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Para ler e refletir! A leveza pede passagem “A gente passa a vida querendo as coisas e, depois, querendo se desfazer das coisas... de repente, me vi com tantas coisas que nem usava e que estavam me impedindo de ir para um espaço mais acolhedor para morar” (Danuza Leão) Há poucos dias, num evento promovido pela coluna da jornalista Sabrina Scarpare, da Gazeta de Piracicaba, e pelas diretoras da revista Trifatto, fui provocado a refletir sobre algumas afirmações (im)pertinentes da escritora e jornalista Danuza Leão. De maneira simples, mas nem por isso de menor valor, ela descortinou ao público uma narrativa não linear de sua vida. Polêmica como sempre, não deixou de dizer o que pensa sobre diversos temas. Afinal de contas, são 80 anos de existência intensa. Num determinado momento do talk show, Danuza disse: “a gente passa a vida querendo as coisas e, depois, querendo se desfazer das coisas”. Ela percebeu isso quando decidiu se mudar para um espaço que, apesar de ser mais acolhedor, era menor e, consequentemente, teria que se desfazer de muitas coisas que havia acumulado na vida, inclusive, inúmeras que tinham valor simbólico e afetivo. Eu e minha família já vivenciamos isto várias vezes, pois já moramos em diferentes cidades e, a cada mudança, tínhamos que escolher o que deixaríamos para trás. Em alguns casos, o problema não era o espaço, até porque estávamos indo para lugares maiores, mas o fato de que alguns móveis ou objetos de decoração já não faziam parte do novo momento. Danuza Leão completou seu argumento: “de repente, me vi com tantas coisas que nem usava (apesar do valor afetivo) e que estavam me impedindo de ir para um espaço mais acolhedor para morar”. Suas palavras me transportaram para outro plano existencial. Comecei a pensar como que, ao longo dos anos, impregnamos nossas vidas com tantos sentimentos que nos impedem de viver com mais leveza. Sem perceber, pelo menos conscientemente, vamos carregando coisas que já deveriam ter ficado para trás há muitos anos e que, por ainda estarem instaladas em nossas vidas, têm nos impedido de vivenciar espaços ou experiências mais significativas. Aos poucos, venho aprendendo que muito daquilo que nos impede de acolher a vida com mais leveza está relacionado com a necessidade de atender demandas impostas pelos outros. É quando vivemos mais em função do que as pessoas pensam (ou achamos que pensam...) do que a partir daquilo que realmente importa para nós. Quantas vezes consumimos coisas para dar conta de expectativas imaginárias (ou não) sobre nós. Este tipo de percepção nos impede de lidar com a vida com mais autenticidade. Num movimento repleto de contradições, de idas e vindas, tenho visto a importância de viver de forma mais leve e de encarar aquilo que a vida me apresenta, quer sejam experiências boas ou ruins, com serenidade e paciência. Não é uma decisão fácil para quem sempre foi extremamente ansioso, preocupado em dar satisfação aos outros e cumpridor rigoroso de ‘scripts’ que não eram meus. Entretanto, a maturidade me fez ouvir o toque da leveza batendo à porta e, num gesto de abertura e acolhimento, resolvi convidá-la a entrar, se aconchegar e se fazer presente nos espaços mais profundos do meu ser. A leveza tem me ensinado a valorizar outras dimensões da existência humana. Frequentemente, pergunto a mim mesmo quais experiências ou atitudes podem agregar ou não valor à forma como lido com questões que preciso enfrentar no cotidiano. Milan Kundera, no livro “A Insustentável Leveza do Ser”, afirma que a vida é curta e não comporta reprises. “Somos como atores convocados a representar uma tragédia (ou comédia), sem ter feito um único ensaio, apenas com uma ligeira e apressada leitura do script. Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções com carinho muito especial”. Sabemos que alguns sentimentos só servem para tirar a nossa paz e tranquilidade, além de nos desviar das questões que realmente importam. Quantas vezes, em virtude de uma palavra ou atitude inoportuna, perdemos o foco e gastamos tempo com aquilo que não tem qualquer relevância. Há outro aspecto que a leveza nos proporciona: ela exige de nós um rosto limpo, sem máscaras e maquiagens. Por outro lado, ela nos adverte a não ficarmos reféns das dissimulações ou dos processos e pessoas que não nos fazem bem. De vez em quando, vasculhando as gavetas da alma ainda encontro ressentimentos, decepções e amarguras que já deveriam ter sido eliminados no processo de amadurecimento, mas que persistem e, com isso, dificultam a instalação da leveza como princípio de vida. Retomo a afirmação da Danuza Leão: “de repente, me vi com tantas coisas que nem usava e que estavam me impedindo de ir para um espaço mais acolhedor para morar”. Caro leitor, sempre há uma maneira nova de viver, de habitar o mundo e usufruir de espaços mais aconchegantes e acolhedores para aquietarmos nossa existência. Para isso, temos que ter coragem para eliminar os impedimentos e deixar muitas coisas para trás. Que a leveza nos ajude a não carregar nada além do necessário para vivermos em paz. Clovis Pinto de Castro (clovis.shalom@gmail)
Posted on: Mon, 02 Sep 2013 16:32:17 +0000

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