O capital culpa a teoria A folha de São Paulo publicou no dia - TopicsExpress



          

O capital culpa a teoria A folha de São Paulo publicou no dia 04/08 uma matéria sobre os possíveis problemas com a formação dos professores. O texto assinado pelo jornalista Fábio Takahashi começa dando ênfase a declaração do atual ministro da educação Aloizio Mercadante “não dá pra formar professor só lendo Piaget”. No decorrer da matéria, Takahashia segue na mesma linha de Mercadante, que resume o problema da educação no Brasil à formação do docente, que segundo a matéria da folha, recebe pouco treinamento e muita teoria para atuar em sala de aula. O discurso de Mercadante e da folha tem, no entanto, trazem em seu conteúdo uma visão de educação e de teoria bastante precária. Os argumento da folha e de Mercante tentam mostrar a existência de uma necessária oposição entre teoria e prática pedagógica, como se a teoria não tivesse seu fundamento na realidade e fosse apenas uma abstração e como se a atividade docente pudesse ser exercida e aprendida de modo não reflexivo. A preocupação com a formação dos professores é legítima e como ministro da educação Mercadante deveria, antes de mais nada, pesquisar e ouvir os principais especialistas no assunto que são os professores e em seguida traçar metas para melhorar essa formação. O ministro, se tivesse realmente preocupação com a formação dos professores, estaria assustado com os resultados que o ENEM demonstrando: os cursos de licenciatura não atraem quase ninguém, devido ao baixo piso salarial dos professores as vagas nos cursos de licenciatura vem sendo preenchidas por estudantes com notas muito baixas no exame, e mesmo assim, boa pare desiste durante o curso. O governo que afirma estar preocupado com a formação dos professores deveria aparelhar as bibliotecas dos cursos de licenciatura, pois, diferente do que diz a matéria da folha, o professor no Brasil não Lê demais, se assim fosse, não teríamos um problema. Trabalho Manual e Mecanicismo O projeto do governo e do capitalismo para a educação é o aprofundamento do ensino meramente tecnicista e a formação do aluno acrítico, fragmentado e conformista. Para construir esse ensino completamente acéfalo é necessário que a atividade docente deixe de ser intelectual, ou seja, que o professor não possua nem um tipo de autonomia sobre o que leciona, não seja um pesquisador e tão pouco apresente ideias originais que instiguem os alunos a produzir conteúdo. A proposta de educação, já em curso, delega ao professor a função de apenas reproduzir aquilo que de forma hierárquica os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) determinam. Um professor com essas características não precisa e, nem pode, ter uma boa formação teórica. O mecanicismo - que atribui ao professor um papel de reprodutor de discursos prontos e separa o ensino e a pesquisa - carece de um professor que se preocupe com a formação a formação humana e crítica de seus alunos e que não pretenda, com as suas aulas, desvelar as contradições que existem na sociedade. O professor ideal do governo e do capital e que a folha de são Paulo defendeu com veemência é aquele que, em suma, não é professor, quando muito, é um tradutor de uma determinada linguagem que os alunos ainda não dominam e que continuarão a não dominar, pois receberão as informações prontas e petrificadas. Nesse modelo de educação o aluno e o professor mantém com o conhecimento uma relação quase que de estranhamento, nem o professor escolhe, o que e como ensinar, e tão pouco os interesses e a realidade do aluno terão alguma importância no processo de construção do conhecimento. Educar para além do capital A educação é um processo pelo qual o homem se humaniza, é um instrumento para desenvolvermos nossas potencialidades e habilidades, formamos valores, superarmos as visões preconceituosas de senso comum, ou como diriam os gregos: passamos da doxa a episteme. O acesso à educação e a cultura é um direito de todos os homens e mulheres. O capitalismo, contudo, criou a sua educação e o seu modelo de escola. Na educação capitalista a muito tempo a teoria perde espaço para a instrumentalização do conhecimento que é voltado exclusivamente para a produção tecnológica, mesmo que essa tecnologia esteja contra a humanidade. A ridicularização da teoria já alcançou uma dimensão tão imensa que é possível ouvir discursos como o de Aloízio Mercadante, inclusive de professores. É lugar comum ouvir de secretários da educação (indicados por políticos) que o problema da educação é a formação do professor com muito conhecimento, mas pouca experiência em sala de aula. O discurso da falta de formação prática esconde problemas concretos gravíssimos, como os baixos salários, excesso de carga horária para tentar completar o orçamento, altíssima quantidade de alunos por sala, falta de estrutura física das escolas que contemplem novas tecnologias e até mesmo a falta de professores em algumas áreas como física e matemática. Resolver todos esses problemas implicaria mais investimentos, mas isso entraria em desacordo com a proposta do capitalismo para a educação, em especial, com as políticas impostas pelo FMI e o BIRD e, outras empresas e bancos com seus institutos e ong’s – que visam a formação de uma mão de obra barata, de reposição ágil e flexível, cujo objetivo é a eliminação de qualquer ideologia que questione o capitalismo e proponha um outro tipo de sociedade e uma educação que sirva como mecanismo de controle social, na medida em que os alunos são colocados dentro das escolas com a intenção de não expô-los a criminalidade, não pratiquem atos criminosos e permita a liberdade de consumo. Ao tentar focar os problemas da educação na formação, supostamente muito teórica e pouco prática do professor, o estado deixa muito evidente que não quer uma escola pensante e nem viva, ao contrário, que a escola deve ser um mero instrumento do capital para a formação de mão de obra, por isso pretende impor como modelo único um ensino técnico, não teórico e pouco ou nada reflexivo. A educação deve ser um direito de todos, pois se trata de algo essencial para a formação intelectual e para o pleno desenvolvimento dos indivíduos, não pode estar sujeita aos ditames do Fundo monetário internacional, e nem submissa aos interesses do capital. A educação como possibilidade de conhecimento da natureza e do homem carece de professores bem formados, isso implica muita leitura, boas condições de trabalho e salários dignos. A posição do ministro Mercadante e da mídia burguesa em defesa de uma educação tecnicista baseada em um falso empirismo e acrítica é a expressão da vontade e da necessidade do capital de ter à escola como um local unicamente formador de mão de obra. A educação da qual a humanidade e, porque não dizer, os trabalhadores precisam é oposta ao capital, é humanista e estimula o pensamento e a sensibilidade. O capitalismo, por sua vez, pela sua essência, não pode ser humanista, nem tão pouco tem interesse no livre pensamento ou na sensibilização do homem pela arte ou cultura, ao contrário, não tem nenhuma dessas exigências, pois para a perpetuação do atual modelo socioeconômico, desumano e excludente é mais vantajoso formar o conformista lacônico. O nosso papel como professores é de fazer oposição ao capital e a educação burguesa, não nos cabe com professores aceitar o papel de trabalho manual, de formadores de mão de obra, ao contrário, temos a obrigação moral de zelar por uma educação que aponte para além do capital.
Posted on: Sat, 17 Aug 2013 01:19:50 +0000

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