O QUE SERÁ QUE O PAPA TOMOU? Como apreciador de vinhos e - TopicsExpress



          

O QUE SERÁ QUE O PAPA TOMOU? Como apreciador de vinhos e atraído pelas reportagens relacionadas à vinda do Papa Francisco e o vinho que foi escolhido para a missa e no almoço em Aparecida acabei ficando motivado e fui visitar a propriedade do produtor no bairro do Caxambu em Jundiaí, SP. A maior surpresa ao chegar foi deparar-me com uma adega e não propriamente uma vinícola. Um local bem cuidado com cartolas e garrafas expostas para comercialização. Não vi setores de produção e engarrafamento, apesar do rótulo indicar que são no mesmo endereço. Os produtos estão à disposição da clientela para degustação e isso é estimulado pelos proprietários. Como não bebo quando dirijo, fiquei na opção visual e olfativa, levando para casa para posterior degustação. Subi uma estradinha de terra para ver as videiras que ainda estão em processo de dormência e com trabalho da poda de inverno. O parreiral das castas Bordô e Niágara estão situados em uma encosta com acentuado declive em terreno arenoso, com muito pedregulho, voltados para o oeste e cercados por bela mata nativa. Há ainda na parte superior um pouco da casta Corvina trazida do Vêneto pelos imigrantes italianos que se fixaram na região de Jundiaí no final do século dezenove. Ao indagar do proprietário a origem da casta Bordô o mesmo disse ser originária da França, confundindo com a famosa região de Bordeaux. Ao contestar essa afirmação o mesmo não foi muito cordial, mostrando total desconhecimento. Na verdade esses cultivares (Niágara e Bordô) são de origem americana. A bordô foi trazida dos Estados Unidos para o Brasil em 1872 por Tower Fogg e plantada inicialmente na capital paulista e depois se espalhou principalmente pelo Rio Grande do Sul onde detém depois da casta Isabel a segunda maior área plantada. Surgiu em Cincinnati, EUA a partir de sementes de Hartford Prolific, obtida por Henry Ives e inicialmente foi chamada de Ives Seedling, uma variedade de Vitis labrusca, segundo Souza e Martins em Viticultura Brasileira, FEALQ, 2002. Atualmente essa variedade só tem alguma expressão no Brasil não sendo mais significativa no país de origem. O produto adquirido (garrafas de 720 ml) não cita o responsável técnico e muito menos a safra, constando o número de registro. Levei muitos dias para tomar coragem em degustá-lo, pois ainda tinha na memória o registro olfativo da ocasião da visita que não me agradou. Comecei pela bordô, pois a Niágara prefiro consumir in natura, por ser variedade de mesa. Trata-se de um vinho destinado a um segmento de consumidor pouco exigente. Acho que o resultado melhor seria na produção de suco, vinagre ou com muito critério do enólogo em cortes para corrigir acidez e cor com outras castas. Por ser uma variedade que pelo seu baixo teor alcoólico necessita de correção do mosto com sacarose (chaptalização) além da elevada acidez, proveniente de ácido tartárico e do baixo teor de taninos que influi no processo de envelhecimento. Embora de elevada intensidade de cor violeta seu corpo é médio e o sabor característico dessa variedade frutado e foxado que não agrada os apreciadores de vinhos de castas mais nobres. Isso não quer dizer que com aprimoramento tecnológico, tanto no vinhedo, como no processamento não se possa obter dessa variedade melhor qualidade, até que a pesquisa encontre um cultivar mais adequado ao terroir desta região e os produtores sejam incentivados a substituí-la. Fico imaginando: apesar da simplicidade do papa Francisco, pela cultura enófila argentina e pelos belos Barolos, Amarones, Brunellos, que os produtores enviam ao Vaticano que tenha vindo ao Brasil e tomado o mesmo produto que está sendo comercializado ou por semelhança: que o conteúdo do que era avaliado pelo Parker seria o mesmo das garrafas destinadas ao mercado?
Posted on: Sun, 25 Aug 2013 12:30:33 +0000

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