"Penso, o problema da solidão em si, inda mais desta que ora me - TopicsExpress



          

"Penso, o problema da solidão em si, inda mais desta que ora me é dado degustar, não chega a ser nem o silêncio, são os fantasmas; os fantasmas e suas vozes. E elas são muitas. De súbito, percebemo-nos a viver e reviver tudo: revisitamos cada briga, cada rusga; interpretamos e reinterpretamos cada palavra, cada gesto, cada cena; medimos o amor pela matemática simplória entre acertos e desacertos, afinidades e divergências, brigas e manifestações de carinho e apreço. [...] Óbvio, é um julgamento mais que injusto. Apenas a sombra do réu permanece presente nas ausências. E antes fosse uma sombra vida, genuína, que se renova com o que de novo traga o dia-a-dia e a convivência, mas não, é uma sombra outra, maculada pelo filtro da memória, mera cópia — a imagem imperfeita e seletiva que temos e fazemos de quem amamos. O amor mesmo não é mais que apenas um sentir ‘nosso’, muito pouco tendo a ver com o outro, com o ser amado. No fim das contas, vivemos todos isolados e o contato nada mais é que mera ilusão. Cada um de nós vive em sua própria redoma, sua própria caixa. Somos incomunicáveis. E a mente talvez seja esta redoma, esta caixa, este cubo sem janela. Nada pode penetrar e dela nada sai. Comunicação inexiste. Fazer vibrar na caixa acústica seria talvez nossa pouca, vã e rústica tentativa de romper o silêncio e o isolamento, embora pouca nota diga, ou pouco possa dizer. Nada sai, nada pode penetrar. Sola mente só. E é certo que os cubos, por vezes, podem até arranhar um ao outro. Mas o barulho e o rangido que produzem inda dizem pouco, muito pouco." Francisco de Sousa Vieira Filho - CODEX POPUL-VUH - RAMO DE FOLHAS
Posted on: Thu, 05 Sep 2013 11:32:23 +0000

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