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FACULDADE UNIÃO ARARUAMA DE ENSINO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM HISTÓRIA E FUNDAMENTOS DA ENFERMAGEM AULA: CAMINHANDO PELA HISTÓRIA DA ENFERMAGEM Prof. Gustavo Suarez ORIGENS DA ENFERMAGEM Segundo Paixão (1979, p.19) “o tratamento do enfermo depende estreitamente do conceito de saúde e de doença. Depende, porém, ainda mais, dos sentimentos de humanidade que nos levam a servir a nosso semelhante, principalmente quando o vemos sofredor e incapaz de prover às próprias necessidades”. Em função dessa afirmativa, vários autores consideram que a MÃE, nas eras mais remotas, tenha sido a primeira ENFERMEIRA da família. Os povos primitivos acreditavam que as doenças eram castigos divinos, e em virtude do tratamento estar associado à este conceito de saúde/doença, procuravam nos sacerdotes ou feiticeiros (primeiros cuidadores da saúde) os instrumentos para resolverem seus problemas de saúde. Estes cuidadores acumulavam as funções de médico, enfermeiro e farmacêuticos, e a terapia aplicada por estes, objetivava: - acalmar as divindades por meio de sacrifícios; - afastar os maus espíritos. Para alcançarem estes objetivos utilizavam-se dos seguintes meios: - massagens; - banhos quentes ou frios; - uso de purgativos; - uso de substâncias provocadoras de náuseas; dentre outros. Ou seja, devería-se tornar o corpo do indivíduo tão desagradável, que os maus espíritos o abandonariam. A medida que estes sacerdotes/feiticeiros, passaram a conhecer e dominar o conhecimento sobre o uso das plantas medicinais,começaram a delegar a outros, seus assistentes, o preparo e a administração desses remédios. Estabelecia-se então, uma diferenciação entre sacerdotes/feiticeiros e seus assistentes, quer seja, os primeiros exercendo funções médicas e o segundo com funções de enfermeiros e farmacêuticos. Existem poucos documentos conhecidos da época que tratavam deste assunto no período antes de Cristo, e os conhecimentos sobre a Enfermagem vem normalmente envolto com os assuntos religiosos, médicos e sociais; e mesmo assim, a Enfermagem está associada em algo de menor valor. O tratamento dos doentes neste período estão registrados em papiros, inscrições, monumentos, ruínas arqueológicas (aquedutos e esgotos), códigos e livros de orientação política e religiosa. O povo egípcio legou os mais remotos documentos sobre a medicina, embora não mencionassem hospitais nem Enfermeiros. Do ano 4688 a.C. ao ano 1552 a.C. foram escritos seis livros sagrados, que retratavam toda a medicina praticada no Egito, incluindo as descrições de doenças, operações e drogas, sendo um dos mais antigos o manuscrito de Imhotep, primeiro autor que menciona o cérebro e o seu controle sobre o corpo. É certo que a medicina egípcia tentava unir as práticas religiosas aos conhecimentos científicos, por isso, em cada templo havia diversas escolas, entre as quais a de medicina, sendo as mais célebres as de Tebas, Mênfis, Saia e Chem. O sacerdote médico tinha o direito de usar o turbante de Osíris e a vestir o manto branco dos sábios. Os egípcios praticavam o hipnotismo, interpretavam os sonhos, admitiam a influência dos astros sobre a saúde, possuíam grande habilidade em embalsamar e fazer ataduras; classificavam o coração como o centro da circulação e o ato respiratório como o mais importante do corpo humano, embora a religião proibisse a dissecção do corpo humano. Assim como todos os povos antigos, os chineses deram um caráter religioso às suas práticas médicas. Os médicos que se destacavam eram considerados como deuses. O diagnóstico era feito principalmente pelo pulso; conheciam a varíola, relataram operações nos casos de lábio leporino, descreveram mais de 2.000 medicamentos, como por exemplo: - o ferro para anemias; - mercúrio para sífilis; - arsênico para dermatoses; - certas raízes para verminoses; - além do ópio como narcótico. A Grécia antiga se notabilizou nos campos da filosofia, das artes, das letras, das ciências e também da medicina. Mesmo no período empírico e mitológico, a medicina grega já tinha o seu valor. Depois do surgimento de Hipócrates, que lançou as bases da medicina científica, mais se firmou este povo como autoridade médica. Foi tão importante o papel de Hipócrates, que a medicina grega se divide em dois períodos: antes e depois de Hipócrates. Hipócrates é considerado o pai da medicina, nasceu em 460 a.C., a que se deve a medicina científica, viajou por diversos países e estudou filosofia. Afirmava que deveria-se ter uma observação cuidadosa do doente para o diagnóstico, o prognóstico e a terapêutica, sendo a natureza o melhor remédio, sendo o seu primeiro cuidado não contrariá-la. Descreveu doenças sobre o pulmão, do aparelho digestivo, do sistema nervoso, doenças mentais; praticava a cirurgia, distinguia a cicatrização de primeira e segunda intenções, operava cataratas. Considerava a saúde como o equilíbrio dos humores (sangue, linfa e bile), sendo o desequilíbrio entre os humores a doença, e as causas desses desequilíbrios seriam: o ar viciado, o trabalho excessivo, as emoções, as bruscas alterações da temperatura. O tratamento era baseado na observação clínica rigorosa de sinais e sintomas, e a terapêutica se dava através de massagens, banhos, ginásticas, utilizava-se também de sangrias, ventosas, vomitórios, clisteres e purgativos. Descreveu 236 plantas medicinais e medicamentos minerais, tais como: enxofre, alumínio, chumbo, cobre e arsênico. PERÍODO DA UNIDADE CRISTÃ Paixão (1979, p. 33) afirma que “o advento do Cristianismo, completando a revelação primitiva e realizando a Redenção, constitui a maior e mais profunda revolução social de todos os tempos. Sem intervir diretamente na organização política e social, nela influiu pela reforma dos indivíduos e da família”. Os ensinamentos de Cristo, pregava entre outras coisas, que o serviço prestado aos mais humildes era serviço prestado à Deus, e era obrigação e privilégio dos fortes suportar os fardos dos fracos; inspirando os primeiros cristãos a procurar aqueles que precisassem de ajuda, e ir além dos estreitos limites do próprio lar, cuidando das necessidades físicas e espirituais dos doentes e pobres. São Pedro organizou os diáconos para socorrerem os necessitados, sendo o primeiro diácono São Estevão, que foi apedrejado; e as diaconisas prestavam socorro às mulheres necessitadas, e destacaram-se: Foebe, Maria, Trifena, Trifosa e Priscila. Também participavam socorrendo os pobres e doentes, as viúvas e as virgens que se consagravam à Deus. No início do Cristianismo não existia nenhum serviço organizado de socorro, logo, muito tinha que ser feito. Foi uma verdadeira revolução social, o conjunto de serviços de assistência organizado e mantido pelos primeiros cristãos. Os judeus e os pagãos perseguiram os cristãos até que o Imperador Constantino publicou o Edito de Milão (em 313) e declarou a Igreja livre para exercer as suas atividades. A partir daí, pôde-se organizar melhor este serviço, através dos Bispos nas suas dioceses, organizando hospitais e recolhimentos, além de possibilitar uma grande difusão do cristianismo levando muitas das distintas damas romanas a se dedicarem ao serviço dos pobres e doentes. Entre os homens, a liberdade religiosa inspirou em muitos a idéia de se reunirem em comunidades a serviço da cristandade. O mais célebre organizador de tais instituições foi São Bento, conhecido como o “Pai dos monges do Ocidente”, que viveu no século VI, e rapidamente os mosteiros beneditinos se espalharam pelo mundo, principalmente na Itália, França, Alemanha e Inglaterra, tornando-se centros de grande progresso. Os monges beneditinos além de copiarem manuscritos antigos, organizarem bibliotecas e escolas, cultivavam plantas medicinais e mantinham sempre um hospital para os pobres. Entre os primeiros beneditinos contavam-se dezenas de imperadores, reis e rainhas, que abdicaram para entregarem-se a uma vida mais perfeita. E esta ordem religiosa buscava associar oração e trabalho num equilíbrio, sem excessos ou rigores desfavoráveis à saúde. No período entre os séculos IV e V, ocorreu grande florescimento de hospitais e recolhimentos destinados à doentes, órfãos, velhos, aleijados e peregrinos. Os conventos femininos, na direção destes encontravam-se as abadessas, além de distinguirem nas ciências e nas letras, também contribuíram no progresso dos hospitais e nos cuidados aos doentes. Uma das abadessas que mais se destacaram foi Santa Hildegarda, que nasceu na Alemanha de família nobre e viveu no século XI. Distinguiu-se pelos seus conhecimentos em ciências naturais, medicina e enfermagem, tendo escrito sobre doenças do pulmão, verminose, icterícia e disenteria. Desde o século VII a cidade de Jerusalém estava sob o domínio dos muçulmanos, tendo acarretado por isso, inúmeros problemas aos cristãos que peregrinavam à Terra Santa. Aos poucos a idéia de libertar o túmulo de Cristo foi tomando vulto no meio dos cristãos. Esta foi a origem das expedições militares (Ordens Militares) que ficou conhecida com o nome de Cruzadas, sendo iniciadas no século XI. De acordo com Paixão (1979, p. 39) “esse movimento, por sua vez, deu origem a novas organizações de enfermagem, sob a forma religiosa-militar”. As principais ordens militares foram: os Cavaleiros de São João de Jerusalém (fundaram dois hospitais em Jerusalém); os Cavaleiros de São Lázaro (tratavam de hansenianos); os Cavaleiros Teutônicos. As Cruzadas não lograram êxito de libertar o túmulo de Cristo, mas contribuíram para o ocidente novas possibilidades de comércio e nova fonte de progresso. Paixão (1979, p. 40) afirma que “a paz e a prosperidade de que gozavam os cristãos foi, para muitos, origem da decadência da fé e dos costumes. Baixa de nível moral, e mesmo franca corrupção dos costumes, controvérsias religiosas, alterando em certos grupos a unidade da fé, foram dois males que se acentuaram no início do século XII”. Nesta época, para contrapor a esta realidade surge São Francisco de Assis. Era filho de um comerciante da cidade de Assis (Itália), que não se interessou pelo comércio como desejava o seu pai. Paixão (1979, p. 41) destaca que o mesmo “impressionou-se pelas palvras do Evangelho, que recomendam o desapego às riquezas, resolveu vive-las ao pe da letra”. Muitos viram no seu exemplo uma forma ideal de se viver, e pediram-lhe orientações para viverem do mesmo modo, e assim começou a Ordem dos Frades Menores (Franciscanos). São Francisco não pretendia criar uma ordem para cuidar dos doentes, mas os irmãos começaram a visitar hospitais, dando banho nos doentes, faziam curativos e arrumavam-lhes os leitos. Muitos foram os seus discípulos, e uma jovem, também da cidade de Assis, Clara Sciffi pediu-lhe uma regra semelhante para as moças, e assim criava-se o primeiro convento da 2ª Ordem, depois conhecidas como Clarissas, e que de acordo com os costumes da época, as irmãs não podiam gozar da mesma liberdade que os frades, vivendo em clausura, mas mesmo assim cooperavam no tratamento aos doentes que as procuravam, dando-lhes remédios e fazendo-lhes curativos. O exemplo dessas iniciativas fez com que São Francisco fosse procurado por pessoas casadas ou retidas no mundo por outros deveres, que também queriam participar desta experiência de vida, e assim foi criada a Ordem Terceira, sendo estas de enorme valor para o progresso da Enfermagem, pois buscavam para si o cuidado dos doentes diretamente nos hospitais. PERÍODO CRÍTICO DA ENFERMAGEM “A diminuição do espírito cristão exigia uma reforma, não de sua doutrina,..., mas dos indivíduos, cujo afastamento dos princípios cristãos era causa da decadência geral. A união de esforços e ideais semelhantes levou à criação de novas instituições, ou à reforma de outras, já existentes, de modo a melhor atenderem às necessidades dos tempos. Por outro lado espíritos menos positivos, ao protestar contra abusos, arrastaram a cristandade à quebra de sua unidade. No início do século XVI, Martinho Lutero, monge alemão, lançou o grito de protesto que valeu a ele e a seus adeptos, assim como aos dos muitos grupos que se diferenciaram em seguida, o nome genérico de protestantes. Lutero, na Alemanha; Henrique VIII, na Inglaterra; Calvino, na Suíça, foram os principais chefes que precipitaram diversas nações européias numa reforma cujo maior ponto de contato era sua separação da Igreja de Roma. Com efeito, em pouco tempo, senão desde o início, os três reformadores imprimiram diferentes orientações aos diversos grupos religiosos que dirigiam. Não cabe aqui estudar suas doutrinas, e sim a repercussão desses movimentos sobre a Enfermagem. Como em todo movimento violento, os reformadores foram mais longe do que pretendiam. Assim, renunciando ao Catolicismo, a Alemanha e a Inglaterra... expulsaram dos hospitais as religiosas que se dedicavam aos doentes. Não dispondo logo de nenhuma organização, religiosa ou leiga, para substituí-las, foram obrigadas a fechar grande número de hospitais. Só na Inglaterra foram fechados mais de mil. Entre os restantes, foi preciso, da noite para o dia, recrutar pessoal remunerado para o serviço dos doentes. O serviço era pesado, a remuneração escassa, absoluta a falta de organização e supervisão. O pessoal que se apresentava era o mais baixo da escala social, de duvidosa moralidade. Nessas condições, os mais pobres doentes, enquanto tivessem alguém para cuidá-los em suas próprias casas, mesmo mal alimentados e desprovidos de conforto, recusavam-se a ir para um hospital. Os pretensos enfermeiros desses estabelecimentos deixavam os doentes morrer ao abandono e lhes extorquiam gorjetas, mesmo aos indigentes. Imperava a falta de higiene. A comida era detestável e insuficiente. Não havia quem se interessasse em amenizar os sofrimentos físicos e muito menos os morais. ...Foi, verdadeiramente, o período crítico da enfermagem. Para esclarecer os pontos doutrinários atacados pelos protestantes e tomar as necessárias providências para a reforma dos costumes, foi convocado pelo Papa o Concílio de Trento. Durou a mesmo 18 anos. A questão da assistência aos enfermos foi estudada com grande cuidado. Constam das Atas desse Concílio: recomendação aos bispos para organização, manutenção e fiscalização dos serviços hospitalares; regras a serem observadas pelos que servem aos doentes; orientações para a assistência espiritual nos hospitais, bem como para os religiosos e religiosas a serviço dos doentes. Essas orientações, assim como a reforma do clero e as muitas instituições para melhor formação do povo, foram o ponto de partida de numerosas organizações religiosas dedicadas à enfermagem. Assim, datam do século XVI: Os Irmãos de S. João de Deus, que se dedicavam especialmente aos doentes mentais; os Irmãos de S. Camilo de Lellis, que se prestavam auxílio espiritual e profissional aos doentes; as Irmãs de S. Carlos, as terceiras Franciscanas Regulares, foram entre tantas outras instituições, meios de elevação da enfermagem, ao menos quanto à dedicação. Do ponto de vista técnico e científico, não se cogitava no momento.” PRECURSSORES DA ENFERMAGEM MODERNA No século XVII, a mais importante Ordem Assistencial era a das Irmãs Agostinianas, e trabalhavam no hospital de Paris à época, o Hotel-Dieu. O trabalho de Enfermagem das religiosas era limitado, devido às suas obrigações religiosas, e suas atividades eram dirigidas pelos padres e não por médicos. Não era considerado adequado que as freiras conhecessem muito do corpo de seus pacientes ou de suas doenças, razão pela qual dificultava a eficiência de seus trabalhos. Um padre francês, Vicente de Paula , ficou profundamente interessado nos serviços de caridade, tanto nos hospitais como nas casas dos pobres, e quando em visita ao Hotel-Dieu, impressionou-se grandemente com a necessidade de um serviço mais eficiente. Nesta época, a França, país onde vivia Vicente de Paula, encontrava-se numa grande agitação, devastada pela Guerra dos Trinta Anos, levando à cobrança de excessivos impostos à população. Neste contexto de grande miséria, precária assistência dispensada aos doentes, amargura e revolta da população, o então obscuro sacerdote, Vicente de Paula, começou a criar instituições de caridade, com características novas até então. O início de sua obra deu-se de maneira inesperada. A primeira iniciativa ocorreu na pequena paróquia de Chatillon lès-Dombes, no interior da França, que ao saber que uma família pobre e doente se achava no maior abandono, foi vê-la e recomendou-a à caridade de seus paroquianos. Notando o interesse despertado na comunidade, decidiu coordená-lo para que os socorros não faltassem e fossem distribuídos oportunamente. Alguns dias depois reuniu várias senhoras e propôs-lhes fundarem uma associação para socorrer os doentes da paróquia, estava criado, em agosto de 1617, a Confraria da Caridade, e já em dezembro do mesmo ano era aprovada pelo Arcebispo de Lion. Depois de outras experiências bem sucedidas, e que tiveram boa aceitação, foi chamado a trabalhar em Paris. Na capital a miséria era enorme. Suas primeiras tentativas não lograram o êxito que ocorreram nas aldeias. O avanço da Peste, que invadia hospitais e casebres, assustava os maridos das senhoras da sociedade que estavam associadas nas Confrarias da Caridade. Sendo assim, apesar das grandes esmolas recebidas, faltava pessoal que pudesse atuar junto aos doentes. Esta dificuldade, falta de material humano que prestasse assistência direta aos doentes, fez com que Vicente de Paula junto com Luiza de Marillac criassem o Instituto das Filhas da Caridade em 1633. Pensaram, ambos, em aceitar jovens camponesas que desejassem dedicar-se ao serviço dos doentes e pobres, e as colocaram sob a vigilância das Senhoras da Caridade. A primeira desses jovens foi Margarida Naseau. Esta iniciativa foi uma verdadeira revolução nos costumes e mesmo na legislação canônica da época, pois essas irmãs viveriam em comum, porém sem clausura, e andariam livremente pelas ruas para acudir aos mais abandonados. Dizia Vicente de Paula “as Filhas da Caridade terão por mosteiro as casas dos pobres; por cela um quarto de aluguel; por capela a Igreja paroquial; por claustro, as ruas da cidade; por clausura, a obediência; por grades, o temor de Deus; por ofício, o rosário, e por véu a modéstia”. É importante notar que para o reerguimento da Enfermagem, estabeleceu Vicente de Paula dois pontos de imenso valor: a liberdade de ação de suas Filhas; e a instrução que lhes era dada, para melhor eficiência de seus serviços. Deviam saber ler e escrever, aprendiam os rudimentos da enfermagem da época, e possuíam um programa de ética, e recebiam os esclarecimentos científicos necessários dados por médicos. Outras tentativas existiram, por iniciativas de outros religiosos, mas não tiveram a mesma repercussão da empreendida por São Vicente de Paula. Nos países protestantes, a falta de irmãs fez com que os governos tomassem para si a responsabilidade dos hospitais; a não tendo pessoal qualificado para o tratamento e serviço com os doentes, se serviram de pessoas da mais baixa esfera, sendo o tipo comum das “enfermeiras”, a bêbada, desordeira e de má reputação. Os doentes corriam grandes riscos e perigos, em virtude da conduta dessas pessoas, por isso, somente os mais abandonados eram encaminhados, contra a vontade, a estes lugares aterrorizadores que eram os hospitais. Algumas pessoas de boa vontade tentaram reverter este quadro, mas não lograram tanto sucesso. A iniciativa d maior repercussão ocorreu na Alemanha, e iniciou-se em 1836, quando foi criado o Instituto das Diaconisas em Kaiserswerth, localidade perto de Düsseldorf. Esta tentativa, baseada na primitiva organização das diaconisas, foi desenvolvida pelo Pastor Theodore Fliedner e sua esposa Frederica. Iniciou-se a primeira turma com sete candidatas, e desde o início suas funções eram: atendimento aos doentes no hospital e no domicílio; economia doméstica; assistência a crianças pequenas e visitas religiosas. Essas enfermeiras não faziam votos, não recebiam salários, mas eram mantidas pela instituição para o resto da vida. FLORENCE NIGHTINGALE Inglesa nascida em 12 de maio de 1820 na cidade de Florença (Itália), daí a origem de seu nome, era filha de pais ingleses e de família rica. Sua cultura estava acima entre as moças de sua época. Sua tendência para tratar enfermos manifestou-se ainda na infância, auxiliando uma tia que tratava das pessoas da família que estivessem doentes. Procurava também tratar de crianças e animais doentes. Aos 24 anos de idade, em 1844, quis praticar o cuidado aos doentes em hospitais, mas não foi deixada realizar este desejo pela sua mãe. A preocupação de sua família se dava em virtude de nesta época, o pessoal que cuidava do serviço de enfermagem era dividida em dois grupos distintos: um grupo muito pequeno composto de religiosas católicas e anglicanas que começavam apenas a se organizar; e o segundo grupo, este bastante numeroso, que era formado por pessoas sem educação, sem moral e que na maioria das vezes encontrava-se embriagada. Somente aos 31 anos de idade (1851) conseguiu estagiar durante três meses no Instituto das Diaconisas de Kaiserswerth, localidade perto de Düsseldorf, na Alemanha. Este foi o primeiro momento feliz da sua vida, e como relatou em carta enviada para a sua mãe “Isto é vida. Agora sei o que é viver e amar a vida”. Depois deste período, fez estágio de algumas semanas do Hotel-Dieu em Paris, França, com as Irmãs de Caridade. Realizou diversas viagens ao exterior, e passou a observar a enfermagem em seu país e em outros países, como França, Alemanha, Áustria e Itália, e desde então acalentou o desejo de fundar uma escola de enfermagem em novas bases. Em 1854 eclodiu a Guerra da Criméia , logo as notícias do front não eram nada animadoras, principalmente para os soldados ingleses. Enquanto os soldados franceses e russos eram tratados por Irmãs de Caridade, faltava aos ingleses qualquer organização de enfermagem, e o índice de mortalidade entre os feridos ingleses era de 40%. Diante deste quadro, Florence vislumbrou a oportunidade de prestar os seus serviços, podendo oferecer o mesmo cuidado aos soldados ingleses que era prestados pelas Irmãs de Caridade à soldados de outras nações. E, apesar de uma campanha em contrário, conseguiu arrecadar verba suficiente para custear a ida de 38 voluntárias, entre religiosas e leigas, alem dela própria para Scutari. Evidente que, como era de se esperar foi por demais difícil encontrar um número de enfermeiras experientes e confiáveis, e teve de recusar numerosas ofertas daquelas totalmente destreinadas e inadequadas. Ao chegarem ao Hospital em Scutari, depararam-se com total falta de condição material para o cuidado e conforto dos doentes e feridos, alem de total indiferença e burocracia por parte dos oficiais médicos do exército britânico. Não poupou esforços nem paciência, para que pudesse colocar em prática o seu trabalho bem como o de suas enfermeiras. O trabalho excessivo das enfermeiras, na organização das mais diversas tarefas, como na organização da cozinha, da lavanderia, alem dos cuidados prestados incessantemente aos doentes e feridos,teve a satisfação de ver baixar a taxa de mortalidade para apenas 2%. Não descansava nunca, e levava a solicitude a ponto de percorrer as enfermarias, a noite, com sua lâmpada, que era um raio de esperança para os feridos. Os soldados olhavam-na como a um anjo, e os oficiais já a encaravam sob outra luz. A esta altura o povo britânico já a havia transformado em uma heroína nacional. Permaneceu ate o final do conflito bélico atuando junto aos soldados feridos, e quando retornou a sua pátria, recebeu-a um país agradecido que lhe presenteou com 40 mil libras esterlinas (sendo 9 mil destas subscritas pelos próprios soldados), e utilizou todo este montante para a fundação da Nightingale Training School anexa ao St. Thomas’s Hospital, em 9 de julho de 1860. além deste reconhecimento, tornou-se responsável pela completa reorganização de todos os hospitais militares, ordem esta dada diretamente por Sua Majestade a Rainha Vitória. Os propósitos ao se fundar uma escola de enfermagem, era nada menos que reformular a enfermagem em seu país e no mundo inteiro, por meio de novas e numerosas escolas. Evidentemente que os primeiros desta Escola de Enfermagem, foram de grandes lutas, pois muitos não compreendiam a necessidade de enfermeiras cultas e de elevados dotes morais, além da necessidade de estudos e em especial preparação para essas funções. Os pontos novos do Modelo (Sistema) Nightingale de educação de enfermeiras adotados desde o seu início foram: Direção da escola de enfermagem por uma enfermeira, e não por médicos, como ocorria até então, nos raros cursos dados dos hospitais; Mais ensino metódico, em vez de apenas ocasional, através da prática; Seleção das candidatas sob o ponto de vista físico, moral, intelectual e de aptidão profissional. Quando morreu aos 90 anos de idade (1910), a Reforma Nightingale já atingira o Novo Mundo e acompanhava os últimos progressos da ciência. HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO BRASIL A organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira começa no período colonial e vai até o final do século XIX. A profissão surge como uma simples prestação de cuidados aos doentes, realizada por um grupo formado, na sua maioria, por escravos, que nesta época trabalhavam nos domicílios. Desde o princípio da colonização foi incluída a abertura das Casas de Misericórdia, que tiveram origem em Portugal. A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em 1880, com a presença de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina. No que diz respeito à saúde do povo brasileiro, merece destaque o trabalho do Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e catequeses. Foi além, pois atendia aos necessitados, exercendo atividades de médico e enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns. A terapêutica empregada era à base de ervas medicinais minuciosamente descritas. Supõe-se que os Jesuítas faziam a supervisão do serviço que era prestado por pessoas treinadas por eles. Não há registro a respeito. Outra figura de destaque é Frei Fabiano Cristo, que durante 40 anos exerceu atividades de enfermeiro no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro (Séc. XVIII). Os escravos tiveram papel relevante, pois auxiliavam os religiosos no cuidado aos doentes. Em 1738, Romão de Matos Duarte consegue fundar no Rio de Janeiro a Casa dos Expostos. Somente em 1822, o Brasil tomou as primeiras medidas de proteção à maternidade que se conhecem na legislação mundial, graças a atuação de José Bonifácio Andrada e Silva. A primeira sala de partos funcionava na Casa dos Expostos em 1822. Em 1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de Medicina diplomou no ano seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira formada no Brasil. No começo do século XX, grande número de teses médicas foram apresentadas sobre Higiene Infantil e Escolar, demonstrando os resultados obtidos e abrindo horizontes e novas realizações. Esse progresso da medicina, entretanto, não teve influência imediata sobre a Enfermagem. Assim sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império, raros nomes de destacaram e, entre eles, merece especial menção o de Anna Nery. ANA NERI Nascida em 13 de dezembro de 1814 na cidade de Cachoeira, Província da Bahia, com o nome de Ana Justina Ferreira. Tendo se casado cedo com Isidoro Antonio Néri, oficial da armada, já aos 30 anos enviuvou-se. Teve três filhos, dois médicos (militares) e um oficial do exército. Segundo Pires “durante 51 anos de sua vida, Ana Neri viveu dentro dos padrões típicos das mulheres brasileiras de sua época e do seu nível social, isto é, dedicada às atividades domésticas e cuidado dos filhos”. Com o Brasil entrando em guerra contra o Paraguai , e tendo seus filhos destacados para a frente de batalha, Ana Néri escreveu uma carta para o Presidente da Província da Bahia colocando-se à disposição do governo para auxiliar nos cuidados aos doentes nos campos de batalha, à 6 de agosto de 1865. O aceite por parte do governo foi imediato, e uma semana depois, no dia 13, como destaca Pires “a voluntária já embarcou para o Rio Grande do Sul, de onde seus feitos, no campo do cuidado aos soldados feridos e da organização das instalações necessárias a esse atendimento, passaram para a história”. Improvisava hospitais onde não existia um, se dedicou de sobremaneira nos cuidados aos feridos, esteve nas localidades de Curupaiti, Humaitá, Assunção e Corrientes. Depois de cinco anos participando na Guerra do Paraguai, cuidando dos feridos de qualquer nacionalidade, ao término da mesma, voltou para casa trazendo quatro órfãos cujos pais morreram nos campos de batalha. Segundo Paixão “sua dedicação a toda prova, a qualquer hora do dia ou da noite, valeu-lhe o título de Mãe dos Brasileiros (...) o Imperador D. Pedro II concedeu-lhe uma pensão anual de um conto e duzentos e condecorou-a com as medalhas humanitárias de 2ª Classe e de Campanha”. O seu trabalho voluntário, como salienta Pires “não teve qualquer aproximação com um trabalho de tipo profissional e sim foi motivado pelo espírito cristão caritativo e pelo sentimento cívico (...) Ana Neri não passou por qualquer tipo de treinamento profissional e o reconhecimento de seu trabalho não teve conseqüência a médio prazo para a estruturação da profissão de enfermagem”. Faleceu em 20 de maio de 1880, aos 66 anos de idade, no Rio de Janeiro e encontra-se sepultada no cemitério São Francisco Xavier. A SAÚDE NO BRASIL NO INÍCIO DO PERÍODO REPUBLICANO “(...) O 15 de novembro trouxe modificações na forma de organização dos serviços de saúde. O caráter federativo da República se reflete no setor saúde. A descentralização é a lógica da organização do Estado e também da estrutura organizativa dos serviços de saúde. (...) No nível institucional foram criados, após a proclamação da República, órgãos de pesquisa na área da saúde como: o Instituto Bacteriológico de São Paulo em 1892, o Instituto Soroterápico de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantã, também em São Paulo, em 1899. Em 1893, uma lei do Senado estabelece a criação de serviços públicos civis de assistência individual. Até aqui as instituições religiosas e de caráter filantrópico é que se ocupavam desta assistência, além dos hospitais militares e das atividades liberais dos médicos, cirurgiões e práticos de saúde. (...) O método positivista de investigação e de raciocínio só se torna hegemônica na orientação das políticas estatais, no início de 1900, com as estratégias de combate à febre amarela, à cólera e à varíola feitas por Oswaldo Cruz. As epidemias, como a febre amarela, que existe no país desde o século XVII, quando foi identificada em Pernambuco pela primeira vez, só começam a ser consideradas problema a ser enfrentado pelo governo no século XIX, pelas necessidades de intercâmbio internacional e do desenvolvimento econômico. (...) A capital federal inicia este século, atormentada pela varíola, pela febre amarela, pelo sarampo, pela escarlatina, pela influenza, pelas doenças intestinais e tuberculose. Dessas, as preocupações governamentais se dirigem à febre amarela e à varíola, porque eram motivo de impedimento para a continuidade do comércio internacional, para a continuidade da vinda de imigrantes europeus necessários ao desenvolvimento capitalista e porque atingiam indiscriminadamente toda a população, todas as classes sociais. (...) Em 1902, Rodrigues Alves, (...) assumiu a Presidência da República após uma campanha eleitoral em cima do projeto de modernização do país, da cultura, da vida social e da economia. Para modernizar, era necessário transformar a capital federal em uma cidade limpa e saudável, capaz de mudar a nossa imagem no cenário internacional. (...) Em 1899, (...) a prefeitura do Rio de Janeiro resolveu criar um pequeno laboratório para produzir soro e vacinas contra a peste. (...) foi requisitada uma fazenda próxima à cidade conhecida por Manguinhos, onde os trabalhos de manuseio do bacilo ficassem longe da concentração urbana. (...) Em 1900, o Instituto passou a chamar-se oficialmente Instituto Soroterápico de Manguinhos, e, por indicação dos técnicos do Instituto Pasteur, consultados pelo governo brasileiro sobre a disponibilidade (...) de diretor do Instituto, o médico brasileiro Oswaldo Cruz assume o trabalho na instituição e sua direção em 1902. (...) Ao assumir o governo federal em 1902, Rodrigues Alves, a fim de efetivar a sua proposta de modernização e de saneamento da capital federal, nomeou, (...) Oswaldo Cruz para dirigir o Departamento Federal de Saúde. (...) . Oswaldo Cruz acumula dois cargos, de diretor do Instituto Soroterápico de Manguinhos, e de diretor do Departamento Federal de Saúde. (...) define estratégias de organização dos serviços de saúde para enfrentar o desencontro administrativo do setor e fazer a saúde no Brasil entrar numa nova fase: a da pesquisa experimental e do conhecimento racional metódico da ciência positivista, em pleno desenvolvimento nos países industrializados.(...) A vacina obrigatória (...) foi aprovada em outubro de 1904. O povo do Rio de Janeiro viveu um período de intensas lutas e apreensões neste ano; a mobilização popular contra as medidas da polícia sanitária conseguiu conter a aplicação da vacina obrigatória, naquele ano, e canalizou a insatisfação contra os governos das oligarquias paulistas, que Rodrigues Alves representava, e contra a continuidade da política instituída no governo anterior de Campos Salles (...) A estratégia modernizadora foi implantada com medidas enérgicas e centralizadas, e na saúde a campanha da febre amarela, coordenada por Oswaldo Cruz, foi a pioneira. (...) Com os resultados positivos da campanha da febre amarela, o governo conseguiu maioria no Congresso para aprovar, em outubro de 1904, a vacina obrigatória. (...) O decreto foi considerado extremamente rígido, incluindo ‘desde recém-nascidos até idosos, impondo vacinações, exames e reexames, ameaçando com multas pesadas e demissões sumárias, limitando os espaços para recursos, defesas e omissões’.” A ENFERMAGEM MODERNA NO BRASIL: SEU INÍCIO “(...) A inoperância dos serviços de saúde pública ficou evidente durante a epidemia de gripe espanhola, que chegou ao Rio de Janeiro em setembro de 1918 e em, menos de dois meses, atingiu mais de dois terços da população da cidade (...) A sucessão presidencial para o período de 1919-1922, polarizou-se em torno de Rui Barbosa e Epitácio Pessoa; vencendo este último, (...) estava colocada a questão do saneamento do país, que tinha destaque em sua plataforma de governo. A favorável conjuntura econômica inicialmente observada ensejou um grande programa de obras públicas, vinculado a importantes compromissos políticos internos e externos. (...) O presidente eleito criou o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) (...) Carlos Chagas, a quem a descoberta do Mal de Chagas (1908) granjeara considerável fama nos meios científicos internacionais, herdeiro de Oswaldo Cruz, como diretor do Instituto Oswaldo Cruz (1918 – 1934), nomeado diretor-geral do DNSP (1920 – 1934), liderou a reforma sanitária e iniciou o programa de cooperação com a Fundação Rockfeller, conseqüente à intensificação da penetração do capital americano em nosso país. (...) jovens sanitaristas (...) ascenderam politicamente e ‘deram consistência à estratégia de saúde pública’ (...) Não obstante, os princípios liberais positivistas, nos quais fundamentava-se a autonomia dos estados e a economia essencialmente agropecuária, não favoreciam uma efetiva política de saúde mais incisiva ou abrangente. Por isso, o DNSP continuava a restringir suas atividades principalmente à região do Distrito Federal. A filosofia do trabalho adotada era a de programas especializados para cada ‘mal’a ser combatido e de comando centralizado das ações, na Inspetoria correspondente. (...). Os sanitaristas do DNSP acompanhavam o movimento de saúde pública norte-americano, especializando-se na Universidade John Hopkins (Baltimore/EUA), onde conheceram a atuação da enfermeira de saúde pública . (...) Tendo Carlos Chagas solicitado à Fundação Rockfeller a organização de um serviço de enfermagem no DNSP, foi criada a Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil, patrocinada pela Fundação Rockfeller , para promover as inovações no Departamento Nacional de Saúde Pública/DNSP, consideradas necessárias à efetivação da Reforma Carlos Chagas, e que aqui permaneceria por uma década. A Fundação Rockfeller enviou ao Brasil a enfermeira americana Ethel Parsons, para estudar a situação. Aqui constatou ela que não havia no país escolas de enfermagem que apresentassem os padrões mínimos adotados nos “países anglo-saxões’e nem enfermeiras treinadas nestes moldes; (...) mas que a enfermagem era feita por homens e mulheres ignorantes (...) julgava ela que ‘eles queriam que a enfermagem no Brasil alcançasse os padrões dos outros grandes países do mundo”. (...) Ainda em 1922, Mrs. Parsons, como chefe da missão de enfermeiras da Fundação Rockfeller e como Superintendente Geral do Serviço de Enfermeiras do DNSP, trouxe da América do Norte sete enfermeiras de saúde pública para treinar e supervisionar as visitadoras dos serviços de tuberculose, higiene infantil e doenças venéreas. Embora Ethel Parsons desde logo reconhecesse a necessidade de adaptar a “concepção norte-americana” de enfermagem de saúde pública às condições locais, acreditava haver “uns tantos princípios fundamentais indispensáveis a toda organização” (...) Tais princípios tinham como matrizes o sistema nightingale, o hospital norte-americano, bem como a prática de enfermagem de saúde pública desenvolvida naquele país. O progresso da enfermagem nos Estados Unidos acompanhara a expansão espetacular da moderna organização hospitalar daquele país, a partir da década de 70 do século passado e na primeira década de século 20. Tanto que a maior parte das escolas de enfermagem americanas fora criada para dar suporte aos grandes hospitais que surgiam, (...) em 1918, já havia mais de mil escolas de enfermagem apoiando os serviços hospitalares. (...) A primeira adaptação do sistema norte-americano ao Brasil “foi o estabelecimento de um Serviço de Enfermeiras no Departamento Nacional de Saúde Pública”, que abrangia todas as atividades de enfermagem, e que estava em pé de igualdade, na estrutura administrativa do DNSP, com as inspetorias médicas (...) O currículo da Escola de Enfermagem do DNSP era semelhante ao currículo padrão para escolas de enfermagem nos Estados Unidos, (...) Este modelo foi seguido ‘tanto quanto possível’: aqui o curso tinha a duração de vinte e oito meses letivos, com duas semanas de férias anuais; exigência de diploma de escola normal ou aprovação em prova de seleção; período probatório de quatro meses; quarenta e oito horas de trabalho semanal, “excluídas as horas de instrução teórica e de estudo”; direito à residência e pequena remuneração mensal (...) Inicialmente, a diretora da escola e duas assistentes fariam o ensino de enfermagem e a supervisão do trabalho das alunas, em um número progressivo de enfermarias, até que todo o hospital ficasse sob controle, quando a escola de enfermagem deveria ter em seu quadro seis professoras estrangeiras. (...) Várias das candidatas que atenderam aos apelos humanitários e patrióticos dos médicos sanitaristas provinham da classe média-alta da sociedade, muitas delas tendo sido diretamente por eles recrutadas. Não obstante, candidatas oriundas de famílias pobres poderiam ser bem recebidas(...) Ao tempo em que a Escola preparava as futuras enfermeiras para o trabalho de saúde pública ou hospitalar, também desenvolvia uma forte inculcação ideológica, segundo a mística da profissão. Do ponto de vista das enfermeiras norte-americanas a obediência à hierarquia e à disciplina eram os mais fortes referenciais na avaliação das alunas. (...) A medida em que as enfermeiras se iam formando, eram logo integradas ao projeto sanitário, aperfeiçoando e ampliando o trabalho que já vinha sendo executado. (...) as enfermeiras brasileiras selecionadas para bolsa de estudos nos Estados Unidos, ao voltar, passaram a substituir as colegas americanas na chefia de zonas de enfermeiras distritais. (...) A partir de 1926, pode dizer-se que estava sendo criada uma nova mentalidade sobre a profissão de enfermeira no Brasil: ‘o crescimento continuado do respeito e confiança no Serviço de Enfermagem e no futuro da profissão nas mentes do povo brasileiro foi um dos mais importantes desenvolvimentos de todo o programa de saúde’(...) A implantação da enfermagem moderna no Brasil foi uma das maiores realizações da reforma Carlos Chagas. (...) Ao contrário da expectativa de grande parte dos médicos do DNSP, que ensejava apenas ver resolvidos os problemas mais prementes de sua prática cotidiana, o projeto da Missão Parsons tinha como propósito lançar bases sólidas para a introdução de um novo profissional no campo da saúde. A Missão Parsons transplantou para o Brasil um modelo de enfermagem que resultara de um processo adaptativo de meio século (...) No Brasil, a emergência da nova categoria profissional foi ‘consequência de medida governamental e não produto de consenso social’, uma vez que, com exceção do grupo do DNSP, ‘a sociedade brasileira da época não possuía noções definidas nem sobre o significado e nem sobre a utilidade de uma escola de enfermagem’.”
Posted on: Thu, 18 Jul 2013 21:00:55 +0000

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