Mais um capítulo do Livro Cretinos O aleijado “Ainda bem que - TopicsExpress



          

Mais um capítulo do Livro Cretinos O aleijado “Ainda bem que baixaram aquela merda”. Clodoaldo, o aleijado, chegou em seu apartamento, o melhor e mais limpo do Holiday. O apartamento fica na parte baixo do prédio, regalo que o ajudava em partes em sua locomoção. _ Esse coroa é muito limpo... muito limpo, bicha! _ Tu já ficou com ele? _ Coisa pouca...Vai ao Mustang... Quem seria aquela de vestido verde, pensou Clodoaldo. Muito bonita... Clodoaldo deixou os pacotes de compra sobre a mesa. “Preciso guardar as carnes... O resto ela se vira. Aquele porteiro poderia ter me ajudado. Se eu tivesse pago ele topava... Maldito!” Clodoaldo era rigoroso com a organização em seu apartamento. Tinha síndrome de arrumação e não recebia muitas visitas, para que não desarrumassem. _ Primeiro as carnes, depois frutas e verduras... _ Quanto tá o tomate, seu Clodoaldo? – interrompeu Janete, a diarista que ia duas vezes por semana fazer a faxina pesada do apartamento. Clodoaldo se irritou. Tenho se acalmar. “Ela não está me ouvindo... Depois faz tudo errado. _ Não sei.. acho que três... _Nossa! Ainda tá caro... é mas já chegou a oito, né... “Será que ela faz de propósito?” Melhor guardar as frutas e verduras também, pensou Clodoaldo após considerar que todas as vezes que tentou deixar pra empregada ele fizera de forma errada. Petulante! “ Mas a filha dela é bonitinha.” Suportável! Que cheiro é esse? Este prédio fede mesmo. _ O Senhor, um homem fino e rico... _ Rico, eu! _ ... fica morando num moquifo desses? Deus do céu – repassava as mesma ladainha de toda a semana, Janete, indignada com o patrão. “Acho que ela não escuta. Não para de falar nem um segundo”. Depois de guardar as compra, Clodoaldo foi até a sala, a única parte da sala que não cheirava mal. “Preciso trocar este tapete. Nossa, como estou cansando fácil.” _ E olha, se o Senhor não fosse birrento morava com a gente, lá em casa. _ Sua casa? _ É... melhor que isso aqui. Clodoaldo parou tudo que estava fazendo. Olhou para a empregada, que pela primeira vez dera uma trégua. _ Duas coisas: primeiro seu marido que não para de pedir dinheiro pra beber... Aquilo não afetou Janete que apenas ergueu os ombros e seguiu olhando da mesma maneira para Clodoaldo, aguardando o segundo motivo. _ A segunda... _ Segunda? _ A segunda é que você tem uma menina de treze anos em casa... _ A Jésica? – Interrompeu Janete. Clodoaldo acenou com a cabeça. Não sabia o nome da menina, apenas que tinha um corpo... “ Lolita... Há, Lolita.” _ Que nada... ela é apenas uma tontinha – exclamou Janete sem se perturbar com o desejo contido. _ Ela pode ser, mas eu não. Apesar de ser menos barulhento, a sala não tinha acústica e o barulho da rua era ensurdecedor que seguia até meia-noite, quando a cidade dormia, pra acordar noutro dias às quatro. _ Aqui é tranquilo, Doutor. Tem um pouco de barulho até dez... onze, onde e pouco, mas depois é suave. Grande vendedor esse Gilson. Nunca confiei em gente que chame de Doutor – puxa-saco. O dia foi calmo. Nada de mais. Batidas na porta. Não havia nenhuma visita programada. Que dia era esse? Ao abrir deu de cara com dois soldados da PM. Ambos sorridentes entraram, arrastando seus coturnos sujos de barro pela sala limpa e cara. _ De boa coroa? – perguntou uns dos policiais, já íntimo do lugar. Algum alvoroço no hall de entrada. Movimento de curiosos. Clodoaldo não se incomodou. Já esperava aquela aparição. _ Podiam ter vindo ontem... _ Sabe como é, coroa: escala e etc. Agora os dois homens já estavam sentados. “Bando de safados”. _ Sabe o quanto me é prazeroso ter negócios com os senhores – Disse Clodoaldo, escorando-se no sofá. Os dois policiais sorriram. Não havia a menor boa vontade, apenas negócios. _ O coroa tá com o bagulho na mão. “Linguagem de marginais. Marginais de farda... isso que são”. _ Mas claro, prontinho esperando. Clodoaldo foi até a estante que ficava nos fundos da sala. Pensou nos seus uísques, que poderiam ser levados por aqueles dois, como da última vez. Melhor agir rapidamente. _ Tá junto... vocês dividem – Falou Clodoaldo ao entregar o envelope com cédulas. Um dos policiais olhou com desdém. Contou rapidamente as notas e levantou-se, seguido do colega. _ Tá ficando pouco, coroa... O negócio tá ficando ruim pra segurar, e sabe como é... “Malditos”. _ Eu digo o mesmo... _ Hum... coroa. Tu sabe que tu tá ganhando bem, coroa. A gente dá o apoio e tá sempre disposto. _ Eu preciso de tempo... _ Tá certo, coroa. Pensa melhor... quem sabe a gente ajude ainda mais. Um negócio dos Diabos. Os curiosos mantinham o ouvido atento. Nada de mais. Era comum policiais no Holiday em busca de ladrões, pequenos traficantes, menores prostitutas. O grande mercado a miséria era completo. E a polícia preferia lucrar contudo combater. _ Isso nunca terá fim. A gente prende a justiça solta. Daqui a pouco tá todo mundo fazendo a mesma coisa. Melhor partilhar... entende: partilhar. Logo que ficou, Clodoaldo socou a parede. Estava inquieto com as novas ameaças. Aqueles polícias não se contentavam e agora pagava o triplo que no começo. Aquilo não valia pena. Uma prisão sem saída. Ou pagar ou cadeia. Novas batidas. “Mal sentei e eles voltam! Será que vão querer o uísque?” Com extrema má vontade Clodoaldo abriu a porta para surpresa não era a polícia. Fosse pior. _ Opa! – Cumprimentou lhe Claudio, jogando os olhos pra dentro do apartamento. “ O que esse pilantra quer aqui?” _ Sim... desculpe, mas tô ocupado demais... _ Mas tenho uma coisa que voc...o Senhor, o Senhor adora. _ Hum! Outro daqueles seus relógios... _ Nada... e além do mais eu paguei pro Senhor aquele engano... _ Engano, né? A indisposição era mútua. “Sempre querendo ganhar na malandragem”. _ Olha, não tenho dinheiro pra nada... _ Sempre a mesma conversa, coroa... _ Verdade... a coisa tá feia. _Mas o produto que tenho pra ti é coisa luxuosa. “ Talvez um negócio”. _E o que seria? – Perguntou Clodoaldo tentando parecer desinteressado. _ Olha – Indicou Claudio a porta onde Mariana estava escorada com o corpo curvado. Clodoaldo ergueu os olhos. “A menina de vestido verde”. Não havia nada. O foco de seu olhar acabou naquele quadro onde o vestido, mesmo sem se mexer, balançava com o vento do mar. Segundos de uma viagem que durou por horas de deslumbramento. A brisa era doce e o sol queimava os olhos – sonho! _ E o que você quer dizer? Conseguiu questionar Clodoaldo, quase sem voz. _ Hum. Ela gosta de coroas, sabe... “Gosta... sim, ela gosta”. _ E daí? _ Bom, ela merece um presentinho... “Um presentinho? Seria bom um presentinho... merece sim”. _ Presentinho? _ Ho, coroa. Tu sabe que tô falando, porra! O tempo voltou ao normal: agora era apenas uma moça de vestido verde escorada na entrada da porta, nada mais. _ Quanto? – Perguntou Clodoaldo. Claudio sorriu. _ Há...fica pelos quinhentos que tô devendo... o que acha? _ O quê? Quinhentos paus? _ Completo coroa... olha aquilo... Clodoaldo olhou com mais calma e pensou que seria melhor ter alguma coisa que nunca receber nada. _ Fica me devendo duzentos... Paga daqui a um mês... Claudio olhou para o chão, mexeu o pé sobre um pedaço de madeira solta da porta. “Vai quebrar o resto”. _ Tá coroa. Fechado... mas te pago duzentos daqui a dois meses. E se não tiver a grana, pago com ela. _ Hum! _ O que me diz? _ Tá, daqui a dez minutos mande ela vir. Clodoaldo fechou a porta na cara de Claudio, quase acertando-o no nariz. “ Verme. Pagando com ela. Verme!. Clodoaldo foi ao banheiro. Precisava ficar limpo. Gilson ainda gritava quando Clodoaldo teve uma ereção, imaginando Mariana.
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 13:12:18 +0000

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