Hoje completo minha primeira semana a bordo... Sete dias, e queria falar um pouco disso. Acho que fui muito sortudo de ter um mês de “férias” entre meu emprego anterior e este novo, para poder fazer tudo o que eu devia antes de viajar, como visitar meus amigos, me divertir bastante, organizar minhas coisas, organizar meus documentos, e começar a pensar na vida a bordo pra me “preparar psicologicamente”. Acho que fui sortudo porque me preparei mais do que o necessário: não estranhei a comida, não tive jatlag (aquela sensação estranha de estar várias horas à frente ou atrás do horário do seu país), e não estranhei as instalações do navio. Nesses sete dias aqui, tive contato com muitos veteranos, de outros setores, me contando sobre suas “crises de primeira semana”, onde quiseram largar tudo e voltar, por se sentirem fora de lugar, por se sentirem desconfortáveis em suas cabines (sim, não temos quarto, temos cabines), por acharem ruim o gosto da comida, e a saudade da família... Falando sobre a cabine, ela é assim por dentro: à direita tem uma beliche e a porta do banheiro; à esquerda um desk com uma TV e gavetas, e prateleiras em cima, na parede; e ao lado do desk os armários pra roupa, com cabideiros e gavetas. O banheiro possui um vaso sanitário, um chuveiro que você pode mexer pra todas as direções, um varal retrátil que pode ser esticado de um lado a outro, e a pia com armário e espelho na parede. Mas o banheiro é bem pequeno mesmo: não dá nem pra esticar os braços completamente dentro dele. Durmo na parte superior da beliche, que tem uma aba de segurança lateral pra ninguém cair, e apesar de ser super simples, é bem confortável: colchão e travesseiros bem macios, lençóis e cobertores que sobram pelas laterais, e lâmpada lateral como um pequeno abajur. Divido esta cabine com o Vedran, um rapaz da Croácia mas que tudo me leva a crer que tem um coração brasileiro: nunca conheci um europeu tão aberto à comunicação, e que tratasse os outros de uma forma tão próxima, tão “do nosso jeito”, sabe? Não fossem os olhos azuis e os cabelos e barba loiros, ele se passaria por brasileiro facilmente, haha – e apesar de não falar português propriamente, ele domina nossos principais palavrões como ninguém, já que nossa equipe é cheia de brasileiros. Falando de equipe, somos 6 até o momento: Daniel, Narciso, Vedran, Cayan, Nadine, Rafael, e eu. Cayan, Nadine, e Rafael também não brasileiros. Cayan é o gerente, Nadine e Rafael são Fotógrafos n3. Daniel, que é Romeno, é Fotógrafo n1 como eu, mas tem experiência de ter trabalhado com outra companhia antes, e Narciso está mais à frente, bem além de Fotógrafo n3, e também trabalha revelando as fotos que tiramos nos eventos – a nacionalidade dele eu sempre esqueço. E em poucos dias receberemos em nosso time o Guilherme, também brasileiro e Fotógrafo n1 – o conheci em Sampa, em Maio, quando peguei minha carta de embarque. Quanto ao trabalho em si, funciona da seguinte maneira: ao cair da tarde carregamos e montamos pelo navio os estúdios, com tudo que um estúdio profissional possui: luzes, caixas de energia, etc. Medimos as luzes, confirmamos se está tudo ok e seguro, e fotografamos então os passageiros, convidando-os para as pequenas sessões. Às vezes o estúdio fica vazio por poucos minutos, mas na maior parte do tempo tem um casal ou uma família, e às vezes chega a formar fila de gente esperando. Outra coisa que fotografamos também são os jantares: o restaurante é imenso, com dois andares e cinco alas de mesas em cada. E temos também as fotografias fora do navio, registrando o desembarque dos passageiros em cada porto, com objetos cenográficos relativos a cada cidade em que paramos, ou até mesmo conosco vestindo fantasias relacionadas à cultura local. Quanto a ser fotógrafo em navio, posso dizer que as coisas mais difíceis são: deslocar pelo navio os estúdios desmontados, por serem pesados; e fotografar os jantares, já que precisamos ser bem rápidos, pois cada jantar dura apenas uma hora, e são dois turnos! Em relação a fotografar nos estúdios e fora do navio, a coisa se torna mais simples e mais proveitosa: nos estúdios dá tempo até de bater um papo com os passageiros, e a maioria deles são de fato agradáveis – raramente alguém carrancudo vai parar num estúdio de fotografia querendo uma foto, então é bem mais tranquilo, diferente do restaurante, onde algumas pessoas simplesmente recusam que tiremos fotos. No navio, cada andar é chamado de Deck. Montamos estúdios variados nos Decks 4 e 5, e temos nossa Photo Gallery no Deck 6, onde também é possível comprar câmeras compactas, cartões de memória, baterias, essas coisas. Na Galeria eu ainda não atuo de forma plena. Estive lá apenas quatro vezes, e somente observando, pois estou em treinamento: O sistema de vendas no computador é bem complicadinho, e como os termos de venda em inglês ainda não são tão familiares pra mim, eu realmente tenho dificuldade nessa parte. Então até agora o que fiz realmente foi apenas aprender a separar as fotos dos passageiros da forma correta, observar as transações de venda no balcão, e atender aos passageiros de forma verbal. Mas falando sobre o inglês em si, há também uma grande dificuldade da minha parte: no navio são se fala inglês, mas sim “línguas em inglês”: os sotaques são variados, e não me acostumei a todos ainda, o que às vezes faz eu não entender completamente um passageiro ou até mesmo um membro da equipe de trabalho. O bom é que pelo menos todo mundo ME entende, por serem fluentes, verdadeiramente fluentes, em todos os sotaques possíveis, rs. Sobre as horas trabalhadas, isso varia muito. São vários turnos, com vários afazeres diferentes, divididos entre a equipe. O dia que eu mais trabalhei foi no terceiro dia, quando estávamos em Corfu, na Grecia, numa Noite Formal, onde todos os passageiros se vestem com roupa de gala e acontecem as maiores atrações do cruzeiro. Neste dia trabalhei 8 horas e meia: Treinamento de segurança (que conta como hora trabalhada) de 9 às 10 e meia da manhã; Setup de Estudio de 3 e meia às 4 e meia da tarde, e sessões de Fotografia de Estúdio intercaladas com Fotografia no Restaurante, de 5 e meia da tarde até 11 e meia da noite. Nos outros dias, trabalhei apenas um total de 7 horas e meia em cada, seguindo o mesmo estilo de turnos pequenos. Essa primeira semana foi abarrotada de treinamentos sobre procedimentos de segurança e condutas da companhia, na sala de aula, e um treinamento de Emergência na parte aberta do navio, mas deu pra dar conta de tudo. Uma coisa curiosa é a forma como é simples se perder no navio, na parte destinada apenas a nós, tripulação. A área de passageiros é decorada, colorida, com luzes e efeitos diferentes, o que torna fácil a tarefa de se orientar; mas a nossa, que nenhum deles pode acessar, é um completo labirinto de corredores e escadas, sinalizado apenas de placas de segurança, todo cinza e sem janelas... No meu terceiro dia, acabei saindo da minha rota de costume, e andei em círculos por 12 minutos CRAVADOS, até que finalmente me dei conta de que eu realmente estava dando voltas e mais voltas no mesmo lugar, e fui ajudado por um amigo da equipe, hahahahaha. Mas, claro, a melhor parte de tudo são os time-off (horas livres) durante o dia, quando o navio pára no porto, e ficamos livres pra conhecer e explorar a cidade em que estamos. As cidades em que estive, e estarei mais algumas vezes nas próximas semanas, são: Veneza, na Itália; Dubrovinik, na Croácia; e Corfu, Atenas, Mikonos, e Argostolis, na Grécia. Como estive rapidamente em Veneza, no dia em que cheguei, e passei apenas um dia em cada uma das outras cidades, ainda não pude absorver, de fato, os lugares pra poder falar o que gostei mais ou o que gostei menos de cada um - embora, sem dúvida, a praia de CostaCosta, em Argostolis, tenha sido o lugar mais bonito em que estive até o momento, uma praia de água azul-esverdeada e cristalina, que dá pra ver até o fundo... Pena que é muita coisa nova, e eu esqueço de um monte delas pra poder escrever aqui. Então vamos fazer assim: se alguém tiver curiosidade sobre alguma coisa, me pergunte, e eu respondo num post futuro. Beijo.
Posted on: Sat, 03 Aug 2013 12:15:43 +0000
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