Por volta de Fevereiro aconteceu ao Miraleve qualquer coisa de - TopicsExpress



          

Por volta de Fevereiro aconteceu ao Miraleve qualquer coisa de estranho, mas que, realmente, não o preocupou demasiado nem lhe causou grande inquietação. Um dia, tinha o Miraleve apanhado um táxi no Campo das Cebolas com destino ao Saldanha, com o intuito de ir ao escritório de um advogado que enquanto tratava de divórcios e outros acidentes do quotidiano, tratava adicionalmente de propriedade industrial e intelectual para a associação dos inventores reformados dos caminhos de ferro. Já na Rua da Prata uma carrinha esquisita com vidro fumados parou num sinal ao lado do táxi. Um vidro baixou-se e um gajo com cabelo à escovinha começou a falar numa língua estrangeira. O gajo parecia vociferar qualquer coisa como "camier iu sane of a bixe". Mas nem o Miraleve nem o taxista eram dotados nesta coisa do estrangeiro. O taxista olhou para os ianques e perguntou-lhes em bom português o que é que os gajos queriam. O sinal abriu e o taxista abriu também as goelas ao carburador antecipando-se ao carro dos camones. Bom, o facto é que a carrinha dos camones arrancou com igual urgência e colou-se na traseira do táxi. Isto deixou o taxista a ferver. "Ah, queres picanço, tá bem vamos lá a isso, ó camelo". E com esta conclusiva determinação amandou-se em aceleração e grande sofrimento para o motor do táxi pelo Rossio, Avenida da Liberdade em direcção à Avenida da República. Não que o sentido patriótico do Miraleve estivesse em baixa, porque também concordou que era preciso mostrar àqueles cabrões quem manda, senão no país e nos detergentes para as máquinas de lavar roupa, pelo menos nas avenidas da capital. Mas de facto o Miraleve desejou que a demonstração de superioridade dos xoferes de taxi alfacinhas tivesse tido conclusão mais definitiva por alturas do Saldanha, quiçá no Campo Pequeno de onde a caminhada para trás ainda era aceitável. Mas não. A demonstração de perícia, competência e superioridade nacional em relação aos xibos da carrinha dos ianques, alongou-se. Foi objecto de uma viragem brusca, assinalada por sofrimento da borracha dos pneus, que projectou o Miraleve contra a porta esquerda e lhe causou um galo do caneco, mas que foi logo prontamente desvalorizado pela promessa de que o taxímetro já estava desligado e que o bravo fangio só precisava do Miraleve como testemunha da esmagadora vitória que se avizinhava. Por alturas da rotunda de Entre Campos, mesmo a queimar o sinal amarelo, o taxista guinou e enfiou-se no túnel. Quando saiu lado a lado no Areeiro já o Miraleve suava tanto como o esforçado piloto. O problema é que os "americas" eram duros de roer e pareciam os gajos que guiavam táxis nos filmes que se viam ao sábado à noite. Eis quando, à entrada das Olaias, os ianques furam um pneu, despistam-se e vão embater violentamente contra uma camioneta carregada de peixe espada congelado. O taxista gritou vitória, o Miraleve mijou-se todo e algumas postas de pescada congeladas ainda partiram os vidros de uma carrinha de engomadoria ao domicílio que, entretanto, espalhou camisas e roupa interior diversa no asfalto.
Posted on: Thu, 25 Jul 2013 09:15:20 +0000

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