“Olha que confusa, ela ainda sentia o próprio abandono. A - TopicsExpress



          

“Olha que confusa, ela ainda sentia o próprio abandono. A menina se perdia em seu próprio quarto, e achava uma imensidão aqueles metros quadrados. Ela nunca soube em que estação estava, se era inverno ou verão, se o outono passava ela não via as folhas caindo, se a primavera chegava ela não via a vida florescer - coitada, nem viu o tempo passar. Ela nunca conseguiu explicar o peso da sua solidão, seu amor pelo desamor, seu ódio por um pouco de tudo, seu apego pelo que não se apegou, ou sua saudade pelo que não quis ficar. Virou amante do silêncio, escutava sua respiração na pausa entre uma música e outra. Ela sorria forçado tentando enganar a tristeza que a desolava, era uma criatura doce mas cheia de veneno. Seus pensamentos começavam sem motivo e terminavam sem razão. Ela criava seu arco-íris com cores imaginárias para tentar colorir um pouco aquela vida incolor. Dizia tudo com suas atitudes, e tentava expressar sua alma através de seus gestos não expressados. Ela sentia vontade de mudar um mundo que nem conhecia. Olha que confusa, ela ainda sentia uma sede insaciável por respostas de perguntas que ela nunca conseguiu responder. Já não acreditava na magia que se escondia atrás dos olhos de alguém. Ela ainda se sentia necessária, mesmo que em seu próprio universo, e tentava se decifrar naquele paralelo inverso. Ela era um livro que jamais escreveu, pois nenhuma palavra que ela sabia conseguiu retratar seu próprio descontentamento com aquela humanidade desumana. Ela relembrava sua infância com o coração apertado, e chorava fácil quando percebia que era um tempo que jamais havia de voltar. Ela parou de sonhar, dormiu menos, e quis um mundo que ela pudesse chegar sem sair do seu porto seguro, e foi a condição mais bonita que ela encontrou pra continuar existindo depois de tanta mágoa, mesmo que fosse naquele emaranhado confuso que ela não conseguia mais se livrar. No fundo ela sempre soube que se reinventou pra tentar curar algumas cicatrizes que jamais iriam fechar.”
Posted on: Mon, 09 Sep 2013 07:18:28 +0000

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