: minha mala recuperou as rodinhas e está indo embora. Não, não era isso. Alguém batia na porta. Levantei. Abri a porta. Dei um grito com o susto que levei. Que demônio era aquele? Seria a morte que veio me buscar? Não. Era a mademoiselle Toni Ramos com uma vassoura numa mão, um balde na outra e um pano de chão na cabeça como se fora um lenço de portuguesa viúva. Entre os dentes ela me diz com sua habitual simpatia que tinha que fazer a limpeza da chambre. Puta que pariu! Limpeza naquela hora da manhã? Afinal estava em Paris e Paris é Paris e vale qualquer sacrifício. Já que fui acordado de madrugada, aproveitei e peguei o rumo para o centrão de Paris. Com sorte e muita paciência, chego na Torre Eifell na hora do almoço. Pensei outra vez: como pode uma cidade tão linda ter um trambolhão destes que é a Torre Eifell nos meio daquelas jardins maravilhoso. Aquilo aqui no Brasil seria a redenção dos ferro-velhos. Aproveitei a promoção e comprei o ingresso para subir na Torre por cinco euros. Claro, não me disseram que este ingresso não dava direito a usar o elevador. Fui subindo, tomando fôlego, parando, contando degraus e depois de tanto assoprar e botar as mãos no peito, chego no Deuxemme Étage. Parei por ali, até por que não havia mais escadas para o Troisemme Étage e para lá só de elevador e por 30 euros. Na descida da Torre, contemplando as belezas de Paris lá do alto e pensando nas contas que tenho que pagar quando voltar ao Rio, meu silêncio é quebrado por um bando de ingleses bêbados e drogados que sobem os degraus correndo só de cuecas. Pelo que vi, era todas cuecas Calvin Klein e Armani. E se eu tirasse minha calça e descesse correndo aquelas escadas só com minha cueca Zorba? Faria o mesmo sucesso dos ingleses? Acho que não. Cueca Zorba em Paris é off. Talvez, se fosse uma Lupo talvez eu arriscaria. Da Torre sigo para a Avenue Des Champs-Elisee. Nossa, quanta promoção naquelas lojinhas! Fila na Louis Vuilton para comprar conjunto de três malas pelo equivalente a 50 mil reais. Na Hugo Boss dois políticos brasileiros disputam no tapa um terno pelo módica quantia de 12 mil reais. Na LÓreal, outros políticos nacionais na fila para comprar tintura de cabelo na promoção para a cor acajú, produto que além dos cabelos, podem ser usados no bigode e nas sobrancelhas. Político brasileiro adora pintar o bigode e sobrancelhas na mesma cor dos cabelos. Será que a LÓreal tem tintura para pentelhos? Na Haggen Dass, uma bolinha de sorvete por 30 reais. Irresistível um sorvetinho com este calor todo do verão de Paris. Mais adiante, na Gucci duas brasileiras e três turcas batem boca pela disputa de uma bolsa que está à venda por 13 mil reais. Faminto e antes que eu gaste meus míseros eurinhos nestas promoções, entro num restaurante e peço um steak com pomme frites, um café e a conta e lá se foi minha cota do dia, duzentos reais. Ainda bem que tenho um bilhete único para voltar ao hotel. Saio à rua, pelo calçadão da Champs Elisee, outro susto. Um barulho ensurdecedor. Imagino um jato sírio bombardeando Paris com alguma arma química. Nada disso, era apenas uma Ferrari vermelha que passou com aquele ronco característico e logo atrás dela, num pega frenético, uma Lamborghini amarela roncando ainda mais alto. Não poderia deixar de ir à Pont Des Arts colocar um cadeado com diversos nomes que minha sobrinha pediu que eu fizera. Vai que ela se arrepende da mandinga e pede para eu retirar o cadeado e, sem a cópia da chave, tenho que levar uma serrinha. Pelas dúvidas, joguei uma chave no Sena e a outra no bolso. E assim foram meus dias, uma ida aqui, outra acolá, pouco dinheiro, me sentindo pobre mas feliz porque estava em Paris e Paris é Paris. Com ou sem dinheiro, estive em Paris e lembrei de vocês.
Posted on: Mon, 07 Oct 2013 02:18:05 +0000

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