“Quem é que me salva? Odeio sua pressa, sua monotonia, sua lentidão e sua cegueira absurda. Se eu joguei ácido no seu amor, esperava que o cuspisse de volta dentro do meu juízo perfeito. Quando algo é destrutível fica mais fácil de ser absorvido e superado. Odeio seu jeito de andar nas nuvens feito um anjo e levantar o dedo do meio pro papai do céu. Eu quero que você me trance fora de casa num inverno russo e ensaie a sua coletiva de imprensa. Porque é exatamente isso que os holofotes fazem: aplaudem a vingança e o drama. Quem é que me salva dessa paranoia sincera e absoluta? Odeio também esse sentimento nostálgico, e essa coroa de palha atrelada no meu cérebro. Os pássaros fazem ninho na minha santidade, e minhas asas sangram de saudade. Eu quero que você crie mil e um Protocolos de Kyoto, quero que você mate mais nove mil-milhares-milésimos-milhões em nonas e décimas Guerras Mundiais. Seja você mais uma data a ser lembrada, não eu. Seja você a primeira tragédia a ser escondida, esquecida, repudiada e trocada por um CD de rock barato. Odeio as futilidades que você me permite ter, sua falta de represálias, sua ausência de forcas… Sua forca de ausências. Porque eu trocaria todos os domingos e espaços que tive em troca de mais um inverno russo, se assim eu pudesse ver o seu sorriso na televisão alegando legítima defesa, sumiço. Aliás, o que foi o que aconteceu comigo mesmo? Ninguém sabe e o sensacionalismo faz a festa. Eu sou todas as verdades e todas as mentiras do mundo que habito por falta de hábito e habitat. Os pássaros começam a cantar e lembre-se que a neve um dia derrete. O cheiro de ácido vai subir. E só talvez o medo compreenda, finalmente, que a verdadeira história por trás do meu amor por você é…”
Posted on: Tue, 30 Jul 2013 20:32:03 +0000
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