Matéria: Isto É Dinheiro Especial Efeito Obama Há cada vez - TopicsExpress



          

Matéria: Isto É Dinheiro Especial Efeito Obama Há cada vez mais negros no topo das empresas brasileiras - e a presença de Barack Obama na Presidência dos EUA fortalece essa tendência. Mas o preconceito ainda está vivo no mundo corporativo Edison Carlos Souza Dias, diretor-superintendente do banco HSBC, é um profissional com grandes responsabilidades. De sua sala na sede da instituição, em São Paulo, ele comanda um pequeno exército de 50 executivos que se dedicam à prospecção de negócios no rico interior do Estado. Admirado pela competência, refletida nos resultados sempre positivos de sua área, Dias é o retrato de uma mudança histórica no mundo corporativo. Ele é um dos primeiros negros a integrar o alto escalão de uma das maiores instituições financeiras do planeta. Melhor ainda: seu caso não é isolado. Fabiano Cerchiari/ag. istoé Edison Souza Dias, superintendente executivo regional do banco HSBC. Cuida de clientes com faturamento anual acima dos R$ 25 milhões. Graduado em administração de empresas, ele fez diversos cursos de especialização em finanças Um levantamento divulgado recentemente pelo Instituto Ethos demonstrou que, entre 2001 e 2007, dobrou o número de negros nos cargos de gerência das 500 maiores empresas do Brasil. Provavelmente, no futuro próximo alguns desses profissionais vão assumir os altos escalões. Segundo o Ethos, o avanço dos negros na hierarquia empresarial fez aumentar sua presença no topo das corporações, em cargos de presidência, vice-presidência e diretoria-executiva. O índice atual, de 3,5%, ainda é muito baixo, mas a tendência de alta revela que há uma transformação em curso. Para alguns especialistas, a eleição de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos terá um efeito significativo nesse processo. Obama será uma espécie de propagador da eficiência dos negros, um símbolo do espaço que podem -- e devem - ocupar na sociedade. "Trata-se de um fator positivo não apenas para a sociedade americana", diz a consultora Dinor de Oliveira, especialista em cultura empresarial. "O presidente Obama é um exemplo de que a cor da pele não é parâmetro para definir a competência das pessoas." Claudio Gatti/ag. istoé Mario Nelson Carvalho, dono de uma consultoria de projetos em engenharia. Cursou administração de empresas, economia, psicologia aplicada ao trabalho e engenharia A trajetória profissional do superintendente do HSBC confirma que vivemos novos tempos. Há alguns anos, quando trabalhava em outro banco de primeira linha, ele sentiu a força do preconceito. Durante uma reunião de diretoria, foi interpelado por um colega que não aceitava o fato de Dias ter conseguido fechar um contrato milionário com uma grande empresa. O negócio renderia prestígio e o colega branco insistia na tese de que Dias deveria passar o contrato para ele. No auge da discussão, o sujeito fez referências grosseiras à cor da sua pele. "O mundo veio abaixo", recorda Dias. Felizmente, ele recebeu o apoio dos demais colegas, que sugeriram que entrasse com um processo judicial por racismo. Dias, porém, optou pela conciliação. "Sabia que se tratava de uma atitude isolada e que não era compartilhada pela alta cúpula da instituição", afirma. Hoje, ele acredita que manifestações racistas como a de seu ex-colega são cada vez mais raras no mundo corporativo. Abrizia Granatieri/ag. istoé Nelson Narciso, diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Formado em engenharia, ele encontrou nas corporações nas quais atuou um ambiente propício para crescer Para alguns especialistas, a diversidade de raça no ambiente de trabalho é um fenômeno verificado principalmente em corporações multinacionais. No mundo globalizado, as empresas tiveram de aprender a lidar com diferentes culturas, o que pressupõe a convivência com pessoas das mais diferentes origens. Gigantes transnacionais são hoje em dia exemplos acabados de uma sociedade cada vez mais multifacetada. A PepsiCo é presidida por uma indiana. Na Xerox, o cargo mais alto é ocupado por uma negra, mesma cor da pele do todo-poderoso da American Express. As empresas globais não só expurgaram o preconceito como passaram a estimular a diversidade no ambiente de trabalho. Na americana IBM foi criada uma comissão de funcionários apenas para discutir a questão. Na subsidiária brasileira da empresa quem comanda o Grupo de Diversidade de Afrodescendentes é Osvaldo Luís do Nascimento, diretor de recursos humanos da filial. Engenheiro de formação, ele construiu uma trajetória de sucesso na IBM. Assumiu postos de destaque no Brasil e nos Estados Unidos e diz nunca ter sido vítima de nenhum tipo de discriminação. Nascimento acha que há muito por fazer. Segundo ele, um dos grandes desafios do mundo corporativo moderno é oferecer oportunidades iguais para todos. < "Sempre me incomodou o fato de existirem poucos negros em papéis de destaque", diz. Apesar da melhora dos indicadores, o negro ainda está em posição de desvantagem na sociedade brasileira. Segundo o Relatório Anual das Desiguadades Raciais no Brasil; 2007-2008, 67% dos 14,4 milhões de analfabetos do País se declaram negros ou pardos. Do total de 5,8 milhões de estudantes matriculados no ensino superior, apenas 1,7 milhão são negros ou pardos. Mesmo quando a barreira educacional é superada, a desigualdade salarial permanece. O estudo da UFRJ demonstra que, em 2006, o rendimento médio real dos homens não negros era de R$ 1.164 por mês, enquanto os negros e pardos recebiam R$ 586,26. Um abismo ainda maior é observado entre as mulheres negras ou pardas cujo salário médio é 200% menor em relação ao dos homens brancos. "Os números mostram que o acesso do negro à educação e ao mercado de trabalho ainda se dá em condições extremamente desvantajosas", afirma Marcelo Paixão, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, a promoção da igualdade racial no meio corporativo é um objetivo a ser perseguido, especialmente nas empresas de capital nacional. "A questão da diversidade ainda não entrou na agenda de entidades empresariais como a Federação das Indústrias de São Paulo e a Confederação Nacional da Indústria", diz Paixão. Karine Xavier/ag. istoé Edna Cruz, gerente de marketing da TAM, não concluiu o curso de administração. Compensou essa deficiência com cursos realizados na própria empresa e hoje comanda uma equipe de sete pessoas "Os tímidos avanços vividos nesse campo foram fruto de atitudes isoladas ou imposições legais", pondera Mário Lisboa Theodoro, economista e diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas. Muitos dos profissionais que conseguiram ultrapassar os limites impostos pela sociedade aprenderam a se blindar de atitudes que pudessem prejudicar seu desenvolvimento. Diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o engenheiro Nelson Narciso é considerado um dos maiores especialistas do País na área petrolífera. Fez carreira na filial brasileira da sueco-suíça Asia Brown Boveri (ABB), onde comandou a divisão de petróleo e gás. Seu último desafio na iniciativa privada foi a implantação e o comando da subsidiária da ABB em Angola. Narciso tem uma trajetória corporativa pautada pela constante vigília. Como começou a liderar equipes desde que ingressou na faculdade, aos 20 anos de idade, aprendeu a se impor em ambientes hostis. "Sempre me posicionei de uma maneira assertiva, deixando claro que não aceitaria nenhuma brincadeira de conotação racista", conta. < "A discriminação racial existe no Brasil e se manifesta de muitas formas, inclusive no mundo corporativo", afirma o empresário baiano Mario Nelson Carvalho. Oriundo de uma família de baixa renda do interior da Bahia, ele apostou todas suas fichas na educação. Cursou engenharia, administração de empresas, psicologia e economia. Em toda a sua vida estudantil, experimentou a desagradável sensação de ter seus passos vigiados de perto. "Alguns professores cobravam mais de mim que de meus colegas", lembra. "Sempre tive de ser muito melhor para provar que era apenas igual." Hoje um profissional respeitado, ele fez carreira no setor de construção civil, dirigindo importantes companhias da Bahia. Ao montar seu próprio negócio, a Gomes Carvalho Construções, em 1996, descobriu que o pior estava por vir. Quando ia pessoalmente vender um serviço, notava que a recepção sempre era mais fria em relação ao contato telefônico, feito previamente com o mesmo interlocutor. "Cheguei a perder alguns trabalhos que dava como certo", conta. Carvalho resolveu fazer um teste e contratou um executivo branco para atuar na linha de frente. Não deu outra. As matrículas no ensino superior saltaram de 1,9 milhão para 5,8 milhões entre 1995 e 2006. Deste total, apenas 1,7 milhão são negros ou pardos Fonte: Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2007-2008/UFRJ Enquanto o próprio dono era tratado com certa indiferença, seu funcionário branco era recebido com largos sorrisos. Aos 60 anos e dono de um patrimônio considerável, ele até acha graça desses episódios que acabaram se convertendo em combustível para seguir em frente. "Não poderia deixar que o preconceito racial impedisse meu progresso profissional." Expor as dificuldades do passado - e às vezes até do presente - faz parte do processo de amadurecimento da sociedade brasileira. É inegável que o preconceito ainda vigora em certos ambientes profissionais e sociais, mas também é verdade que cresceu a oferta de oportunidades, em especial para os cargos mais cobiçados. Algumas iniciativas louváveis têm contribuído para isso. Recentemente, uma pesquisa realizada na rede bancária de Brasília (DF) mostrou que havia uma desproporção entre o número de brancos e negros que atuavam no setor. Para reduzir a diferença, a diretoria da Federação Brasileira de Bancos se comprometeu junto ao Ministério Público do Trabalho em abrir as portas para parcerias com entidades representativas da comunidade negra, como a Afrobras - mantenedora da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares (Unipalmares), de São Paulo. O convênio garantiu aos alunos da entidade, em sua maioria negros, estágio na rede bancária. Desde então, cerca de 300 pessoas foram contratadas. < Algumas empresas têm estratégias notáveis de inclusão. Gerente de marketing da TAM, Edna Cruz responde por uma área vital da companhia, como a definição do cardápio de refeições, do entretenimento e das compras a bordo - serviços que fisgam o cliente mais do que qualquer outra coisa. Egressa do mundo da moda, Edna sempre usou a facilidade de lidar com o público e a capacidade de trabalhar em equipe como armas para pavimentar seu caminho. "Consegui crescer porque tive a oportunidade de mostrar meu talento", diz. A TAM ofereceu mais do que uma chance profissional. Edna virou garota-propaganda da empresa. Seu largo e lindo sorriso já estampou outdoors e rendeu uma aparição em recente campanha de televisão. É uma mudança e tanto. Se até pouco tempo atrás o preconceito era a regra no País, hoje em dia rostos negros como o de Edna são exibidos com orgulho por uma companhia de sucesso como a TAM. O Brasil possui 14,4 milhões de analfabetos. Desse total, 67,4% deles se declaram negros ou pardos Fonte: Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2007-2008/UFRJ Fonte: terra.br/istoedinheiro-temp/edicoes/625/imprime152487.htm
Posted on: Sun, 14 Jul 2013 17:19:08 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015