QUANDO FLANAR POR FORTALEZA ERA SÓ ALEGRIA Parece que hoje é o - TopicsExpress



          

QUANDO FLANAR POR FORTALEZA ERA SÓ ALEGRIA Parece que hoje é o DIA MUNDIAL SEM CARRO. Não importa se não for. O fato é que o mundo está cada vez mais entupido de carros, tanto quanto nossas artérias de colesterol. Percebem a relação? Acostumamo-nos a um estilo de vida nada saudável, sem contato com a natureza, escravos do consumismo, sedentários, perdulários, irresponsáveis planetários. Nasci e moro em Fortaleza; não é a maior cidade do país, sequer a maior do nordeste. E é a capital de um estado pobre (Ceará), numa região pobre (nordeste), numa nação do Terceiro Mundo (Brasil). Apesar disso, leio no jornal de hoje (Diário do Nordeste, 22-09-2013, p. 6) que "dentre as capitais do nordeste, Fortaleza é a que possui a maior frota de veículos", com 880.486 unidades (até agosto/2013 - dados do DENATRAN). Em 2003 aqui circulavam "apenas" 422.490 veículos; portanto, em dez anos, a frota mais que dobrou (108,4%). Por que um aumento tão grande? É fato que houve uma expressiva migração da zona rural para a região metropolitana, que inchou, aumentando a criminalidade, o stress, a poluição de todo tipo, em suma, levando a um acentuado declínio na qualidade de vida do fortalezense. Mas também merece lembrar o forte fluxo do turismo, nacional e internacional, assim como o fato de que uma considerável parcela do povo passou a ter condições de comprar carro, incentivada pela facilitação do crediário e de um melhor poder aquisitivo. Um povo antes hospitaleiro, sorridente, amável, movido a um ritmo suave, em harmonia com o ambiente e em si, se transformou numa mistura disforme de gente irritada, amedrontada, desequilibrada emocionalmente e a ponto de explodir por qualquer bobagem. Estamos trancados em nossas casas e apartamentos que mais parecem jaulas, nos locomovemos em carros totalmente fechados e com vidros escurecidos, paramos nos semáforos com o pé nervosamente perto do acelerador, sempre de prontidão para uma arrancada diante da menor sinalização de perigo, real ou fruto da angústia acumulada por vivermos numa terra sem lei e onde o crime parece compensar, tão farta é sua ocorrência. A vida humana se acha banalizada e o pavor é a companhia constante do cidadão de bem. Quase nada mudou nas vias públicas, nas praças, parques, áreas da coletividade; acho até que foram reduzidas, ilegal ou ilegitimamente apropriadas pelo capitalismo imobiliário selvagem, predatório. Shopping centers, torres comerciais, grandes condomínios fechados e áreas industriais, além de aglomerados residenciais populares e mesmo favelas, ganharam espaço, mas as vias de ligação entre eles não foram ampliadas, alargadas, melhoradas, melhor planejadas. Tampouco foi investido num serviço público de transporte de qualidade e numa política de incentivo ao uso de bicicletas ou da locomoção a pé. Não há segurança, não há sinalização, não há sombra, banco, amparo. Falta governo, falta educação, falta civilidade, falta esperança, falta tudo. Mas sobra ganância, roubalheira, irresponsabilidade, descaso com o patrimônio público e o povo. Que saudade tenho da bela infância que vivi, um tempo em que andar da escola para casa era uma farra, um prazer inocente, uma certeza da chegada, e não uma roleta russa. Que nostalgia de uma época onde cruzar com alguém numa calçada era motivo de um cumprimento, um sorriso, um flerte. Aliás, acho que a juventude de hoje nem sabe o que é flertar. Enfim, as horas escorriam lentamente e o prazer de viver estava estampado no rosto e manifestado nos gestos de cada irmão fortalezense. O que fizeram, o que fizemos, com minha amada cidade?! #iataga 22-09-2013
Posted on: Sun, 22 Sep 2013 21:58:45 +0000

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