Hoje, fui à ópera. É Verdi, Otello, público da terceira idade - TopicsExpress



          

Hoje, fui à ópera. É Verdi, Otello, público da terceira idade sai de casa prestigiar o espetáculo transplantado de outra era, pré-moderna. Parece hostil esse comentário, mas é essa a sensação que tive nas quatro óperas que assisti: é sempre necessário se esforçar para se colocar em outro tempo, com outras maneiras de (vi)ver (n)o mundo. O que significava ir à ópera há 100, 200 anos atrás? Para mim, principalmente um local de encontro da “burguesia”, de ouvir histórias de povos distantes, de sair um pouco da vidinha que se vivia (entre arranjos de casamentos e todo aquele blábláblá vitoriano). Mas sair só um pouco, porque pra quem costuma ir ao teatro hoje em dia, o gênero operístico se mostra como hiper COMPORTADO - nada radical, não se propõe a romper com o senso-comum: a subversão passa longe do palco! É se dispondo a uma viagem no tempo que consigo tentar apreciar a ópera, e o que mais me causa estranhamento é o ritmo. Depois de ler a legenda, temos muito tempo para ficar aproveitando as expressões dx artista, já que prolongam tanto tantas sílabas: gosto de pensar nessa demora toda pra falar uma frase como uma lição vinda do passado – hoje, na Era da Informação, nos importamos tanto com o conteúdo do que está sendo dito e tão pouco pela maneira... Precisamos de dados, mas o que fazer com eles? É com isso que esse jeito lento de cantar rompe: nos lembra de dar atenção ao processo todo da fala, não só ao enunciado. Por um lado, gosto da filosofia do “take your time”: a mulher tá morrendo, podemos dar a ela dois minutinhos pra se despedir. O cara tá sofrendo bastante, ele acha que ta sendo traído, e é disso que essa cena fala, ponto. Sem avalanches de informações, sem enxurrada de estímulos... Esse timing diz de certo respeito que podemos ter com nossas sensações. Por outro, chega um ponto em que essa exaltação dos sentimentos se esgaça tanto e tudo vira um sentimentalismo tedioso, uma chatice só, do tipo “já entendi, ok!?”, e queremos só que chegue o próximo ato porque já ta tudo saturado. E aí vem o sono, e olhando em volta não é difícil encontrar alguém dormindo (e quase todxs bocejando). Um tanto por isso, gosto mais das cenas com dezenas de pessoas no palco, os corais de camponeses, as saudações do povo aos recém-chegados, um desbunde de figurinos e maquiagens... Nas cenas intimistas, o que sinto falta é de apelo visual: é final de cena, a tragédia é total, a orquestra tocando a todo volume, a soprano berrando pela morte do amado e... nenhum efeito de luz, o palco não se move, o cenário não se mexe... É pela música que se expressam as emoções mais profundas, e pelo canto que se engrandecem as cenas, ao que às vezes me parece faltar algo, soando a certa pobreza de efeitos especiais (principalmente quando me lembro do palco inteiro sendo grandiosamente utilizado em Defying Gravity e dos efeitos visuais esbanjantes de The Circle of Life). Resumindo: ir à ópera é uma empreitada histórica, é um desafio de encontrar o que podemos aproveitar de épocas passadas, arqueologia do erudito. Ainda prefiro Broadway, beijos. youtube/watch?v=5_cbnBak8RI&list=TLD-KZUDyrHbVGUmDH7rX7cuHz7I18oUmJ&hd=1
Posted on: Mon, 30 Sep 2013 02:35:19 +0000

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