Fui filha única até os sete anos por decisão de meus pais. Se - TopicsExpress



          

Fui filha única até os sete anos por decisão de meus pais. Se dependesse de mim, meu reinado teria fim antes dos quatro. Eu queria ter um irmão mais do que qualquer outra coisa. Achava injusto meu pai ter oito irmãos, minha mãe, quatro e eu nenhum. Ficava frustrada ao pensar que meus filhos (“meus filhos”- a criança ainda tomava mamadeira e tava lá falando de filhos, olha as ideias) não teriam tios se meu marido (não tô dizendo?). Minha sempre quis ter quatro filhos, meu pai nenhum. Depois de quatro anos de casados, resolveram ter um. Então nasci. Estava decidido que assim seria. Estava. Após seis anos, muitos pedidos meus, o desejo de minha mãe ter mais um, muita conversas, discussões e contas, descobri que, em breve, ganharia um irmão. Minha irmã veio ao mundo no inicio de uma noite fresca em setembro. Me lembro não só dos detalhes do dia de seu nascimento, como das emoções que eu sentia pela sua chegada. Quando a vi pela primeira vez no hospital meu mundo ganhou um significado que não constava em meu vocabulário e do qual eu nunca sabia que pudesse existir. “Ela é linda” era tudo que eu conseguia dizer. Meu coração palpitava tão intensamente que eu achava que iria explodir, o sorriso não saia do meu rosto, o amor tomou conta de mim. Não consegui dormir na noite em que ela nasceu. Não precisava mais fechar os olhos para sonhar. Acompanhei todo seu crescimento e desenvolvimento com muita dedicação. Ensinar ela ler aos cinco anos era tão prazeroso quanto dar mamadeira quando ela ainda era um bebê. Eu amava ser irmã, eu amava ter irmã. Minha família estava completa, eu me sentia completa. A Bíblia nos diz que os pensamentos do Senhor não são os nossos pensamentos e que os caminhos dele não são os nossos caminhos. Fazemos planos em nossas mentes e corações, mas a resposta vem sempre daquele que é o mestre tecelão de nossas vidas. Meu pai costumava ouvir uma música de Billy Blanco Jr que dizia que “o Mestre tecelão de nossas vidas tem um plano: para cada alegria, euforia e desenganos”. Quando eu tinha 14 anos, meu pai adoeceu. Meningite. Ficou enfermo durante seis meses dos quais, pouquíssimos dias foram passados em casa. Nessa época, a responsabilidade por cuidar de minha irmã ficou por minha conta e ninguém queria dar ao outro uma carga maior do que aquela que estava carregando. Nós não exigíamos nada da nossa mãe que, por sua vez, tentava amenizar ao máximo nosso sofrimento deixando recursos e pedindo para que amigos pudessem ficar conosco alguns dias. Foi um período muito difícil para todos nós e muito assustador para mim. Uma coisa é você cuidar da sua irmã sob supervisão, outra é você assumir a responsabilidade por uma criança e cuidar de você e dela também- acordar cedo para escola, levar para escola, ajudar no dever-de-casa, ir à reunião de pais, colocar pra dormir, preparar comida, verificar o porquê do silêncio, escovar os dentes, entre outros. Contudo, nenhuma dessas atividades foi tão difícil para mim quanto ter que lidar com as emoções e espiritualidade. Dizer que tudo ia ficar bem quando minhas esperanças eram tão incertas como as dela, chamar para orar quando você se questiona se está sendo ouvido era desafiador. Mas Deus ia trabalhando em nossos corações e nos mostrando, por meio de sua Palavra, que lançando sobre ele a nossa ansiedade, ele cuidaria de nós. Meu pai faleceu em agosto de 2007. Finalmente estava curado e à presença daquele que enxugará de nossos olhos toda a lágrima. A paz que excede todo entendimento guardou, em Cristo Jesus, nossas mentes e corações. A misericórdia de Deus consolava nossas vidas dia após dia e nas sombras de tuas asas, descansávamos. Desde então, o Senhor tem nos mostrado sua fidelidade e bondade. Mamãe terminou de construir nossa casa e eu passei no vestibular quatro anos depois. Há dois anos me mudei para a cidade onde faço faculdade. Vou para casa apenas nas férias e em feriados prolongados. Depois que vim pra cá, algumas coisas começaram a mudar- especialmente no último ano que foi quando minha irmã entrou na adolescência - o desempenho escolar despencou, ela começou a mentir muito, sair escondido, responder, fazer amizades com pessoas que não querem compromisso com nada e a querer namorar. Minha mãe fez tudo o que estava ao alcance- de conversas extensas, joelho no chão à trocar de escola. Depois de muitos meses de desgaste emocional, promessas de mudanças que não foram cumpridas, desobediência e rebeldia do coração, eu resolvi convidar minha irmã a vir passar um período comigo. Não pense que foi uma decisão fácil pra mim, muito, muito, muito, muito, muito (10x) pra minha mãe. Ambas sabemos as implicações de tal atitude-ela só tem 13 anos- mas, acreditando que experiências nos transformam, optamos por deixá-la vir morar comigo. Eu sei que os próximos meses serão desafiadores porque eu sei que uma educação para vida vai além de garantir bom rendimento escolar e bom comportamento -que não deixam de ser um dos propósitos para que ela venha. Moro numa república pequena- somos em quatro- onde há regras que deverão ser seguidas. Todos nós que viemos morar longe do conforto e mordomia de casa aprendemos a ter responsabilidade, a valorizar nossos pais, a comer de tudo, a respeitar as diferenças, a perceber, quando a blusa preta enche de pelo, que nossa mãe tinha razão quando dizia que não podia jogá-la na máquina. Aprendemos que quando temos em nossas mãos a escolha de fazer algo, devemos estar conscientes de suas consequências e, nesses momentos de dilemas, é que voltamos para a nossa base, para aquela educação que nos constituiu até ali, para o lugar onde temos segurança, onde conhecemos. Começamos a lembrar de todo ensinamento de nossos pais e descobrindo as razões de todos eles. É na esperança de que minha irmã, examinando as veredas antigas, encontre o bom caminho, ande por ele e encontre descanso para vossa alma. Assumo o compromisso de amar, zelar, ensinar, pregar a palavra, orar por ela e com ela, incentivar a leitura e ser exemplo. Eu sei que não é fácil e confesso que tenho ficado, de antemão, um tanto ansiosa. Mas tenho depositado aos pés da cruz cada um de minhas aflições. Eu creio que Deus é infinitamente poderoso para fazer infinitamente mais de tudo quanto pedimos ou pensamos conforme seu poder que em nos opera. Nunca imaginei que aos 20 anos, no meio da minha graduação, teria essa responsabilidade, mas creio na soberania do Mestre tecelão de nossas vidas. E lembra do trechinho da música que citei lá em cima? Ele termina assim “Se o pano que Ele tece não é o que a gente escolheria. Sei que será bem mais belo e veremos isto um dia”.
Posted on: Fri, 12 Jul 2013 05:59:37 +0000

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