Palavras de um amigo meu : Nidi Bueno O GRITO: Microensaio sobre - TopicsExpress



          

Palavras de um amigo meu : Nidi Bueno O GRITO: Microensaio sobre as Manifestações Independentemente de suas razões e formas, as manifestações que têm tomado conta do país são, no mínimo, surpreendentes. Essa caraterística deve-se, dentre outros, ao fato delas romperem com três estereótipos que são verdadeiros paradigmas da autoimagem nacional. O primeiro deles é o de que o povo brasileiro é passivo. Os livros didáticos de história contribuem significativamente para a reprodução desse paradigma, na medida em que alardeiam as sentenças curtas e ferinas de Lima Barreto e Aristides Lobo sobre o evento fundacional da República, isto é, a Proclamação. “O Brasil não tem povo, tem público”: disparou o primeiro. “E o povo a todas essas? Bem, o povo assistiu a tudo bestializado”: cravou o segundo. Ora, essas sentenças ficam totalmente inócuas diante do atual grito popular que eclode nas ruas. O segundo paradigma quebrado é o de que as massas, quando agem, o fazem de forma manipulada. “Massa de manobra”: acusariam os apressados. Mais uma vez a historiografia tradicional dos livros didáticos, hoje felizmente revisada, tem sua cota de contribuição para isso. Dessa vez, a versão original do chamado populismo é o momentum do qual mais se bebe e o carismático presidente Getúlio Vargas é sempre citado como o maestro do concerto público das massas. “Façamos a revolução, antes que o povo a faça”: teria dito um aliado de Vargas, o então governador de Minas Gerais Antônio Carlos de Andrade, sobre a Revolução de 1930. A dificuldade que os partidos e os tradicionais movimentos sociais organizados estão tendo para encabrestarem as manifestações revela que o povo parece ter uma agenda própria, ainda que confusa. O último dogma desmentido é mais sofisticado e pode ser encontrado em toda a América Latina: o princípio marxiano da luta de classes. Soube de empresários (“burgueses”) que liberaram do trabalho os colaboradores (“proletariado”) para irem ao manifesto. Soube ainda de que muitos desses colaboradores ficaram surpresos ao se depararem com o patrão caminhando nas ruas ao lado deles. Pelo menos naquele momento, naqueles metros caminhados juntos, a luta de classe gozou de um cessar-fogo. Assim, o que ocorreu ontem na Praça dos Três Poderes foi algo muito além de uma simples manifestação. Foi um grito. E grito não é texto. Não precisa de uma forma precisa, predeterminada, preestabelecida, dirigida. O grito nem precisa de racionalidade ou coesão. Não é teoria. Tampouco carece de metodologia. O grito é um sinal de alerta. De dor. De desconforto. De alívio, às vezes.
Posted on: Sat, 22 Jun 2013 01:40:02 +0000

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