Muito tenho lido sobre como causas genéricas são vazias. Tenho - TopicsExpress



          

Muito tenho lido sobre como causas genéricas são vazias. Tenho visto tanto a mídia e o Estado falar isso quanto os organizadores de diversos movimentos. E o que eu penso é que há uma crueldade muito grande nessa postura. Sair às ruas pedindo por menos corrupção, por saúde de qualidade e educação de ponta pode não ser prático, mas não é vazio. Por trás dessas queixas há uma longa história de abandono e de indiferença por parte do Estado. É muito mais um sentimento do que uma causa exatamente. Se olharmos pelo viés de como os movimentos se organizaram até hoje, que é o que a maioria das pessoas têm feito, concluiremos que ir às ruas por um sentimento é fútil. Um sentimento assim, difuso, pode de repente aderir a uma causa perigosa. Então é melhor tolher completamente essa possibilidade, seja pra que o movimento não caía nas mãos de reaças como teme a esquerda, ou pra que não se radicalize como teme boa parte da mídia e do governo. O resultado disso é que o sentimento, latente há tanto tempo e só agora vocalizado, perde legitimidade. E poucas coisas são tão violentas quanto dizer pra uma pessoa que o que ela sente não faz sentido ou não tem porquê. É uma violência psicológica, sutil, mas devastadora. O único motivo que eu vejo pra essa violência é um medo, por parte de todos os meios tradicionais de se fazer política, de perder o espaço que conquistaram às custas de tanto trabalho. As pessoas que saíram às ruas estão carentes de um espaço que as reconheça como participantes da democracia e que não as trate como espectadores ou como massa a ser iluminada. É uma vontade de querer fazer parte, mas ninguém está afim de acolher essa galera. E me entristece que seja assim. Porque na falta desse espaço, essas pessoas dificilmente vão conseguir elaborar o que sentem para transformar causas genéricas em objetivos claros. Há muitas nuances nisso tudo, com certeza. Uma parte desse povo sem espaço é aquele grupo de populares do colégio que nunca davam bola pras aulas de história, que zoava quem falava em grêmio e que preferia ir pra academia a discutir a greve marcada pra semana que vem. E só de pensar isso, meio que me embrulha o estômago. Mas sou mais a favor do acolhimento do que da exclusão, talvez porque eu experimentei o ostracismo inúmeras vezes e não o desejo pra ninguém.
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 21:05:00 +0000

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