Os ventos que sopravam naquela cidade Era uma cidade triste. - TopicsExpress



          

Os ventos que sopravam naquela cidade Era uma cidade triste. Andávamos em suas ruas cobertas de incertezas e trágicas alterações. Eu e mais alguns visionários cambaleantes. Costumávamos debater sobre o destino de nossa pequena cidade, sem nenhuma perspectiva de modificação. Ela não era tão ingênua para nós da mesma maneira como se apresentava para alguns transeuntes e também para os cultores simplórios de suas facetas óbvias. Lembrávamos de nossas raízes e de nossas conquistas efêmeras ao mesmo tempo em que cogitávamos as possíveis conquistas do porvir. Era uma época nostálgica e desafiadora. Para nossas vidas e nossos caminhos. Nossa cidade estava crescendo e sua desfiguração era uma metáfora para as mudanças que iriam se manifestar sobre nós. O velho Mafuá permeava minha alma como um xamã permeia seus crentes. E íamos. E fomos. Naqueles tempos, eu poderia prever facilmente o nosso destino associando-o à nossa cidade triste. Os ventos começaram a soprar em direções opostas e nossas vidas também. Mas o meu Mafuá não perdia sua essência. A cidade, porém, modificava-se. Meus amigos também. Assim como eu. Não seríamos mais os mesmos. Nossos rompantes poéticos deram lugar a novas formas de contemplação. Mas é assim mesmo. O mundo nos ensinou perfeitamente e nós aprendemos. A cidade, palco de tantos planos, com suas ruas que ensaiavam um crescimento, com suas avenidas longas e brilhantes, com seu provincianismo pueril, com suas monótonas linhas, bem, ela estava sempre lá. Tudo isso, apesar de tudo, era uma satisfação para mim. Bifurquei-me em resposta a tudo aquilo. Meus amigos também. Nossa cidade era triste. Sabíamos disso. Era bela, mas era triste. E mudava. Também mudamos. Realmente não seríamos mais os mesmos. Talvez uma saída para nossas angústias. Mas o meu Mafuá permanecia como sempre fora, assim como nossos passos naquela avenida suntuosa e bela nas muitas horas sem sono que tínhamos. Os bêbados e desvalidos, esses nunca nos importunavam, mas sim o contrário, e nossos risos, desinteressados e vagos, eram um reforço para a tristeza e decepção pela busca desenfreada por um prazer efêmero ou talvez duradouro que escorregava e ao mesmo tempo se dissipava quando os nossos olhos tristes fitavam-se em decifrações deveras melancólicas. O Mafuá era a minha cercania preferida daquela cidade e ele não perdia suas peças fundamentais, já que elas lhes eram necessárias para sua própria conservação. Nós crescemos para nunca mais voltar ao lugar onde nascemos. E nossos caminhos talvez fossem os mesmos, mas os locais de destino demonstravam que um ponto comum não seria um alvo tão sedento entre nós. Nossa cidade, ela não era mais uma menina como todos aqueles cantores falavam. Ela estava em transição, e isso certamente era o nosso ponto comum, mas um ponto comum compartilhado de forma indireta e sem consenso. Eu sabia que as coisas não eram mais tão óbvias. E nunca mais seriam. José Vieira Neto – 26/03/2011
Posted on: Sun, 28 Jul 2013 21:47:58 +0000

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