NÃO DEU NA MÍDIA, MAS DEVERIA : CHEGO AOS 57 E VOU CONTAR UM POUCO DO QUE VIVI !! Era o dia 4 de setembrodo ano de 1956, duas da manhã, quando fiz o meu primeiro protesto: quero nascer. Meu pai ligou para o ponto de táxi...Imagine, se hoje não temos um táxi a esta hora, imagine naquele tempo. Um tio, meu querido e inesquecível tio Wilson..tinha um Ford preto. Mesmo gripado, meteu um cachecol, um sobretudo por cima do pijama e levou minha Lady Laura para a maternidade. Eram 4h35 da manhã quando eu vi a luz do mundo pela primeira vez. Não chorei...talvez já sabendo que choraria muitas decepções e muitas alegrias e emoções no futuro. O médico deu a famosa palmada...abri a boca. Era a vez de minha mãe chorar de emoção. O caçula acabava de chegar ao planeta. Minha infância foi fanstástica. Tive um patinete que eu amava, voava sobre duas rodas...já antecipando que outras duas rodas fariam-me companhia no futuro. Meu irmão, aquariano, só observava o virginiano se divertir muito mais do que ele. Veio da adolescência...descobertas, curiosidades, traumas. Aos 13 anos fui apresentado à morte do meu avô, também Sylvio, eis a origem do Neto. Foi um choque brutal...descobri naquele momento que muita gente tinha morrido naquele dia ( não só meu querido avô ) e que morreriam outros todos os dias. Foi minha primeira pirada. Joguei-me de cabeça no kardecismo. Devorei sua obra básica...tentando descobrir o mistério. Me consolou, um pouco, me confundiu mais. Entre angústias e dúvidas... namoros, festas, amigos, muitos amigos, muitas namoradas. As roupas, como sempre, chocavam parte da sociedade reprimida num subúrbio do Rio, terra onde o Zico deu seus primeiros dribles. Era Quintino, mas logo descobri um tubo que dava acesso a outro mundo muito mais interessante. O tubo era o túnel Santa Bárbara...A zona sul me encantou...as roupas eram compradas por lá, as sandálias de couro, as camisetas coloridas, as calças boca de sino ou pantalonas. Roberto Carlos, Erasmo, Tim Maia .... a Jovem Guarda embalou a minha juventude e as nossas festinhas. Cuba Libre – coca, muito gelo e álcool, nem sempre moderadamente. Decido estudar Comunicação. Nasce um jornalista cheio de sonhos em mudar o mundo...Logo percebi que eu é que precisava mudar. Era 1977, em plena ditadura...e o estagiário de jornalismo foi percebendo, no Jornal O Globo, como a máquina social funciona. Logo, fui trabalhar em televisão...aonde fiquei por dez anos....Sérgio Porto ou o Stanislaw Ponte Preta dizia que a TV era uma máquina de fazer doido. Era e sempre será...Mas também é fascinante! Namoro, casamento e um filho, Lucas, ironicamente, aquariano como meu irmão. Nova geração de aquarianos...mouse, tela de plasma, facebook, skipe...Quantas mudanças! Como mudei. Sempre mudei, sempre mudarei...Só as roupas continuam semelhantes, entraram os lenços no pescoço, os charutos em eventos marcantes, os brincos dos ciganos...aqueles que sempre preferiram ter apenas um endereço – o mundo, mundo vasto mundo, se eu me chamase Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração .o dizia o poeta, Carlos Drummond de Andrade. Decepções vividas... que ensinaram-me caminhos novos ou o retorno a velhos caminhos. Como na passagem bíblica, não olho para trás...não quero me transformar numa estátua de sal, prefiro o açúcar, prefiro o doce, ser doce com os amigos, com a namorada, com os novos amigos! 57 anos...disfarçados pela genética...pelo DNA solidário. Não me preocupo com o tempo...Seria perder tempo. Sigo, curto, enfrento tigres internos e externos. Muitos já partiram, outros chegaram... é a Roda Viva da Vida. Reclamo pouco, agradeço muito. Dentro de apenas 3 anos serei um senhor para a sociedade. Não importa. O que me interessa é o Outro Senhor, o Cristo, meu guia nesta caminhada tão curta, tão breve. Tento viver o que Ele pregou. Tento aplicar o que Ele ensinou. Tento ser um pouco melhor em cada momento. Faço a minha parte..e muitas vezes faço a de outros com a mesma alegria. Sou um passageiro do tempo ou o tempo é que vai passar e me excluir da maior aventura – a aventura de viver? Não importa ! Viver é isso – rir, emocionar-se, chorar, decepcionar-se, cair, levantar, ferir-se, cicatrizar...rir de si mesmo. O senhor pode me dizer às horas? Se alguém me abordar hoje com esta pergunta...responderei: Não tenho hora, não tenho tempo...Tenho apenas a Vida escorregando pelos dias, semanas, meses, anos....e assim se foram 56 anos...Quem perguntou sobre as horas vai ficar sem saber que horas são...Menos eu... Porque quem sabe faz a hora não espera acontecer..o cantava Geraldo Vandré em sua extraordinaria canção revolucionária Para Não Dizer Que Não Falei das Flores ! Flores, virginiano...logo será primavera, trazendo de volta abelhas, pássaros, borboletas e o inacreditável beija-flor. Que venha tudo isso.....e que tudo isso caminhe comigo por mais um ano, dois, três...trinta , trezentos, três mil! Enquanto eu estiver por aqui, serei o que sempre fui … alegre, divertido, amigo dos amigos até sob chuva e frio.... Continuarei amando a natureza...intrigado com sua perfeição, intrigado comigo mesmo.... intrigado com a Vida, esse mistério perfeito, exato. Até o dia em que o grão terá de morrer para germinar, como canta Gilberto Gil. Germinar outra vez, como dizia Buda...o culpado dos meus 57 anos...Afinal, foi ele quem sacou que vivemos a impermanência de todas as coisas. Terrível seria se vivêssemos estagnados em todas as coisas. Se a Terra gira..o poderíamos ficar parados....Foi a grande sacada de Galileu Galilei... Já misturei Buda, Galileu, Geraldo Vandré e Jesus, o meu guru de todas as horas. Obrigado Mestre, obrigado Lady Laura, obrigado aos amigos que me olham com carinho & afeto! Agora, vou misturar o extraordinário Ravel e seu Magnífico Bolero para harmonizar o meu aniversário com a grandeza da música clássica, que eleva, que ilumina, que nos leva para mais perto de Deus! Sylvio Netto, Seja Feliz, Feliz Aniversário !
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 04:04:10 +0000
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