O conceito de justiça na obra de Adriano Sella. Lendo Sella, é possível encontrar, em sua obra, alguns aspectos da realidade atual brasileira. Ele diz que “existe entre os ricos e pobres, uma importante disparidade na concepção da paz: enquanto para os primeiros ela é desvinculada da justiça, para os segundos ela é a natural evolução desta. Os discursos dos poderosos da Terra, de fato, ofereceram em geral, um perfil da paz pesadamente desvinculado do empenho pela justiça social”. Sella ainda afirma que “a velha doutrina da resignação levava os pobres a aceitar a miséria, vista como destino, fatalidade, se não como vontade de Deus, e a única estrada para enfrentá-la parecia ser constituídas por formas de apoio, como a esmola ou a assistência social. Hoje, a nova doutrina induza crer que é preciso aceitar o status quo, porque não há nada que possa mudá-lo”. Sendo assim, provavelmente, o grande desafio contemporâneo nas igrejas é fazer os líderes religiosos entenderem a importância dos direitos humanos, de perceberem as injustiças sociais e ensinar as comunidades cristãs a viverem em justiça. Para isso, Sella entende que a paz é o fruto da justiça, quando lembra que “o grande pioneiro dessa ideia foi, sem dúvida, o profeta Isaías, que afirma, no capítulo 32:17: ‘a paz é fruto da justiça’. Segundo os profetas, a paz não é possível sem a realização da justiça de Deus, que se manifesta principalmente na atenção aos pequenos e aos pobres, libertando-os do peso da opressão (o Êxodo oferece o emblema desse conceito de justiça). Por causa disso, uma constante no Antigo Testamento é o apelo a se respeitar os direitos das três categorias consideradas pobres e excluídas naquela época: os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. Os profetas, com muita coragem, questionam o valor da religião e do culto quando estes não conseguem fazer brotar no coração das pessoas a atenção e o respeito pelos excluídos”. Quanto ao Novo Testamento,“o Evangelho propõe a prática de uma vida nova tanto para os pobres quanto para os ricos, e não a observância de uma série de normas baseadas na quantidade de ofertas, cultos, sacrifícios, com o fito de atrair a graça de Deus. Ou seja, exige-se uma diferente qualidade de vida; o ser da pessoa deve transformar-se a partir de um coração novo, um coração ‘de carne’, substituindo o coração ‘de pedra’”. Esses fatores mencionados por Sella, são perceptíveis na cultura brasileira, tanto nas igrejas, como fora dela.
Posted on: Thu, 27 Jun 2013 03:03:23 +0000