Hoje de manhã senti vontade de viajar. Que me deixassem num rodovia isolada. Que me olhassem, ao longe, atravessando uma passarela em direção ao desconhecido. Que me vissem e tentassem vir comigo. Que quisessem sentir o cheiro. O vento. O frescor da vontade inoportuna de ir. Que olhassem minhas mãos vazias e pensassem onde estariam minhas malas. Que imaginassem que eu as pegaria no meio do caminho, com os alguéns que eu viesse a conhecer. Que soubessem, já bem distantes, que eu não corria porque não tinha pressa. E porque carregava no peito a voz pesada de um sertão. Sertão inabitável. Ser tão inabitável. Ali, no caminho, eu descarregava o pouco do mundo que ainda me restava. Varria a terra com os olhos. E dava adeus à facilidade. Que me vissem arando esse chão provisório pra qual eu seguia. E que soltassem, antes de se virar e partir pra o antes: ela vai, não sei se volta, encarar o tudo, na companhia do nada. Se apaixonar pelo absurdo. Pelas terras. Pelas gentes. Pela estrada. Fazer do corpo, tal como é, sua esperança, sua jangada.
Posted on: Thu, 26 Sep 2013 02:19:04 +0000
Trending Topics
Recently Viewed Topics
© 2015