“O seguro” Fomos a primeira turma, eu e mais 14 presos, de Sr. - TopicsExpress



          

“O seguro” Fomos a primeira turma, eu e mais 14 presos, de Sr. Do Bonfim – BA, a chegarmos no CPJ ( conjunto penal de Juazeiro), após a rebelião de 19/11/2012 nós chegamos no presídio em 30/01/2013: como primeira turma a ser transferida para o CPJ, nós fomos como que “cobaias” de uma nova formatação na administração e relacionamento prisional – os presos estavam passando por um regime a “ferro e fogo”, de disciplina: eles estavam, desde a rebelião encurralados – o presídio, no raio b passou por uma reforma que diziam ter custado aproximadamente 300 mil reais: e, é claro, a administração, de alguma forma, “cobraria” isto dos presos! Os presos do raio b já haviam passado por grande privação: de comida, de higiene, de espaço, de visitas – foram testados até o seu limite máximo: tiveram que ficar em “celas containers” que, com espaço para 8 pessoas, cada cela, e sem o mínimo de conforto, dividiam o espaço com cerca de 30 presos! - As brigas eram freqüentes, e, houve presos que, em cerca de 30 dias, perderam cerca de 20 quilos: e ficaram doentes, subnutridos e fragilizados! Outra turma havia ficado na “cela do seguro”: com espaço para 04 pessoas, ficaram 29 presos! Encurralados, sem conforto, no maior calor, “alimento” de pernilongos, com espaço reduzido e sem higiene: foi nesta cela que eles ficaram por cerca de 30 dias, até poderem, os presos voltarem para o raio, para as celas do andar superior, que chamam de “favelas” – é que a ala de baixo, do raio b, ainda estava em reforma: e, retornando, todos, para o raio, foram, todos, encurralados no andar de cima, até ficar pronta a parte de baixo – e, então, todo o raio reconstruído, todos foram alojados nas celas: e foi aí que, então, eu e os 14 presos, os primeiros a chegar ao raio b, fomos recepcionados – nós ficamos na “cela seguro” por 12 dias! E foram dias inesquecíveis para mim: foi a primeira vez que, após preso por 2 anos, me senti preso! Mas, antes de ser transferido para o CPJ – eu ainda dormir na cadeia de Sr. Do Bonfim, por uma noite (29/01/13): e, ali, fui bem recebido! E, acreditem presos ali já tinham ouvido falar de minha história! E, por ter tido um bom relacionamento e bom testemunho na cadeia, sendo amigo das detentas que saíram da cadeia de Sr. De Bonfim, para a cadeia de Antonio Gonçalves, estas, se tornaram amigas minhas e, por mim e pelos demais foram bem tratadas, e com respeito – Sim, graças a estas presas, quando fui dormir na cadeia de Sr. Do Bonfim, para, no outro dia ser transferido para o CPJ: elas deram um jeito e, quando cheguei na cadeia de Bonfim, fui muito bem tratado – agradeço a Sheila e as demais, pois, tendo amizade com presos de Bonfim, eles, por carinho a elas me trataram muito bem e com mordomia... Na manhã de 30/01/2012, fomos transferidos para o CPJ: e, antes de eu sair da cadeia, foi-me permitido conversar com um preso que estava no corro – o “arueira” – este estava preso na cadeia de Antonio Gonçalves e, ficamos, lá, na mesma cela: e foi ele, dentre os demais, que teve a minha amizade e que me respeitou – ele havia cerrado a grade da cela ( só tínhamos, em Antonio Gonçalves, de homens, presos, eu, ele, e mais um preso), e fugiu à noite: ele conseguiu cerrar as grades da cela e, já após eu dormir (eu dormia religiosamente às 22h!) e quando acordei (eu acordava religiosamente às 7h!) - ele já não estava mais na cela, havia fugido – ele, por diversas vezes, falou em fugir, cavando buracos na cela e arrependido, os tapava novamente: eu uma vez fiquei a observá-lo cavar um buraco – ele o cavou profundo, no “boi” (é o banheiro!), e desistiu! E teve que tapá-lo, de novo: jogavam a areia no “boi” – e sempre me pediu conselhos: eu conhecia a sua família e gostava da amizade dele: eu dizia que precisávamos enfrentar nossos erros – se os devesse e pagar o que a justiça nos cobrava, mesmo que nós não os devêssemos: mas sempre falarmos a verdade – e, então, ele desistia: mas, desta vez, ele não quis conversar comigo, falar que ia fugir – pois sabia que eu iria convencê-lo a não fugir: a famíla gostava dele, o visitava, e queriam resgatá-lo, restaurá-lo a família – demonstravam amá-lo e queriam que ele pagasse a pena, para voltar para casa! Mas ele fugiu – e, no outro dia, cedo, encontramos a cela aberta, e fomos (eu e o outro preso que ficou) colocados no “corro”: até a grade ser soldada e voltamos, no outro dia, para a nossa cela – houve inquérito e o delegado nos ouviu: falei o que sabia e o delegado, intrigado, me perguntou por que eu não fugi – eu pedi que ele registrasse: “eu não fugi, porque a justiça me deve muito; e eu, inocente, não daria hálibe ou não os muniria com argumentos que aliviariam a sua consciência” – o delegado se recusou a registrar isto! Mas, eu deixei pra lá, e permiti que ele registrasse: “porque eu não quis”! E, este mesmo “Arueira”, que fugiu da cadeia de Antonio Gonçalves, logo foi encontrado e detido, e transferido para a cadeia de Sr. Do Bonfim, onde, antes de eu ser transferido para o CPJ, tive o privilégio de falar com ele, no corro – e foi ali que ele me viu e me chamou! Ele já tinha feito a minha “propaganda” no corro e na cadeia de Bonfim, sobre o meu comportamento: que eu era inocente, que era bondoso, que ajudava as pessoas, que tratava bem os presos e lutava pra que não os tratassem com injustiça – e falava, eu, contra o tratamento injusto aos presos: enfim, eu o encontrei, ele me chamou, o agente permitiu que eu conversasse um pouco com ele; conheci outros presos, e ele me pediu um favor – um preso que estava no “corro”, iria ser transferido, conosco, para o CPJ: ele queria que eu pedisse ao agente para que este preso viesse manietado (com algemas) a mim – pra que eu lhe confortasse, lhe aconselhasse e o acalmasse: ele era “213” (=estupro), já tinha tentado suicídio, e estava com medo de ser transferido para o CPJ, pois diziam que ele iria sofrer lá! – eu aceitei o desafio e viemos juntos, numa van, com conforto, ao CPJ: no caminho, muito conversamos, e ele disse que foi bom ter vindo comigo – que se sentia seguro: e, de fato, ele estava confortado e, nos 12 dias na “cela seguro”, que moramos juntos, me aproximei dele: até que, após os 12 dias, fomos para o raio – eu e mais 06 presos, para o “raio b”: ele e mais sete presos, para o “raio a”. Chegando ao CPJ, fomos para a triagem – o reconhecimento, a troca de roupa: recebemos uniformes iguais e azuis (até hoje, só recebi um conjunto!), um copo, uma talher, 2 toalhas – ali, na triagem, íamos a uma sala, ficávamos pelados, éramos analisados quanto a marcas no corpo, vestíamos o uniforme e voltávamos para o ‘hol.”: aqui, um grandão, o chefe dos agentes, algumas vezes nos humilhava verbalmente – “vocês são nossa propriedade agora; vocês nos pertencem!”: e faziam gracejos – quando os presos iam andando até a sala de triagem, algum agente (não todos, e nem em todos os presos) colocava calços pra eles tropeçarem, os cachorros latissem, e serem motivos de chacotas, “comédia”: mas alguns agentes eram bondosos! À minha vez, antes ouvi dizerem: aquele ali é um intelectual, é inteligente e bem estudioso – e, de certa forma, fui tratado com distinção: depois, eu saberia que os presos do raio b, já sabiam de minha ficha – que viria um preso inteligente! Já na “cela seguro”, todos os 15 presos, fomos ao DPJ (Departamento de polícia Judiciária) para fazer exame de “corpo de delito” – retornando, fomos os 12 ali pra cela: havia uma triagem e cadastro – fomos preencher fichas, entrevista com psicólogos, assistente social, ao dentista – mas eram consultas rápidas e só “pró- form”; sem nenhum (ou quase nenhum) interesse de ajudar ou beneficiar o preso: iguais aqueles exames admissionais, de trabalho, que o médico, na maioria das vezes, idoso e sem nenhum profissionalismo, nem te olha; pergunta, mas não espera a resposta e te dá um “laudo”, ao custo do valor de uma consulta médica! Bem, voltamos à “cela seguro”: aqui, nos 12 dias, passamos a maior privação! – quase privação de total dignidade: vestuário, alimentação e, o pior, conforto, e o pior ainda: sem banho – todos escassos ou em quantidade insuficiente! Não permitiam que tivesse acesso aos meus livros – nenhum: nem a bíblia e, eu, passaria aproximadamente 30 dias até ter acesso a um pedaço de lápis ou um pouco de tinta de caneta, para escrever em rolos de papel higiênico – somente com o início das aulas que eu teria acesso a papel e caneta, pouco e regrado, que os “comprava”, trocando por pão, ou alimento da compra semanal, com presos: e li os primeiros livros, porque os professores traziam, e os presos me emprestavam! Na “cela seguro”, o banho era regrado, a alimentação não era boa: foi a primeira vez, após dois anos de cadeia (e só bebia água mineral!) – sem boa higiene e não de boa qualidade: o café, que o chamavam de “petróleo”, as marmitas, um caos! Mas precisei me acostumar, muito embora, vez por outra, o meu estômago ainda os rejeita! O banho era rápido – defecar era um grande suplício e constrangimento, à vista de 14 presos, e deveria ser às pressas, pois, a água regrada, por tempo, não dava tempo de todos usarem o “boy”: assim, a higiene era quase nula – passamos 12 dias com as toalhas sujas, com um short apenas, e uma camiseta: já cheirava horrivelmente – e, a cueca, uma podridão total: foram dias terríveis – ainda me lembro dos fumantes, já estressados, sem o “pacaia” (fumo): e, não tendo pacaia, improvisavam papel, fogo – fumava papel “untado” com creme dental, ou com “teias de aranha”! Ali, já amigo dos 14, eu era como que um psiquiatra – eles me confessavam seus fracassos, os seus erros, e até mesmo as injustiças sofridas: eu os ouvia atentamente, e os entendia, e não os discriminava – até hoje, presos me contam muito sobre suas vidas pessoais, me pedem conselhos, e dizem: “professor, nos seus livros, você escreve um pouquinho sobre mim, e sobre minha história?” – eu respondo: “vocês já são parte do livro da minha vida; não custa nada eu acrescentá-lo à vida dos meus livros”! Quando saímos da cela seguro, alguns dos presos ficavam com medo de sofrerem violência no raio, mas, pelos presos do raio b, fomos calorosamente bem recebidos e, eu, novato entre eles, inexperiente neste ambiente, estava “seguro”, confiante e de certo de que Deus estava guardando os meus passos – já no raio, em pouco tempo eu seria bem querido entre os presos: e, minha história, por eles, conhecida... Por CSSantos em 08/08/2013 “O seguro” Fomos a primeira turma, eu e mais 14 presos, de Sr. Do Bonfim – BA, a chegarmos no CPJ ( conjunto penal de Juazeiro), após a rebelião de 19/11/2012 nós chegamos no presídio em 30/01/2013: como primeira turma a ser transferida para o CPJ, nós fomos como que “cobaias” de uma nova formatação na administração e relacionamento prisional – os presos estavam passando por um regime a “ferro e fogo”, de disciplina: eles estavam, desde a rebelião encurralados – o presídio, no raio b passou por uma reforma que diziam ter custado aproximadamente 300 mil reais: e, é claro, a administração, de alguma forma, “cobraria” isto dos presos! Os presos do raio b já haviam passado por grande privação: de comida, de higiene, de espaço, de visitas – foram testados até o seu limite máximo: tiveram que ficar em “celas containers” que, com espaço para 8 pessoas, cada cela, e sem o mínimo de conforto, dividiam o espaço com cerca de 30 presos! - As brigas eram freqüentes, e, houve presos que, em cerca de 30 dias, perderam cerca de 20 quilos: e ficaram doentes, subnutridos e fragilizados! Outra turma havia ficado na “cela do seguro”: com espaço para 04 pessoas, ficaram 29 presos! Encurralados, sem conforto, no maior calor, “alimento” de pernilongos, com espaço reduzido e sem higiene: foi nesta cela que eles ficaram por cerca de 30 dias, até poderem, os presos voltarem para o raio, para as celas do andar superior, que chamam de “favelas” – é que a ala de baixo, do raio b, ainda estava em reforma: e, retornando, todos, para o raio, foram, todos, encurralados no andar de cima, até ficar pronta a parte de baixo – e, então, todo o raio reconstruído, todos foram alojados nas celas: e foi aí que, então, eu e os 14 presos, os primeiros a chegar ao raio b, fomos recepcionados – nós ficamos na “cela seguro” por 12 dias! E foram dias inesquecíveis para mim: foi a primeira vez que, após preso por 2 anos, me senti preso! Mas, antes de ser transferido para o CPJ – eu ainda dormir na cadeia de Sr. Do Bonfim, por uma noite (29/01/13): e, ali, fui bem recebido! E, acreditem presos ali já tinham ouvido falar de minha história! E, por ter tido um bom relacionamento e bom testemunho na cadeia, sendo amigo das detentas que saíram da cadeia de Sr. De Bonfim, para a cadeia de Antonio Gonçalves, estas, se tornaram amigas minhas e, por mim e pelos demais foram bem tratadas, e com respeito – Sim, graças a estas presas, quando fui dormir na cadeia de Sr. Do Bonfim, para, no outro dia ser transferido para o CPJ: elas deram um jeito e, quando cheguei na cadeia de Bonfim, fui muito bem tratado – agradeço a Sheila e as demais, pois, tendo amizade com presos de Bonfim, eles, por carinho a elas me trataram muito bem e com mordomia... Na manhã de 30/01/2012, fomos transferidos para o CPJ: e, antes de eu sair da cadeia, foi-me permitido conversar com um preso que estava no corro – o “arueira” – este estava preso na cadeia de Antonio Gonçalves e, ficamos, lá, na mesma cela: e foi ele, dentre os demais, que teve a minha amizade e que me respeitou – ele havia cerrado a grade da cela ( só tínhamos, em Antonio Gonçalves, de homens, presos, eu, ele, e mais um preso), e fugiu à noite: ele conseguiu cerrar as grades da cela e, já após eu dormir (eu dormia religiosamente às 22h!) e quando acordei (eu acordava religiosamente às 7h!) - ele já não estava mais na cela, havia fugido – ele, por diversas vezes, falou em fugir, cavando buracos na cela e arrependido, os tapava novamente: eu uma vez fiquei a observá-lo cavar um buraco – ele o cavou profundo, no “boi” (é o banheiro!), e desistiu! E teve que tapá-lo, de novo: jogavam a areia no “boi” – e sempre me pediu conselhos: eu conhecia a sua família e gostava da amizade dele: eu dizia que precisávamos enfrentar nossos erros – se os devesse e pagar o que a justiça nos cobrava, mesmo que nós não os devêssemos: mas sempre falarmos a verdade – e, então, ele desistia: mas, desta vez, ele não quis conversar comigo, falar que ia fugir – pois sabia que eu iria convencê-lo a não fugir: a famíla gostava dele, o visitava, e queriam resgatá-lo, restaurá-lo a família – demonstravam amá-lo e queriam que ele pagasse a pena, para voltar para casa! Mas ele fugiu – e, no outro dia, cedo, encontramos a cela aberta, e fomos (eu e o outro preso que ficou) colocados no “corro”: até a grade ser soldada e voltamos, no outro dia, para a nossa cela – houve inquérito e o delegado nos ouviu: falei o que sabia e o delegado, intrigado, me perguntou por que eu não fugi – eu pedi que ele registrasse: “eu não fugi, porque a justiça me deve muito; e eu, inocente, não daria hálibe ou não os muniria com argumentos que aliviariam a sua consciência” – o delegado se recusou a registrar isto! Mas, eu deixei pra lá, e permiti que ele registrasse: “porque eu não quis”! E, este mesmo “Arueira”, que fugiu da cadeia de Antonio Gonçalves, logo foi encontrado e detido, e transferido para a cadeia de Sr. Do Bonfim, onde, antes de eu ser transferido para o CPJ, tive o privilégio de falar com ele, no corro – e foi ali que ele me viu e me chamou! Ele já tinha feito a minha “propaganda” no corro e na cadeia de Bonfim, sobre o meu comportamento: que eu era inocente, que era bondoso, que ajudava as pessoas, que tratava bem os presos e lutava pra que não os tratassem com injustiça – e falava, eu, contra o tratamento injusto aos presos: enfim, eu o encontrei, ele me chamou, o agente permitiu que eu conversasse um pouco com ele; conheci outros presos, e ele me pediu um favor – um preso que estava no “corro”, iria ser transferido, conosco, para o CPJ: ele queria que eu pedisse ao agente para que este preso viesse manietado (com algemas) a mim – pra que eu lhe confortasse, lhe aconselhasse e o acalmasse: ele era “213” (=estupro), já tinha tentado suicídio, e estava com medo de ser transferido para o CPJ, pois diziam que ele iria sofrer lá! – eu aceitei o desafio e viemos juntos, numa van, com conforto, ao CPJ: no caminho, muito conversamos, e ele disse que foi bom ter vindo comigo – que se sentia seguro: e, de fato, ele estava confortado e, nos 12 dias na “cela seguro”, que moramos juntos, me aproximei dele: até que, após os 12 dias, fomos para o raio – eu e mais 06 presos, para o “raio b”: ele e mais sete presos, para o “raio a”. Chegando ao CPJ, fomos para a triagem – o reconhecimento, a troca de roupa: recebemos uniformes iguais e azuis (até hoje, só recebi um conjunto!), um copo, uma talher, 2 toalhas – ali, na triagem, íamos a uma sala, ficávamos pelados, éramos analisados quanto a marcas no corpo, vestíamos o uniforme e voltávamos para o ‘hol.”: aqui, um grandão, o chefe dos agentes, algumas vezes nos humilhava verbalmente – “vocês são nossa propriedade agora; vocês nos pertencem!”: e faziam gracejos – quando os presos iam andando até a sala de triagem, algum agente (não todos, e nem em todos os presos) colocava calços pra eles tropeçarem, os cachorros latissem, e serem motivos de chacotas, “comédia”: mas alguns agentes eram bondosos! À minha vez, antes ouvi dizerem: aquele ali é um intelectual, é inteligente e bem estudioso – e, de certa forma, fui tratado com distinção: depois, eu saberia que os presos do raio b, já sabiam de minha ficha – que viria um preso inteligente! Já na “cela seguro”, todos os 15 presos, fomos ao DPJ (Departamento de polícia Judiciária) para fazer exame de “corpo de delito” – retornando, fomos os 12 ali pra cela: havia uma triagem e cadastro – fomos preencher fichas, entrevista com psicólogos, assistente social, ao dentista – mas eram consultas rápidas e só “pró- form”; sem nenhum (ou quase nenhum) interesse de ajudar ou beneficiar o preso: iguais aqueles exames admissionais, de trabalho, que o médico, na maioria das vezes, idoso e sem nenhum profissionalismo, nem te olha; pergunta, mas não espera a resposta e te dá um “laudo”, ao custo do valor de uma consulta médica! Bem, voltamos à “cela seguro”: aqui, nos 12 dias, passamos a maior privação! – quase privação de total dignidade: vestuário, alimentação e, o pior, conforto, e o pior ainda: sem banho – todos escassos ou em quantidade insuficiente! Não permitiam que tivesse acesso aos meus livros – nenhum: nem a bíblia e, eu, passaria aproximadamente 30 dias até ter acesso a um pedaço de lápis ou um pouco de tinta de caneta, para escrever em rolos de papel higiênico – somente com o início das aulas que eu teria acesso a papel e caneta, pouco e regrado, que os “comprava”, trocando por pão, ou alimento da compra semanal, com presos: e li os primeiros livros, porque os professores traziam, e os presos me emprestavam! Na “cela seguro”, o banho era regrado, a alimentação não era boa: foi a primeira vez, após dois anos de cadeia (e só bebia água mineral!) – sem boa higiene e não de boa qualidade: o café, que o chamavam de “petróleo”, as marmitas, um caos! Mas precisei me acostumar, muito embora, vez por outra, o meu estômago ainda os rejeita! O banho era rápido – defecar era um grande suplício e constrangimento, à vista de 14 presos, e deveria ser às pressas, pois, a água regrada, por tempo, não dava tempo de todos usarem o “boy”: assim, a higiene era quase nula – passamos 12 dias com as toalhas sujas, com um short apenas, e uma camiseta: já cheirava horrivelmente – e, a cueca, uma podridão total: foram dias terríveis – ainda me lembro dos fumantes, já estressados, sem o “pacaia” (fumo): e, não tendo pacaia, improvisavam papel, fogo – fumava papel “untado” com creme dental, ou com “teias de aranha”! Ali, já amigo dos 14, eu era como que um psiquiatra – eles me confessavam seus fracassos, os seus erros, e até mesmo as injustiças sofridas: eu os ouvia atentamente, e os entendia, e não os discriminava – até hoje, presos me contam muito sobre suas vidas pessoais, me pedem conselhos, e dizem: “professor, nos seus livros, você escreve um pouquinho sobre mim, e sobre minha história?” – eu respondo: “vocês já são parte do livro da minha vida; não custa nada eu acrescentá-lo à vida dos meus livros”! Quando saímos da cela seguro, alguns dos presos ficavam com medo de sofrerem violência no raio, mas, pelos presos do raio b, fomos calorosamente bem recebidos e, eu, novato entre eles, inexperiente neste ambiente, estava “seguro”, confiante e de certo de que Deus estava guardando os meus passos – já no raio, em pouco tempo eu seria bem querido entre os presos: e, minha história, por eles, conhecida... Por CSSantos em 08/08/2013
Posted on: Wed, 14 Aug 2013 03:06:40 +0000

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