MEU ETERNO MANDOU UM DIA PARA MIM.... Sofro e danço Cedo aprendi que minha vida não teria blindagens; que minha senda seria difícil, íngreme, esburacada. Ainda na adolescência, enterrei minha irmã caçula que só viveu dois dias. Sentei calado diante do tribunal militar que julgou meu pai. Viver é uma aventura perigosa, eu sabia. No mundo religioso não foi diferente, levei o primeiro pontapé, quando me expulsaram da Igreja Presbiteriana devido a minha experiência pentecostal. Depois que aportei nas Assembléias de Deus, sofri antipatias e preconceitos por questionar as inúmeras proibições quanto a usos e costumes. Mesmo assim, não reclamo da sorte. Reconheço que outros sofreram muito mais do que eu. Nunca me indispus com Deus, porque o Soberano jamais prometeu a vida como um mar de almirante. Aliás, nossa jornada existencial mais se parece uma pororoca. Insisto, viver não é para amadores. Ninguém se iluda, viver pode ser cruel, e essa percepção dói como uma agulhada. A gente sofre porque a dor do mundo não cabe no peito. Flagro-me gritando como mamãe quando a angústia lhe apertava: “Deus, dá-me coragem de viver, já que de morrer não tenho”. É muito mais cômodo esperar que a fortuna esteja de tocaia em alguma esquina. Quem ainda não fantasiou topar com a lâmpada do Aladim? As religiões estão lotadas de gente que aguarda “uma grande bênção” que possa resolver todos os seus problemas. Mortes e doenças, com infelizes exceções, só chegam tardiamente. Talvez seja essa a razão porque a vasta maioria das pessoas não sabe lidar com os grandes dramas. Pouquíssimos se preparam para o “Dia Mau”. Não quero paralisar minha vida na expectativa de coisas ruins, não sou um pessimista mórbido, pois sei que nem tudo é tragédia. Desejo também celebrar as mínimas alegrias da vida. Gosto de dormir cansado, de sonhar voando, de acordar tarde nos feriados, de correr na chuva, de comer chocolate, de comprar quebra-queixo em feira livre, de contar a história de Davi e Golias para meus netos, de derramar lágrimas pelo atleta que canta o hino nacional. Sem pender para os extremos do otimismo ou do pessimismo, encaro a realidade crua da vida. Antecipo a dor da velhice, prevejo a perpetuidade cínica dos políticos e protesto contra a decadência comercial da religião. Mas não quero morrer tão cedo. Decididamente, eu jamais me converteria à neurolingüística. Não alimento a alma de ilusões e não acredito que a maldade humana seja pontual - ela é sistêmica. Nessa constante incoerência, sofro, danço, oro com angústia e teimo em pregar sobre a esperança. Há momentos em que proponho que a humanidade assuma as rédeas da história, em outros, me humilho diante da Onipotente mão de Deus, pedindo que Ele tudo faça
Posted on: Tue, 26 Nov 2013 01:09:26 +0000