O mito da não violência brasileira opera por antinomias, - TopicsExpress



          

O mito da não violência brasileira opera por antinomias, tensões e contradições, que não podem ser resolvidas sem uma profunda transformação da sociedade no seu todo e que por isso são transferidos para uma solução imaginária, que torna suportável e justificável a realidade como ela é. O mito nega e justifica a realidade negada por ele. O mito cristaliza-se em crenças, num grau tal que não são percebidos como crenças, mas tidas não só como uma explicação da realidade, mas como a própria realidade. O mito substitui a realidade pela representação imaginária e torna invisível a realidade existente. O mito resulta de ações sociais e produz como resultado outras ações sociais que o confirmam, isto é um mito produz valores, ideias, comportamentos e práticas que o reiteram na e pela ação dos membros da sociedade. Um mito não é um simples pensamento, mas uma forma de ação. A mitologia da não violência brasileira opera por meio de alguns mecanismos ideológicos que garantem a sua conservação mesmo contra todos os dados factuais contra ela. O primeiro mecanismo é o da exclusão, afirma-se que a nação brasileira é não violenta e se houver violência ela é praticada por gente que não faz parte da nação, mesmo que tenha nascido e viva no Brasil. O mecanismo da exclusão produz a diferença entre um "nós brasileiros não violentos" e um "eles, não brasileiros violentos". Eles não fazem parte do nós. O segundo é o mecanismo da distinção, distingue-se o essencial e o acidental. Isto é, por essência, os brasileiros não são violentos e portanto a violência, quando ela existe, é acidental. É um acontecimento efêmero, passageiro, e é por isso que se diz: "uma epidemia de violência, um surto de violência", que está localizado na superfície de um tempo e de um espaço definidos. Ela é vista portanto como superável e deixa intacta a nossa essência não violenta. O terceiro mecanismo é jurídico, a violência fica circunscrita ao campo da delinquência e da criminalidade, e o crime é definido como ataque à propriedade privada - o furto, o roubo, o latrocínio. Esse mecanismo jurídico permite de um lado determinar quem são os agentes violentos. Em função dos mecanismos anteriores da exclusão e distinção, os agentes violentos são os pobres e entre os pobres, evidentemente, os negros. E legitimar a ação da polícia contra a população pobre e em particular, contra os negros. A ação policial pode ser considerada às vezes violenta, ela recebe o nome de chacina, massacre, quando de uma só vez e sem motivo o número de assassinados é muito elevado. No restante das vezes, porém, o assassinato policial é considerado normal e natural, uma vez que ele protege o "nós, não violentos" contra o "eles violentos". Finalmente, o último mecanismo é o da inversão do real, graças à produção de máscaras que permitem dissimular comportamentos, ideias e valores violentos como se fossem não violentos. M. Chauí
Posted on: Fri, 26 Jul 2013 15:39:35 +0000

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