Por que não fui pra China? Observação: talvez seja um texto - TopicsExpress



          

Por que não fui pra China? Observação: talvez seja um texto bacana para quem intenta trabalhar no exterior. Na época em que comentei a possibilidade, gerou muita curiosidade por parte de amigos. Agora explico tudo. Vai assim: Um negócio da China Marcelo Pereira Rodrigues No último mês, passei por uma experiência enriquecedora: recebi uma proposta para ser técnico de um clube de futebol na China. Para quem não sabe, sou técnico e estou batalhando o meu lugar ao sol. Assimilei rapidamente a proposta do diretor C. Y. (vou me ater às iniciais) e do clube Y (também irei me ater à primeira letra). Salário atrativo, a oportunidade de se conhecer uma cultura milenar, o desafio da adaptação e mais uma série de coisas. Ficamos nas tratativas (para a prévia do contrato) por longos dez dias. Discute-se aqui, discute-se ali, e eu preocupado com as condições para a minha planilha e método de treinamento no clube chinês. Como sou daqueles que seguem o ditado “Em Roma aja como os romanos”, passei temporada lendo e estudando a região onde eu iria trabalhar. Peguei o mapa da China, vi a localização, fronteira com a Rússia e a Coreia do Norte (ao sul), região que é acometida pelo rígido inverno siberiano (extensão russa), de -10º a -38º no pior dos casos. MPR se adaptaria? Com um pouco de esforço, creio que sim. Pensei: barreira transposta. Alimentação? Por ser uma região muito rica e abrangente, não poderia ter aquele preconceito ignorante de que chinês é tailandês e que eles comem somente carne de cachorro, escorpião no espetinho etc. Pesquisei bastante e cheguei à conclusão de que talvez me faltasse apenas o feijão. Mas tranquilo quanto a isso. Pedi ao diretor um professor particular de chinês mandarim e um intérprete, pois sou adepto de que seria uma falta de respeito com uma nação onde eu estou trabalhando, eu não falar nem o básico. O diretor assentiu. E isso foi mais uma das etapas concluídas. Agora o Jornal Cultural “Conhece-te a ti mesmo”: como faria para manter este periódico do outro lado do mundo? Depois de prévias reuniões com os meus colaboradores mais próximos, cheguei à feliz conclusão de que a empresa pode e consegue viver sem a onipresente atuação de MPR. E também tem a internet, que globaliza os meios de comunicação rompendo fronteiras. Atentei-me até para um pouco (?) da falta de liberdade de expressão na China (um país de regime comunista) e cheguei a perguntar ao diretor se o Google lá era censurado. Ele não soube me responder. Botei na conta para repensar mais tarde. Mas pra tudo se dá um jeito. Mas eis que ocorre, depois de dez dias, alguns entraves que estavam me deixando muito inseguro em relação à aplicação dos meus métodos de treinamento na equipe Y. Começou a haver um ruído de comunicação, ou, o que é pior, uma falta dela. O diretor C. Y. abriu a “mala de dinheiro”, queria me contratar de qualquer forma e já havia se disponibilizado a enviar as passagens aéreas. Pedi mais esclarecimentos sobre pontos delicados e não obtinha resposta. Foi quando sopesei bem as coisas, e como todo bom filósofo, pensei: “Se fosse apenas olhar o aspecto financeiro, assinaria sem titubear. Mas não é só isso que está em jogo. Nunca fui movido por dinheiro apenas. O motor que me move é ideal. Se a comunicação aqui já está truncada, imagine quando eu chegar lá, a coisa tende a piorar. Com a diferença de que eu estarei em um país delicado (desculpem-me todos os chineses, não estou discriminando ninguém, mas isso é fato), e sem direito à expressão nenhuma, posso ser obrigado a pertencer à uma coisa que irá me desagradar por longevos dois anos (tempo do contrato oferecido). Vou ser firme e peitar o diretor C. Y. Ou me explica detalhe por detalhe ou eu irei desistir do contrato”. E assim o fiz. Meus amigos mais próximos, logo após o primeiro dia de minha desistência, vieram me perguntando se eu havia ficado frustrado, notadamente por conta da mala de dinheiro (dólares) ignorada. Com a sinceridade que me é peculiar, e sem bom mocismo algum, respondi e esta é uma convicção que desejo compartilhar a todos vocês, meus queridos leitores (as): olhando para o lado bom da coisa, fui valorizado com uma proposta tentadora que me alçou à uma condição profissional bem interessante. Disso tudo, tenho hoje a certeza de que sou um profissional valorizado no meio. Gostei de minha coragem para desbravar uma região siberiana, adaptando-me à cultura como um todo e até detalhes bobos que eu havia me desleixado um pouco: como a atualização do meu currículo de técnico em inglês (língua universal) e a abertura de portas para possível atuação no futebol asiático e norte-americano. Vida que se segue e a certeza agora de que essa experiência enriquecedora (uma sondagem forte já representa muita coisa) fez-me crescer e muito. Passados alguns dias desta experiência, perguntei ao meu empresário, em tom de brincadeira: “Eu estou valendo isso tudo?”, ao que ele respondeu: “Não, Marcelo, você vale muito mais!”. Bem, meu sentimento de portas abertas e detalhes certificados (como passaporte em dia e vistos de trabalho garantidos) fazem-me ser coerente com um texto que escrevi para o livro Acústico MPR: os piores sucessos & os melhores fracassos de Marcelo Pereira Rodrigues, O mundo é logo ali. Realmente, tudo muito próximo. Na oportunidade, agradeço ao senhor C. Y. e ao clube Y. Não fecho nem fecharei minhas portas... só espero uma comunicação mais viável. Por enquanto, só me resta parafrasear Dom Pedro I no seu “Dia do Fico”: “Se é para a alegria geral dos meus leitores, digam ao povo que eu fico”. Parafraseando Zagallo, “vocês vão ter que me engolir”...
Posted on: Thu, 26 Sep 2013 20:14:11 +0000

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