Excelente texto do amigo Fernando Timba para o dia de ontem: consciência negra. Eu tinha 16 anos em 1992, e antes disso o único negro que me lembrava ver protagonizando um filme era o Kunta Kinté, personagem de uma série de televisão da década de 80. A cinebiografia do Malcolm X, do Spike Lee, mudou minha vida por 2 motivos. Primeiro, ele não era um personagem de ficção, segundo por ter escolhido apagar seu sobrenome e com isso tornar claro que nossa história foi apagada pela escravidão. Sempre achei engraçado quando ouvia alguém falar da origem da sua família, se vinha de alguma parte de Europa, de que país e de que cidade precisamente. Apenas pela cor da minha pele sei de onde vim, pois não me restou uma referência de origem, um sobrenome. Aprendi com ele a não normalizar quando via uma maioria branca nas universidades, trabalhos e principalmente entre artistas. Essa é uma condição construída e que muitos temem perder. Toda vez que ouço um comentário irônico ou maldoso sobre o sistema de cotas, e principalmente quando ele vem acompanhado de uma frase como – Isso foi há tanto tempo, eu não tenho culpa, penso em como essa pessoa é mesquinha e acredita que tudo que ela herdará, seu apartamento ou a educação dos seus pais e avós, é puro mérito. Sua herança foi conquistada com o sangue dos meus antepassados. Não existe riqueza sem exploração. Essa é a conscientização que espero que seja alcançada por negros como eu no dia de hoje. E que dessa consciência possamos reconstruir nossa história.
Posted on: Thu, 21 Nov 2013 13:42:15 +0000
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