O MEU MUITO OBRIGADO AO MEU ANJO DA GUARDA Há cerca de três - TopicsExpress



          

O MEU MUITO OBRIGADO AO MEU ANJO DA GUARDA Há cerca de três semanas passei por uma nova experiência de vida. Emocionante, diga-se de passagem. Fui vítima de um arrastão! Isso mesmo, eu, num arrastão! O fato se deu nas proximidades da famosa comunidade do Pau Fininho ou "Paufinin" para os mais afeitos ao bom Cearês. Para quem não sabe, o lugar bucólico fica nas proximidades da lagoa do Papicu, mais precisamente nas "costas" do shopping Riomar, futuro maior centro de compras da cidade, já pertinho da Avenida Santos Dumont. A região faz parte de uma APA (Área de Proteção Ambiental) e o seu exemplo se constitui em um dos casos mais emblemáticos em nossa cidade sobre como a omissão do poder público pode ser algo danoso para a sociedade. No passado, quando do início da ocupação - ou seja, quando o problema era bem menos complexo - muitos tiveram a oportunidade de resolvê-lo. Fatores políticos rasteiros, entretanto, nunca permitiram. O resultado é que agora, infinitamente mais complexo, o problema tornou-se - para além de ambiental - sobretudo social e de segurança pública. O Poder Judiciário, como não poderia deixar de ser, haveria de dar a sua "parcela de contribuição" para o imbróglio. Até hoje, de forma inexplicável, não libera a desocupação do conjunto que foi construído e, pasmem, já obviamente ocupado, com a finalidade única de abrigar os primeiros ocupantes da favela, os quais, por sua vez, já haviam se instalado por lá de forma absolutamente irregular. Difícil compreender? De forma bem resumida é o seguinte: é a irregularidade da irregularidade, ou, matematicamente falando, é a irregularidade elevada ao quadrado, ou melhor dizendo, ao metro quadrado! E o que é pior: com o aval da Justiça! Considerando o impacto ambiental da questão, muito maior que o dos viadutos do Cocó, sugiro aos ambientalistas acampados no nosso mais famoso e querido parque redirecionarem suas energias para as imediações do Pau Fininho. Afinal, pelas últimas notícias, deverão desocupar, por imposição de mandato judicial, as sombras das "árvores centenárias" dentro das próximas 24h. Essa será, sem sombra de árvores ou de dúvidas, uma excelente causa ecológica! Bem, voltando ao arrastão propriamente dito, a bem da verdade, não cheguei a ser assaltado. Na ocasião, consegui evitar o pior ao retornar com o meu carro por cerca de intermináveis 250 metros de ré parcialmente abaixado. Tive a sorte de ser advertido por uma senhora que de forma corajosa parou o seu carro - que se encontrava na mão oposta - e gritou, desesperadamente, aos prantos, para que nenhum carro prosseguisse pois estavam "atirando em quem passasse por lá e roubando a todos". Certamente essa mulher salvou algumas vidas. Provavelmente a minha e/ou a do meu filho. Sinceramente, não sei como não bati o automóvel. Eu e mais inúmeros carros, alertados por ela, dirigíamos de ré no sentido da contramão. Motos da polícia se deslocavam apressadamente no sentido oposto. Ouvimos o barulho de tiros. A sensação era literalmente de estar no meio de uma guerra. Lembro dolorosamente do meu filho de apenas 10 anos abaixado no banco de trás aos prantos. Lembro também dos seus gritos de pavor pelo medo - diga-se de passagem, nada exagerado - de levar um tiro na cabeça (ele até hoje tem pesadelos e receio de sair de casa). Verdadeiras cenas de um filme de horror. Filme esse que eu tento não reprisar, mas que, infelizmente, ainda me vem à mente todos os dias. Na ocasião, era noite e eu retornava em direção à avenida Santos Dumont com o meu filho por esse caminho - que para mim é o mais rápido - após buscá-lo em um evento extracurricular do Colégio Antares Papicu. Não ando mais por ali nem por decreto. Recomendo aos amigos que também não o façam, a não ser, é claro, que sejam afeitos a fortes emoções. É uma zona conhecida por seus tiroteios, arrastões, tráfico de drogas, assassinatos a céu aberto e balas perdidas. Engraçado eu só agora saber disso - muitos já sabiam - e a polícia ainda não saber. Devo ser mesmo muito distraído. A polícia, pelo visto, ainda mais. Antes do ocorrido, cheguei a negociar com uma corretora de imóveis a compra de um dos apartamentos que estão sendo construídos num dos empreendimentos residenciais que ficam por detrás do novo shopping. Depois do ocorrido, desisti. Triste, lamentável mesmo, pois o negócio parecia ter lá suas virtudes. Apesar de tudo, consegui vislumbrar neste episódio algo de bom: devo a minha vida e/ou a do meu filho a uma estranha. Alguém que nunca me viu antes, mas que, como um anjo da guarda, se arriscou por desconhecidos. Gostaria de um dia poder agradecê-la pessoalmente, apertar a sua mão, e quem sabe até mesmo abraçá-la. Provavelmente nunca o farei. Afinal, não sou capaz de identificar as suas feições. A luminosidade era baixa e o terror me tornou ainda mais míope. Contudo, são pessoas como esta mulher que me fazem enxergar, com grande clareza, que ainda podemos sim ter a esperança de nos transformar e evoluir como sociedade, como civilização… Portanto, aonde quer que a senhora esteja, o meu muito obrigado!
Posted on: Mon, 30 Sep 2013 02:38:42 +0000

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