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Publicado no Novo Jornal deste domingo: CRONOLOGIA DO TEATRO NO ASSU: 1884-2013 [FINAL] Estou devendo aos que me honram com a leitura desta página a continuação de artigo cuja primeira parte foi publicada há três semanas. Pensava, ao escrevê-lo, reviver as glórias do teatro no Assu, uma história que começou em 1884 com a inauguração, em 16 de março, do Theatro São José, à Rua das Flores, atualmente Rua Prefeito Manoel Montenegro. Essa crônica a que me refiro já foi bem narrada pelo historiador Francisco Amorim, em livro esgotado desde 1972, quando saiu numa edição do Serviço Nacional de Teatro. Meu exemplar tem uma dedicatória do autor. Detentor de uma história multifacetada e obscura, o Assu sobressaiu-se durante a colônia e o império por seu rebanho e produção de carne seca que começou no Brasil, em escala industrial, no Rio Grande do Norte, numa época em que ainda não existia a província do Rio Grande do Sul. Assu, cidade faustosa, amando o luxo e a cultura, teve a primeira biblioteca pública do estado, criada e mantida por um particular. Teve seus teatros quando em Natal as representações ainda se faziam em um pardieiro coberto de palhas de coqueiro ou ao ar livre, no Barro Vermelho, por faltar-lhe prédio decente que os abrigasse. Não admira que o Theatro Alhambra, inaugurado em 1912, à Rua das Hortas [atualmente Rua Moisés Soares], apesar do grande êxito que alcançou como empreendimento à serviço da diversão da boa sociedade da terra, tenha sido criticado por não possuir camarotes, uma prova inconteste de exclusivismo e distinção social. Em um registro publicado em A Cidade - semanário que por 30 anos circulou ininterruptamente, todos os domingos -, Francisco Amorim, autor de uma História do Teatro no Assu [1972] traça um quadro da sociedade da época, ao comentar em 8 de dezembro de 1912 a “première” do Club Dramático Arthur Azevedo, que se apresentava no Alhambra para uma plateia bem educada, refinada e exigente, antenada com a moda e os costumes elegantes. Francisco Amorim descreve o lapso de tempo decorrido desde o horário anunciado para o começo da função, enquanto nos camarins os artistas se caracterizavam e a plateia se entediava com a longa maçada: “na plateia totalmente cheia à cunha, leques de gaze lantejoulados, em mãos franzinas e frementes, agitavam-se celeremente para afastar o calor que se tornara mais intenso com a noite ameaçadora de chuva, e a indiscreta fumaça dos cigarros que cada vez mais tornava aquele ambiente sufocante”. A crítica decorria do desconforto com o atraso da dupla sessão que anunciava o drama Boemia, abrindo o programa, e, finalizando-o, a comédia Matutos na praça. Tratava-se de uma plateia cônscia de seus direitos; reclamava certamente porque trocara o bem bom de suas casas por aquela demora estafante. “O auditório inquietava-se. Havia já mesmo uns zumbidores murmúrios de reclamações que não sabemos se foram ouvidos pela troupe do Club”, escreve Francisco Amorim, fazendo a resenha cultural da cidade em um texto, geralmente, espirituoso. Tais textos – apresentados como “chronica theatral” - pressupõem a prática, no jornalismo produzido no Assu, de uma crítica teatral militante. E Francisco Amorim, Chisquito, foi um desses críticos, arguto e bem humorado. Apesar desse contratempo e do socorro da orquestra do teatro que tocou três valsas para distrair o público, tudo afinal transcorreu maravilhosamente, sobretudo na “terrasse” com suas banquetas de ferro e a iluminação de lâmpadas a álcool, de um efeito magnífico e surpreendente, dando a todos, segundo a síntese do cronista, “a alegre sensação de uma praça culta”. Sociedades teatrais, como a companhia Fênix Dramática Assuense, influíram na criação de uma dinâmica que fez do Assu um centro cultural, prestigio que ainda subsistia em 1922, quando o jornalista Ezequiel Wanderley, bem sucedido doublé de marqueteiro, cunhou um slogan para a cidade do Assu, de “Atenas norte-rio-grandense”. Durante alguns anos a Fênix produziu peças e empresariou companhias para temporadas, algumas, até, de seis meses. Mais recentemente, em 1º de agosto de 1947 surgia o Grêmio Assuense de Representações, fundado por Alexis Ferreira Pessoa. Seu lema era: “Encenando sempre o que há de melhor”. Em um curto período destacou-se pelas produções bem cuidadas, sempre apresentando-se no palco do Cine-Theatro Pedro Amorim, o último empreendimento do gênero, desde então. Inaugurado oficialmente em 1935, já funcionava desde 1931. Fechou as portas em 1980. Era Alexis um esteta e um diretor comprometido com o novo. Senti que foi Alexis a grande ausência nas festividades de reinauguração do Cine-Theatro Pedro Amorim, em 19 de julho de 2013. Médico aposentado e vivendo no Assu, em sua mocidade foi Alexis um devotado cultor do teatro entre nós. Além de constituir uma testemunha viva de um passado cheio de realizações e de quimeras. Ficamos a dever-lhe o reconhecimento devido, em nome daqueles idealistas que, em seu tempo, mantiveram acesa a flama do teatro no Assu. É um daqueles nomes gloriosos citados no livro de Chisquito sobre uma história que ainda não terminou, como bem demonstrou o gesto do prefeito Ivan Junior, reabrindo-o e devolvendo-o ao Assu. Finalmente, volta a abrir suas portas em 2013 o Cine-Theatro Pedro Amorim, o último dos 12 teatros que já teve o Assu no curso de sua rica e desconhecida história.
Posted on: Sun, 04 Aug 2013 11:52:20 +0000

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