Memória: coisa do passado? Desculpem o post meio longo... mas Kati e eu acabamos vivendo neste domingo uma experiência muito impressionante. Fomos ao cemitério do Araçá para o lançamento de Penetrável Genet / Experiência Araçá, uma ideia forte e sensível de Celso Sim e Anna Ferrari, integrante da 10ª Bienal de Arquitetura de São Paulo (no link abaixo, vocês podem saber mais sobre a obra). O fato é que esta obra mexe com algo fortíssimo. Para além da morte e da própria experiência de estar na necrópole do Araçá, a obra leva o visitante ao prédio do Ossário Geral (dentro do cemitério), onde estão guardados desde 1990, entre outros, os restos mortais recuperados da Vala de Perus de 1046 pessoas desaparecidas entre as décadas de 1960 e 1970 - muitas das quais vítimas do que a Folha de S. Paulo gosta de chamar de ditabranda brasileira. Levar o visitante a essa descoberta e a conectar-se de alguma forma às histórias dessas pessoas já bastaria para dizer que a obra merece ser visitada. Mas ela mexe com algo mais do que a história: ela mexe com a memória. E é por isso - pela memória e pelas disputas em torno das explicações para o passado que dão sentido ao que somos hoje e ao que projetamos ser - que ela é forte. Tão forte que ontem, no dia de sua inauguração, o portão de ferro do prédio do Ossário Geral amanheceu arrombado e a obra dentro dele vandalizada. Àqueles que acreditam que a ditadura brasileira é coisa do passado, que ela não tem nada que ver com a nossa sociedade de hoje e que não é preciso escarafunchar a podridão do regime e da parcela da sociedade que o apoiou, espero que episódios como este sirvam pelo menos como um alerta. (Aos “teóricos do revanchismo” e integralistas de plantão: vão ver se eu tô na esquina.) Parabéns ao Celso e à Nani pela coragem, pela sensibilidade e pela honestidade de tocar nessa questão e por nos mostrarem, pelo fato e pelo ficto, como as memórias – e particularmente estas – são coisas do futuro. (A obra será aberta na próxima terça-feira (amanhã), às 12h. Planejo estar lá para a sessão das 14h ou das 15h.) revistabrasileiros.br/2013/11/01/projeto-propoe-ao-visitante-experiencia-artistica-dentro-do-cemiterio-do-araca/
Posted on: Mon, 04 Nov 2013 11:53:30 +0000
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