Nesta madrugada vi o último Coppola – o melhor filme dele em - TopicsExpress



          

Nesta madrugada vi o último Coppola – o melhor filme dele em muitos, muitos anos. A ação transcorria em um casarão de dois ou três andares. No salão principal acontecia uma festa. Uma comemoração. As pessoas usavam roupas de época. Ou talvez não. Na casa em frente, Ewan McGregor andava pelo sótão de um lado para o outro. Usava escutas que nada escutavam, tentando em vão entender as conversações das pessoas na festa. O evento era, ou parecia ser, uma homenagem ao próprio Francis Ford, que agradeceu de um jeito meio sério, meio bonachão. E com alguns comentários ácidos acerca do próprio passado. Em seguida, ele se misturou à multidão festiva de convidados. Até se encontrar com Al Pacino, que neste filme parecia reencontrar o jeito certo de interpretar. Seus olhos transmitiam um vigor que julgávamos perdido. Quase como se fosse dirigido pelo Lumet. Ou pelo próprio Francis de outros tempos. Al confrontou o diretor. Reclamou do discurso do velho barbudo, quando este lembrou um fato antigo que Al alegou não ter sido bem assim. Francis riu e colocou a mão sobre o ombro de Al. E então, saiu do salão. A câmera se tornou subjetiva e avançou por outros recintos, até chegar a uma grande escadaria. A fotografia da cena era amarelada como nos velhos Chefões. Subi as escadas, junto com a câmera. Um avanço lento e melancólico. Adentrei outros quartos. Ouvi ecos de Hitchcock. Vi ecos de Hitchcock. Cada quarto guardava um segredo. Um crime. Uma morte. As paredes refletiam imagens de assassinatos, como as sombras de Hiroshima. Em uma sala verde, uma flecha era guardada como troféu. Ou como souvenir. Soube, sem saber como soube, que uma índia morrera ali. Injustamente. Natalie Portman surgia como um fantasma repleto de culpa. A cena tinha um tom Brando. Francis avançou, pesaroso, até um novo quarto. Al Pacino surgiu por trás dele. Mais uma vez para confrontá-lo. Francis retirou os óculos e os guardou em um estojo de metal. Al disse: - Eu não entendo. Francis sorriu e retrucou, olhando para Al, ou melhor, para a câmera, ou melhor ainda, para mim: - É só um filme. É sempre “só um filme”. Mas nunca é “só um filme”. Por fim, acho que ouvi um tiro. E então eu acordei.
Posted on: Tue, 19 Nov 2013 12:37:13 +0000

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