MARANHÃO: UM PROJETO NEGADO Por Abdelaziz Aboud Santos (Jornal - TopicsExpress



          

MARANHÃO: UM PROJETO NEGADO Por Abdelaziz Aboud Santos (Jornal Pequeno, 10 de novembro de 2013) Os indicativos da conjuntura política nacional e suas imbricações com a conjuntura política maranhense sinalizam que as eleições majoritárias de 2014 serão as maiores de todos os tempos, principalmente em função do seu evidente caráter plebiscitário. A população será chamada a decidir sobre a condução política dos negócios públicos, optando entre a continuidade de um sistema de poder controlado por um grupo político oligárquico, que detém o domínio por décadas, e uma frente de oposição que resiste ao grupo, por igual tempo, renovada e ampliada pela participação de novos atores, inconformados com a situação reinante. Pelas evidências expostas na sociedade inclusiva será uma luta de foices. Nunca se viu tantas obras públicas sendo incrementadas como agora, chegando-se ao cúmulo de algumas delas estarem sendo feitas em duplicidade, como a MA 402, que liga São Luís a Barreirinhas, que está sendo asfaltada novamente por mero luxo. No ambiente midiático e nas redes sociais os grupos dominantes usam e abusam do poder que ostentam, e vão além das sutilezas em suas estratégias de marketing eleitoral, executadas antes do tempo permitido pela legislação em vigor. Tudo aparentemente estaria transcorrendo conforme o esperado, a não ser por um detalhe altamente preocupante: a total omissão quanto à explicitação de um novo projeto para o Maranhão, capaz de equacionar a transição política e indicar os novos rumos a serem seguidos para garantir o desenvolvimento sustentável e a superação de suas cada vez mais insuportáveis assimetrias sociais e econômicas. O que asseveram sobre o assunto não tem passado de lugares-comuns e palavras-de-ordem, fragilíssimos quando se referem a explicitação de questões operacionais, envolvendo o que fazer e o como fazer, fundamentais para uma nova contextura política que nascerá da superação das armadilhas postas pela realidade ao longo de décadas. Um dos pioneiros a trabalhar a ideia de projetos de nação no país foi José Bonifácio de Andrada e Silva, o chamado “Patriarca da Independência”. Em iniciativa conjunta da Publifolha e da Companhia das Letras, pode-se encontrar as propostas de Bonifácio, organizadas por Miriam Dolhnikoff, denominadas de “Projetos para o Brasil”, obra esta publicada em 2000. Nome importante no pensamento brasileiro, de grande valor histórico, não conseguiu escapar, todavia das influências da época e o seu projeto reformista esteve sempre referido a uma visão de nacionalidade que fosse semelhante à civilização europeia, onde passou a maior parte de sua vida. Os economistas sempre defenderam a ideia de um projeto nacional de desenvolvimento. O autor mais consagrado quanto a isso é Celso Furtado e o seu clássico Um Projeto para o Brasil, escrito em 1968, sem ter sido o único a se aventurar nessa matéria. No mesmo quadrante, a obra do maranhense Ignacio Rangel, que passou a vida toda compondo a partitura de um projeto de desenvolvimento para o país. No Maranhão, sem dúvida, foi Bandeira Tribuzi quem mais contribuiu nessa direção, trazendo uma visão mais moderna, em um momento em que a economia maranhense passava a inserir-se, de modo diferenciado, na nova divisão do trabalho em curso no país, sob hegemonia econômica do centro-sul brasileiro. Desde que me dei conta como economista que ouço os mais antigos dizerem que é preciso escrever um projeto para o Maranhão. Hoje pouco se fala nisso, talvez pelo esvaziamento da ideia face às novas prioridades dos contemporâneos, que não se empolgam tanto com reflexões e subjetividades e se preocupam exclusivamente com o imediatismo. Praticamente desde a segunda metade do século anterior até hoje os governos estaduais e municipais pouca bola deram para o tema. Embora os órgãos de planejamento governamentais, a partir do governo federal, tenham experimentado a fase de modernização, marcada pela priorização de planos e projetos de desenvolvimento, tanto na época do desenvolvimentismo, como no período do regime militar, os referidos planos estiveram sempre atrelados a ideias nacionais do que a propósitos regionais e muito menos estaduais. No plano estadual, por vários anos, prevaleceu a prática dos planos de governo, que mobilizavam os quadros técnicos existentes, mas que, a rigor, não tinham sentido prático, pois não saiam do papel. No caso maranhense o fortalecimento do planejamento teve a ver com a criação da Sudema e depois do Ipei-Fipes-Ipes, institutos de pesquisa interrompidos por longo período, retomado no governo Jackson Lago, recentemente, com a criação do Imesc. Para assumir a liderança desse novo processo de desenvolvimento estadual, tenho refletido ultimamente e deixado escrito em minhas análises sobre o Maranhão, o setor governamental necessitará de um planejamento norteador e, ao mesmo tempo gerencial, capacitado para resolver problemas, competindo-lhe sobretudo garantir a eficácia das políticas públicas que estarão sob sua responsabilidade, não sendo possível cumprir esse papel estratégico adotando um sistema de gestão pública centralizada e hipertrofiada, como tem sido a marca das experiências passadas, que resultaram na perda de confiança do povo maranhense na capacidade dos governos de administrarem os graves problemas sociais e econômicos que imperam nas cidades e no interior. Escapar das armadilhas que foram espalhadas pelo Maranhão afora não será tarefa de amadores e muito menos de oportunistas. Os maranhenses carregam em seu imaginário uma ambiguidade irresoluta: o complexo de vira-lata e a ideia de superioridade cultural, ambas, essencialmente, fruto de mitos manipulados pelas camadas dominantes. Desapontados consigo mesmos, pela incapacidade real de resolverem esse impasse artificialmente criado, preferem buscar em terceiros a solução dos seus problemas existenciais e das instituições às quais se vinculam. Colocar o Maranhão pelo avesso passará inexoravelmente pelo desafio de dar vida a um projeto orgânico para o povo maranhense. Talvez seja a forma de finalmente escapar dos fantasmas e dos pesadelos que atormentam a autoestima do povo e enfraquecem a sua disposição de lutar por um futuro melhor.
Posted on: Sun, 10 Nov 2013 15:05:41 +0000

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