RESENHA: KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das - TopicsExpress



          

RESENHA: KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009, 298p. Por: José Vicente Moreira Junior “O tempo é a insônia da eternidade”. (Mario Quintana) “O medo de sofrer confunde-se com o medo do desconhecido: o neurótico resiste ao novo, resiste a romper com a repetição sintomática” (2002, p. 80). O tema das depressões, na produção de Maria Rita Kehl, é apresentado em seu livro “Sobre ética e psicanálise”, de 2002. Nessa obra, a depressão é indicada como um sintoma contemporâneo, tal como a histeria no começo do milênio, emergindo como uma das consequências da recusa do sujeito em assumir a dimensão do conflito que lhe é próprio. Ela refere “o empobrecimento da vida subjetiva é o preço pago por aqueles que orientam as suas escolhas em função do medo de sofrer... O medo de sofrer confunde-se com o medo do desconhecido: o neurótico resiste ao novo, resiste a romper com a repetição sintomática” (2002, p. 80). Precisamente, na última parte desse livro se apresentam questões embrionárias desenvolvidas em “O tempo e o cão”. Com rigor de pensamento que lhe é próprio, a autora, argumentando, de um lado, com o entendimento da depressão como sintoma social, e, de outro, com o esboço de fundamentações acerca da constituição psíquica do depressivo. Isso elevando a máxima do legado freudiano: reconduzir um fenômeno empírico para o campo da linguagem, “onde quer que se encontre o sujeito, encolhido pela depressão, é lá que o analista deve ir buscar a expressão significante de seu sofrimento” (ibidem, p.53). Em “O tempo e o cão”, cujo tema se centra no estudo das depressões, é possível indicar pelo menos dois planos: um, metodológico, e outro, clínico. A complexidade da pesquisa se deve, também, por esses planos se complementarem e se sobreporem continuamente. O primeiro se refere à trajetória na literatura para empreender seu estudo, ou seja, pensamentos de outros autores de que Kehl lança mão para dialogar e sustentar sua pesquisa enquanto, no plano clínico, se sobressaem formulações para o estabelecimento da constituição do sujeito depressivo e como pode ser concebido como sintoma social. Para a autora, a depressão é uma posição do sujeito no fantasma. Também, neste plano, se apresentam direções de tratamento a clínica com pacientes depressivos, o que não se refere a prescrições técnicas, mas àquilo que Freud refere em seus textos sobre a técnica, ‘os manejos transferenciais’. No que se refere ao plano metodológico, a relevância se deve ao fato de o estudo empreender um diálogo da psicanálise com outras disciplinas, numa interlocução rigorosa do saber psicanalítico com outros discursos. Entre estes, a filosofia, a literatura e a sociologia; sejam clássicos ou literaturas atuais da formação do pensamento ocidental, construindo diálogos da psicanálise com conceitos propostos por autores como Walter Benjamin e Spinoza. “A depressão, equivalente psicanalítico da melancolia benjaminiana, se expande sobre o terreno de onde o sujeito se retirou”, verifica Kehl. O “Tempo e o cão” apresenta muitas questões a serem examinadas com atenção. Neste texto apenas foram assinaladas algumas considerações a partir de uma primeira leitura. Sem dúvida, esse livro é um trabalho que requer uma leitura com pausas, ‘tempos vazios’ para o pensamento, sem excessos de compreensões, sem atropelamentos modernos desnecessários. Pois estes, como a autora refere-se ao cão que se esfacelou em baixo de seu carro, na alta estrada paulista, são inevitáveis. Uma direção ética para qual seu estudo aponta é o que podemos fazer com os atropelamentos intrínsecos à vida contemporânea. Como adverte Lacan, no seu texto “Função e campo da linguagem”, sobre o compromisso do psicanalista, “que antes renuncie a isso [psicanálise], portanto, quem não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época. Pois, como poderia fazer de seu ser o eixo de tantas vidas quem nada soubesse da dialética que compromete com essas vidas num movimento simbólico”. Retomando a visão de Jacques Lacan que a autora adota frequentemente: “a depressão é uma posição do sujeito no fantasma”. Segundo Jacques Lacan, interpretando-o, nas fantasias tem que ser irreais; porque no momento, no segundo que se consegue o que quer, não mais o quer, não quer, não pode querer mais. Para poder continuar a existir, o desejo tem de ter os objetos eternamente ausentes. Você não quer algo. Quer a fantasia desse algo. O desejo apoia nas fantasias desvairadas. Pascal disse que somos realmente felizes quando sonhamos acordados com a felicidade futura. Dai o ditado: Cuidado com os seus desejos. Não pelo fato de conseguir o que quer, mas pelo fato de não querer mais depois de conseguir.. Em suma fica a lição de Jacques Lacan: VIVER DE DESEJOS NÃO TRAZ A FELICIDADE, DAI A DEPRESSÃO. O VERDADEIRO SIGNIFICADO DO SER HUMANO É A LUTA PARA VIVER POR IDÉIAS E IDEAIS. NÃO MEDIR A VIDA PELO QUE OBTIVERAM EM TERMOS DE DESEJOS, MAS PELOS MOMENTOS DE INTEGRIDADE, COMPAIXÃO, RACIONALIDADE E ATÉ AUTO-SACRIFÍCIO. PORQUE NO FINAL, A ÚNICA FORMA DE MEDIR O SIGNIFICADO DE NOSSAS VIDAS É VALORIZANDO A VIDA DOS OUTROS – MAS “A CONDIÇÃO HUMANA ESTÁ INTRINSECAMENTE LIGADA A COMPARAÇÃO DO OUTRO”. A linguagem e o pensamento embebedam, enebriam iludem e "matam" a morte, ou a superação da vida até o morrer. Pensa-se e se faz sons em metafísica - balbuciar as ilusão da vida - quando, na verdade, era para nós sermos "rios sem se toldar para no mar despejar"...
Posted on: Sat, 28 Sep 2013 02:29:01 +0000

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