Os presos do protesto de terça-feira vão sendo libertados do presídio de Bangu, no ritmo em que os juízes se veem compelidos a revogar as aberrações jurídicas produzidas pelo governo do estado. Agora, está claro como a única solução aceitável vai se impondo: a imediata liberdade de todos os que faltam, sem esquecer os 20 menores, e com os inquéritos arquivados por absoluta inconsistência probatória. Mas não podemos e não vamos parar aí. É preciso ir até o fundo dessa tramoia que tentou calar e esmagar o ativismo carioca. Nas últimas semanas, um esforço orquestrado entre governos, grande mídia e os grandes empresários levou a criminalização de manifestantes no Rio ao extremo da chicana. E pior, com a assumida conivência da esfera federal. Em ânimo extemporâneo, o governo Dilma já expôs a sua opção pela gradativa militarização da repressão política, com polícia secreta e tudo. Mas não funcionou e não vai funcionar. O efeito disso tudo tem sido a generalização e radicalização da própria população, que não é estúpida para acreditar na capa do Globo. Qualquer enquete que você abrir hoje vai dar vitória pras manifestações, mesmo com perguntas enviesadas tentando demonizar a tática black bloc, os mascarados ou os vândalos. O efeito dessas tentativas está sendo exatamente o contrário do pretendido: a população se sentir representada, e passar a assumir abertamente o black bloc, os mascarados e os atos de vandalismo. Os ideólogos e intelectos do governo não estão vendo o óbvio. Os protestos não estão calcados sobre o vazio. Não se trata de nenhuma minoria inexpressiva e barulhenta, com ideologias ultrapassadas. Não é isso. Os protestos estão, de fato, a toda evidência, calcados numa base material de privações, sofrimentos e indignações. Diante de uma recusa da maneira como governam e progridem o Rio e o Brasil. Ou o governo ouve as manifestações e se dedica a tratar política e democraticamente dessa base material, ou continuará dando murro em ponta de faca, sangrando todos seus índices de popularidade e sustentação. Pode sangrar até chegar na Copa, quando a coisa pode ficar realmente drástica. A chefe da polícia civil insiste em pedir uma mudança de postura dos manifestantes. Quão sem moral um pedido desses diante do que se está vendo. O governo precisa olhar pro próprio umbigo e mudar de atitude, antes de qualquer pedido. O quanto antes, enquanto ainda dá tempo de tentar compor uma abertura, uma saída, uma forma de regenerar as instituições com a democracia das ruas. A fantasia é real, senhores, e está ganhando força.
Posted on: Sun, 20 Oct 2013 01:00:04 +0000
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