Sei que não se mede a grandiosidade de um povo pela - TopicsExpress



          

Sei que não se mede a grandiosidade de um povo pela biodiversidade desse ou daquele país E ENQUANTO NA HOLANDA ELES FECHAM MAIS DE 20 PRISÕES POR FALTA DE CRIMINOSOS, AQUI NO BRASIL DE 100 ASSASSINATOS APENAS 10 VÃO A JULGAMENTO E DESSES 10 APENAS 1 É CONDENADO A 8 ANOS DE PRISÃO, ISSO SE NÃO TIVER DINHEIRO, mas essa árvore tombada que a Diana postou, aqui no Brasil nós chamamos de tiririca. No Brasil desmata-se anualmente entre selva amazônica, mata atlântica, mata de serrado e caatinga, um estado de Sergipe ou 21.910 quilômetros quadrados. Atualmente a moto serra já está ultrapassada, usa-se máquinas gigantescas para puxar correntes com elos que pesam milhares de toneladas e essas correntes vão arrancando as árvores pelas raízes. Os capixabas são conhecidos como as prostitutas das florestas: Renoir Grecco era conhecido meu. Morava em Jucutuquara, enriqueceu cortando jacarandá e exportando para a Europa. Quando pela última vez estive com ele foi em Jacaraípe e depois não tive mais notícias dele. Tornou-se com a madeira um dos homens mais ricos do mundo. Naquela época eu bebia whisky e ele era uma espécie de “Bolsa Família” com crédito ilimitado e havia um acordo tácito onde todos bebiam e ele pagava. Lúcio bebeu uma dose de whisky e disse para ele: estou bebendo um pé de jacarandá e pela primeira vez eu vi Renoir Grecco chorar aos esguichos como se fosse um chafariz. Rogério Medeiros também é conhecido. LINHA DO TEMPO: Victhor Buaiz foi eleito governador pelo PT e colocou Rogério Medeiros como secretário de fazenda. Os petralhas invadiram o Palácio Anchieta e todos queriam ser funcionários públicos. O Presidente era Fernando Henrique Cardoso e a inflação beirava a casa do zero por cento. Obrigaram Marcelo a dar 25% de aumento ao funcionalismo público, ele disse ser inexequível. Quiseram bater nele e ele pulou a janela do Palácio Anchieta e escafedeu-se. Para governar Victhor Buaiz teve que migrar para o PSB. Nisso toda bancada do PT, PMDB e outros partidos ligados ao capeta passaram para a oposição e dos 30 deputados estaduais, todos caíram na oposição. O estado ficou inadimplente e desgostoso hoje Victhor Buaiz anda sorumbático, nauseabundo e não pensa sequer em candidatar-se a vereador. Renoir Grecco: “Rainor Grecco: Vida paixão e morte do Assassino de Árvores”. Essa reportagem é de Rogério Medeiros e saiu no Jornal do Brasil na mesma época em que foi publicada a matéria sobre o câncer ecológico e o Rio Doce, nos anos 70, quando se conheceu a figura do maior predador de florestas do Brasil, o capixaba Rainor Grecco, que até aquela data havia cortado 60 milhões de árvores da Mata Atlântica e da Amazônia. Rainor Grecco, um descendente de italianos de 53 anos, pretende figurar na história dos devastadores de florestas como o assassino de 60 milhões de árvores, que derrubou em pouco mais de 25 anos de atividade como madeireiro no Brasil. O madeireiro é tão perigoso quanto um assassino vulgar, ele mata e mata muito - diz Rainor ao pé de uma portentosa ibirarema com mais de 25 metros de altura, caída entre dezenas de outras árvores que ele atualmente está derrubando no interior da Bahia. Contudo, grande parte de suas vítimas rolou por terra na floresta Atlântica, da qual ele se considera o principal destruidor graças à infatigável tarefa de extrair madeiras nobres, como jacarandá, peroba-do-campo, sucupira, louro, macanaíba e jequitibá. Como um bárbaro redivivo, liderando um implacável exército de motoserristas, Rainor deixou um rastro de destruição por onde passou, tornando-se um mito entre os madeireiros do país por ter sido o pioneiro de quase todos os ciclos de extração de madeira iniciados nas últimas décadas. O mais longo deles durou 10 anos e a partir de 1958 liquidou com as reservas de jacararandá no norte do Espírito Santo, sul da Bahia e leste de Minas Gerais, destruindo praticamente o que restava da floresta Atlântica. Rainor foi o responsável pela exportação de 57,7% do jacarandá extraído naquela época, o que lhe proporcionou uma fortuna capaz de permitir-lhe extravagâncias como a de alugar, durante três dias, para si e seus convidados, uma das mais famosas boates do mundo, o Moulin Rouge, de Paris, a 16,5 mil dólares por noite. Além disso, atrás da madeira, esteve em 78 países, inclusive os da antiga cortina de ferro. O significado e a repercussão de seus atos sobre o meio-ambiente ele nunca examinou perante sua consciência. Nas conseqüências, eu nunca pensei. A conseqüência sempre foi o lucro. E, depois, o hábito do lucro. Homens como eu deveriam ser eliminados da face da Terra. — Quando você chegou à Floresta Atlântica? — Em 1958. Saí em 1968. — O que você cortou de árvores? — Meu Deus! Como é difícil esse cálculo! Porque, realmente, eu fui um dos melhores predadores. Mas, no caso, representei uma pequena parte de um todo, embora talvez tenha sido o maior deles todos. Leve-se em consideração que, na floresta Atlântica, de madeira aproveitável havia uma média de 500 a 600 metros cúbicos por alqueire, ou seja, 100 metros cúbicos por hectare. Isso tudo foi destruído nos últimos 15 anos a todo vapor. Estou só contando com a época do boom, pois foi de 1958 em diante que se fez essa coisa toda no Espírito Santo, Rio de Janeiro e leste mineiro. Em função de que? Da motosserra, que não havia. Do trator, que não havia. Dos caminhões melhores, que também não havia. E de muitas outras coisas. Se a floresta Atlântica, nessa parte, se conservou até 1958, não foi pela vontade dos predadores, mas sim pela insuficiência do maquinário. Então, agora, na Amazônia, com as armas mais sofisticadas para madeira, tudo será resumido em 1%. Ou seja, de 100 partes de dificuldade que havia aqui, lá se transformou numa única parte. E com esse arsenal vão acabar com a Amazônia em 50 anos. — Qual é a população de madeireiros e de serrarias que se encontram hoje na Amazônia? — Na Amazônia há, hoje, 250 mil capixabas, segundo o Censo. E foram para lá 700 serrarias, segundo o IBDF. Com os outros que foram para lá, deve haver uma população de 300 mil madeireiros. Mas não são eles só que representam risco. O madeireiro só entra com o crime. Na realidade, o mandante é outro, geralmente o pecuarista e o agricultor, que precisam de lugar limpo. Não existe, especificamente, o madeireiro que depreda. No meu caso, por haver sempre feito muito volume, fui muito visado. O madeireiro é um soldado do pecuarista ou de quem precisa da terra. O madeireiro é o marchante e não o dono do frigorífico. O dono do frigorífico fica no escritório e o marchante é aquele que vai matar o boi. — O que esse exército de madeireiros representa de risco para a Amazônia? — Leve em consideração que uma serrafita serra oito metros cúbicos por dia. No tipo de madeira da Amazônia, representa 10 árvores por dia. São 700 serrarias, são 700 serrafitas, no mínimo. Faça o cálculo. Elas têm capacidade de consumir, por mês, em média, 10 mil árvores e 120 mil e 150 mil por ano. Com a incidência de madeira, pois só se aproveita o extra, essas árvores possivelmente representam 100 mil hectares por ano. Nisso, o madeireiro representa muito pouco em função do que o pecuarista e o plantador de alguma coisa faz. Derrubar árvores, fazer madeira, é uma profissão como outra qualquer. Quem vai para a floresta, ou está fugindo de si próprio ou da polícia, ou é um sonhador, porque a floresta nunca foi lugar para gente viver. — Se eles tiram 120 mil árvores por ano, quanto o pecuarista deve queimar? — Pelo menos 100 vezes mais. Sagrado, sagrado, sem possibilidade de um erro abaixo e muitos acima. A Amazônia está completamente em risco. Se for verdade que ela representa para o globo terrestre o maior pulmão, ela está sendo dizimada por uma tuberculose natural. — O que você extinguiu de 1958 para cá? — Eu extingui sem parar. No Espírito Santo, só há pequenos núcleos que foram preservados. Os piores. O resto foi todo extinto indiscriminadamente. — Você foi o maior exportador de jacarandá do mundo? — Sim. — Quantas árvores cortou dessa espécie? — Eu derrubei e exportei 57,7%do jacarandá que foi consumido no universo, porque ele só existiu na floresta Atlântica. Na Amazônia, existe uma árvore chamada de jacarandá da Amazônia, mas não tem nada a ver com o dallbergi-nigri. É bom destacar que o jacarandá era procurado na floresta da mesma forma que um garimpeiro procura um diamante. Era a árvore mais bela que a natureza fez e a mais cara e cobiçada do mercado. O jacarandá saciava a vontade de dinheiro, de palácios, de automóveis de luxo e de viagens. Assim como o brilhante foi o carbono mais duro da natureza, o jacarandá foi o diamante da flora. — Você também foi o pioneiro da destruição no sul da Bahia? — Também fui. Tanto que não havia a BR-101 e nós fomos pela Rio-Bahia e descíamos no rio Jequitinhonha para pegar o sul, porque pelo Espírito Santo não havia passagem. Na primeira vez, eu levei 80 homens, o que era um absurdo. Chegamos em 1962. A Bahia era virgem, virgem, virgem. De lá fui para a Amazônia, depois que escasseou o jacarandá e sustaram as exportações em toras e, também, porque nós já estávamos no fim da contenda. Tínhamos acabado com as matas virgens, sobraram apenas as reservas e a região cacaueira (lavoura que se planta no sombreado das matas). — Quanto tempo você levou para acabar com tudo? — Dez anos, em matéria de jacarandá. E, em matéria de outras madeiras, mais cinco. A madeira já está extinta por lá. — Quando você foi para a Amazônia? — Em 1968, quando parou a exportação de jacarandá, pois quando eu estava aqui, cortava, simultaneamente, madeira no Espírito Santo e na Bahia. Nessa época, fui para Rondônia com 150 especialistas que sempre me acompanharam. Fiz dois anos de extração. Encontrei cerejeira em grande quantidade, que é uma madeira da moda hoje. E no sul não se sabia que em Rondônia havia essa madeira. Até então, era do conhecimento do pessoal do ramo que ela existia em pequena quantidade no sul da Bahia e no Vale do Rio Doce. Em Rondônia, entretanto, havia e há florestas fechadas de cerejeiras. Eu acho, inclusive, que para o mercado nacional ela é a madeira da moda. Para o exterior é o mogno, que, aliás, é o grande boom do momento. Mas com dois anos eu saí. Criei um trauma. — Que trauma foi esse? — Quando eu soltei aqueles homens no Jiparanã e via as árvores caírem sem parar, tomei medo do crime que estava praticando. — Foi a primeira vez que aconteceu isso com você? — Foi, porque no Espírito Santo e na Bahia a disputa era mano a mano. Era eu e muita gente. Lá eu entrei sozinho. Uma coisa é o madeireiro ignorante e outra é aquele que, por circunstâncias várias, aprendeu a sentir que a árvore é uma irmã de sua vida, e que a depredação significa que o homem está tirando sua própria possibilidade de vida. Estamos acabando com o gás carbono. Sem ter alguém para consertar isso, a longo prazo, será a morte total da criatura humana. — Naquela hora, percebeu que estava ensinando o caminho da destruição da Amazônia? — Senti que aquele foi o passo inicial. Havia antes uns poucos, como o Grupo Sabar, que do rio Amazonas exportava mogno. Mas, antes da minha ação na Amazônia, é preciso que se diga que fiz um levantamento total da região, passei um ano e um mês correndo tudo. Eu sou brasileiro que conhece a Amazônia como poucos conhecem. Eu penetrei pelo rio Amazonas, partindo dos furos do Pará, e fui até às cachoeiras do Porto Velho, entrando pelo rio Madeira. Subi o Amazonas, que, a certa altura, muda o nome para Solimões, até os contrafortes já nos sopés dos Andes, em Iquitos. Desci e voltei a subir todos os afluentes e subafluentes, tanto na margem esquerda como na direita. Usei, nesse levantamento, aviões pequenos e barcos a motor. Por isso, me localizei em Rondônia e, também, porque havia uma estrada que sangrava. Agora, se as sementes que eu deixei na Amazônia produziram tantos efeitos, imagine com a Transamazônica, que criou todas as possibilidades de acesso... — O que você constatou no seu levantamento? — Tudo em forma comercial e em forma de se derrubar. — O que o surpreendeu lá? — As coisas em estado virgem e eu levando a depredação. Isso, inclusive, é que foi responsável pelo meu impacto emocional. Eu realmente fiquei fora de mim. Não louco, absolutamente. Fui para um balneário no Espírito Santo, deitei na rede e falei comigo mesmo: Já é demais. Era, na verdade, um delírio mental. Fiquei fora da madeira um ano e pouco. — O que o fez retornar? — Quando perguntaram a Meneghelli - aquele célebre ladrão que, ainda aos 83 anos, continuava a roubar - porque ele não mudava de vida, respondeu: Só sei fazer isso. Só gosto disso. — Você recomeçou em que lugar? — Eu fui ver o que estava acontecendo numa região belíssima e que está espalhando por todo o mundo uma madeira nobre. É uma região que fica nos contrafortes das montanhas de Mercedes, na Bolívia, próximo ao Brasil. É uma cordilheira de florestas ao leste de Santa Cruz de La Sierra, indo pela estrada Brasil-Bolívia, que chega a fazer divisa com Rondônia. O acesso é por Corumbá, Mato Grosso. À esquerda, fica La Paz e, à direita, o Lago Tiquicaca, cuja metade é Bolívia e a outra, Peru. Pelo outro lado, eu alcancei as cabeceiras do rio Solimões. Eu fiz 1.200 quilômetros a cavalo, durante 118 dias. Fiz isso no ano passado para não perder o hábito. — O que você encontrou em Mercedes? — Existem madeiras excepcionais que o Brasil e as multinacionais que agem aqui estão lá com todo o aparato. Os times mudaram, mas os jogadores são os mesmos. Encontrei as prostitutas das florestas de todos os lugares do mundo: gente minha, da Itália, da Inglaterra e de São Paulo, que, para mim, também é outro país. Encontrei um quadro extraordinário através do lugar chamado Ponta de Lo Carretero, uma linha imaginária da divisão do Brasil com a Bolívia, onde normalmente é feito o contrabando de madeira, em um ato muito solene. As principais madeiras são pau-ferro e louro, que estão sendo exauridas a toque de caixa. Mas são montanhas e montanhas de madeira. Já se está transformando em outro triste quadro de devastação. — De lá você foi para onde? — Vim parar aqui. Outra vez fiz madeira e, novamente, ganhei muito dinheiro. Voltei para matar o desejo, já com 71 anos. — Por conta da madeira, conheceu quantos países? — Fui a 78 países. — Foi sempre atrás de extração de madeira? — Por causa da madeira, fui a todos. Para extração a alguns. Porque quem caça brilhantes, acha tudo muito bonito, mas sempre pensa que há um brilhante embaixo da terra. Eu tive a audácia de extrair madeira na Finlândia, na Dinamarca. Eu estive presente sempre no país em que houve uma concessão para extrair madeira. Fiz até por trás da cortina de ferro, em Riga, na Letônia. Onde houver uma concessão, vão me encontrar lá. Aqui, nesse recanto onde você me encontrou, estou extraindo madeira. Você me assistiu derrubando, puxando e carregando. A história não se modifica, somente se repete. Dificilmente uma pessoa crédula ou incrédula pode compreender como pode existir um Doca Street, um Rainor Grecco e outros. Eu não perdoaria esses homens se eles fossem maus para a humanidade. Se estão fazendo um mal muito grande, que sejam eliminados, só assim acaba o status quo. Homens como eu, como Doca Street, são incorrigíveis. Ele é gigolô e eu sou madeireiro. Onde houver madeira, eu estou derrubando, fazendo comércio. Porque, se amanhã for proibido o corte de madeira, só há um jeito para mim: o governo tem que mandar me fuzilar. Nunca se tira o vício de alguém. Estou tirando madeira aqui, mas não preciso mais de dinheiro. Já tenho o suficiente. Eu viveria em qualquer lugar com o dinheiro que tenho. Inclusive com o curso de vida que fiz, sou um homem preparado para outras coisas. Eu não tenho jeito. Você me encontrou ou não me encontrou cortando árvores do mesmo jeito? — O madeireiro seria o carrasco da floresta? — Mas quem degola não é carrasco? Por acaso, o marchante não é também um carrasco? O carrasco não descia a guilhotina no pescoço de alguém? O que mata baleia também não é? Então, o madeireiro é. — Nessa frenética atividade de cortar árvores, você já pensou seriamente nas suas conseqüências? — Nas conseqüências, eu pensei. A conseqüência sempre foi lucro. E depois o hábito do lucro. É uma questão de sequência. — Você sente prazer quando uma árvore cai? — Não. O marchante não sente prazer quando o boi cai. Ele sente prazer com a carne que o boi rende. Eu já fiquei estigmatizado com a queda da árvore, o que, para você, que acabou de assistir, impressiona. Eu sinto o prazer com o volume. Eu me esqueço que ela tem vida, porque, se eu pensasse que ela tem vida, como eu, seria um bandido muito grande. — O que a madeira lhe proporcionou? — Tudo. A madeira me deu as coisas materiais todas com que um homem pode sonhar, além da riqueza de formar uma cultura adquirida nesses 78 países em que andei. Sou um autodidata. Agora, com o dinheiro, fiz tudo o que a sociedade condena. — É verdade que, de certa feita, você alugou o Moulin Rouge, de Paris? — Mas isso foi uma farra pequena, só custou Cr$ 600 mil por dia. — Conta essa história, pois eu já a ouvi de outros madeireiros. — É simples. Quis proporcionar a uma moça italiana, que sempre foi gentil comigo, uma noite bonita em Paris. Embarcamos para Paris na quinta-feira e, à noite, fomos ao Moulin Rouge. Chegando lá, o maitre, que já era meu conhecido, disse que era impossível arrumar uma mesa e que a lotação estava esgotada. Disse para o maitre que mandasse chamar o gerente. Mandei que ele ligasse para o dono, dizendo que eu queria alugar, arrendar ou comprar o Moulin Rouge. Mas como?, disse o gerente. Eu quero, respondi. A essa altura, um louco com dinheiro, qualquer dono de alguma coisa, vem atender. E o dono apareceu às 11 horas da noite. Fez questão que eu entrasse no clube. Disse-lhe que só o faria com o clube por minha conta ou meu. Acabei alugando-o por três noites a 16 mil 500 dólares cada uma. No outro dia, então, exigi que a minha mesa fosse de frente, com um buquê de rosas vermelhas e meia garrafa de champanha que tivesse no mínimo 120 anos, com o certificado debaixo da bandeja, e que as pessoas só entrassem no clube com a minha permissão. Nisso, entravam milionários e até o Somoza, presidente da Nicarágua. Eu fiz a casa ficar cheia e todos eram meus convidados. Matei o capricho, feito com árvores cortadas. — A forma de proporcionar alegria aos outros não seria uma forma de se penitenciar? — Mas eu estou penitenciado. Onde você está me encontrando? (ele se achava dentro de um barraco no centro da mata, com a energia elétrica de motor.) Essa luz aqui eu a vejo como a do Moulin Rouge. A bebida que tomo agora (era uma dose de cachaça) é a mesma de lá. Só mudam as circunstâncias. A história não se modificará jamais. Pelo menos, eu vivo dentro do sangue do crime. Sou réu confesso, mas existe uma gente que não tem coragem de confessar. — Como você encara ser apontado pelos outros madeireiros como o maior destruidor da floresta Atlântica? — Talvez eu tenha sido o rei deles. Não que eu tenha sido incoerente, mas porque fui lógico. Essa foi a batalha. Esse foi o exército que se formou. O resto dos soldados, que se tornaram generais, já estão na Amazônia. Parece que ouço daqui o tombar das árvores, fabricando mais desertos. — De vez em quando você não é assaltado por sentimento de culpa? — Eu não me julgo um Hitler, mas um emissário seu. Assim como se matou 6 milhões de judeus, se mata 6 milhões de árvores. Eu não quero ser julgado no dia de amanhã, mas que o crime é o mesmo, é. Porque matar os judeus, por que matar as árvores? — Então, você se confessa um criminoso? — Só nas circunstâncias, somente em função delas. Aí confesso que sou um assassino, assassino das árvores. Com seu exército de serradores, ele devastou toda a floresta que encontrou pela frente Rogério Medeiros (texto e fotos) Ele foi o carrasco das florestas tropicais, embora também tenha cortado árvores até em países da antiga cortina de ferro, de clima gelado. Durante seus 75 anos de existência, ele não fez outra coisa na vida. Só da mata Atlântica derrubou 60 milhões de árvores. Pelas suas mãos passaram quantias imensas de dinheiro, principalmente de dólares. Mas jogou tudo para o alto. Grande parte de seu dinheiro foi gasto em viagens atrás de árvores e algumas orgias feitas mundo afora, como a de alugar por uma noite a famosa boate parisiense Moulin Rouge. Quando seguiu para devastar a Amazônia, levou consigo 300 serradores. Andava sempre à frente de um batalhão de cortadores de árvores. Aos Andes também foi na companhia de seu bando, assim como quando apareceu nos países da cortina de ferro. Nos últimos anos andou pela Ásia e África, mas nesses dois continentes foi diferente. Ele esteve só como um mestre no assunto. Certamente o mais laureado deles todos. Ensinou africanos e asiáticos a arte, se assim pode ser chamada sua atividade predadora, de como cortar árvores com o máximo de rendimento. Quando voltou desses dois continentes, previu que os asiáticos tomariam conta da atividade no mundo. E eles estão comprovando a previsão de Rainor Grecco, que é o nosso personagem dessa histórias macabra. Os asiáticos estão pelo mundo atrás de árvores, tomando conta, inclusive, da Amazônia, que o próprio Rainor, nos idos de 70, escancarou para todos. Prepare o seu coração, no entanto, meu irmão capixaba, pois vem agora o pior para nós nascidos nessas bendita terra do Espírito Santo: Rainor era daqui do Estado. Natural de Matilde, Alfredo Chaves – portanto, capixaba da gema. Matilde, inclusive, é o local onde ele, aos 7 anos, viu a primeira árvore cair. Era portanto, criança quando presenciou esta cena. Cena, aliás, que nunca mais parou de ver. Criou ainda nas matas do Espírito Santo uma verdadeira universidade dedicada a ministrar ensinamentos de como destruir florestas. Pode-se dizer hoje, com base nessa escola capixaba, que não há por aí um bom madeireiro que não tenha passado pelas mãos de nossos especialistas. Rainor costumava dizer que as centenas de especialistas que ele preparou estão espalhados pelo mundo: nas fraldas dos Andes, pelos países da América do Sul, e principalmente na Amazônia. Na Amazônia, então, não foram só 300 serradores; foram mais de 300 mil capixabas, que continuam cortando árvores e formando propriedades para gado ou café. Em vida, Rainor, que tinha noção do que deixou na Amazônia, costumava assegurar que a principal floresta do planeta, que é ela, não resistiria à ação de mais 20 anos dos capixabas que deixou por lá. Foi ainda em território capixaba que formou-se o consórcio entre madeireiros e agricultores. E que vigora hoje na Amazônia estendido também aos demais países onde a atividade madeireira foi iniciada pelos capixabas. Dá-se deste jeito: o madeireiro chega na frente e retira todas as árvores que interessam e deixa o terreno para que o agricultor inicie nele o processo agrícola. Geralmente são lugares ermos, como ocorre na Amazônia. Mas o madeireiro também se encarrega dessa parte, abrindo a estrada de acesso. Dessa união nasceu também outra atividade paralela: a do fabrico do carvão, com o aproveitamento dos galhos e das árvores mais finas, deixadas pelos madeireiros. Uma atividade consorciando a madeira e a agricultura. Resulta na devastação total, pois, como sempre disse Rainor, o capixaba é uma madeireiro de nascença e ninguém cria novas atividades no ramo sem ele. Não está longe de ser real, pois o sistema madeireiro nasceu junto com a agricultura no Espírito Santo, quando o agricultor começou a formar sua propriedade, cortando e vendendo árvores para financiar sua lavoura. Principalmente a lavoura de café. Ele era, até por obrigação do sistema agrícola implantado, forçosamente um madeireiro, no espaço de quatro anos, pelo menos, tempo necessário para o café entrar em produção. Para Rainor, esse foi o inicio do aprendizado de todos eles, com o pai na mata derrubando árvores para plantar seu cafezal. Evidente que por trás dessa atividade se encontra um dado importante, a origem do agricultor capixaba. Ele procede da Europa, principalmente da Itália. Veio para o Espírito Santo sem recursos para formar suas propriedades, geralmente em lugares inacessíveis, por conta das matas. Não tem qualquer compromisso com a conservação das matas. Origem dos nossos madeireiros à parte, o que vale para nós é a figura de Rainor Grecco, o mestre de todos eles. Evidente que mestre sanguinário das florestas, pois, como ele próprio dizia, há espécies de árvores que ao serem derrubadas choram e outras que até sangram. Rainor deu fim à madeira mais cobiçada do planeta, que enfeita palácios e luxuosas residências pelo mundo, o jacarandá. Foi ele que acabou com essa espécie de árvore. Uma espécie que só deu na Mata Atlântica. De cor escura, um marrom passando para preto, e que continha desenhos lindos na sua parte interna. Rainor exportou 57,7% do que existiu do jacarandá. Costumava dizer que sonhava com um jacarandá em seu poder, como um grande sedutor sonha com uma bela mulher em seus braços. O dele era o jacarandá no chão. E a sensação de vê-lo serrado para desfrutar de seu desenho, pois nunca um desenho de um jacarandá pareceu-se com o de outro jacarandá. Em matéria de conhecimento da floresta, ele acabou se tornando um grande especialista. Conheceu as espécies nos seus mínimos detalhes e falava da fauna com uma intimidade de fazer inveja a qualquer importante cientista. No que tange à Mata Atlântica, então, ele era insuperável. Nela iniciou sua atividade e desenvolveu a maior parte de seus conhecimentos. No fim da vida quis fazer uso desse conhecimento para preparar projetos de reflorestamento. Não foi levado a serio nessa sua ideia de servir à recuperação das matas. Continuou, como sempre, assediado por conta da sua técnica de destruição. Embora odiado pelos ecologistas, foi sempre muito celebrado, até idolatrado, pelos madeireiros. Com as devidas escusas antecipadas do repórter, ele foi o Pelé dos madeireiros. Não há comparação melhor para se ter uma ideia do que ele foi capaz de fazer com as matas, principalmente as dos trópicos. Uma relação de bons amigos. Comecei a andar atrás de Rainor Grecco ainda nos anos 60, doido para fazer uma entrevista com ele. Tomei o primeiro fora, o segundo, o terceiro... Mas não deixei de assediá-lo nunca. Nos anos 70 mudei de tática. Passei a usar da intermediação de conhecidos comuns. Principalmente amigos do meu pai, que se dava muito bem com ele. Dessa forma cheguei nele, mas acabei sendo muito mal recebido. O homem estava uma fúria. E foi logo agredindo: Por que você não entrevista seu pai, que foi também madeireiro? Com presença de espírito, retruquei que meu pai foi madeireiro do tempo do machado. Cortou muito pouco perto dele, que era da geração da motosserra. Destruíam numa velocidade tremenda. Depois desse encontro, resolvi dar uma pausa. Dessa pausa estratégica para reformular a tática de abordá-lo. Não abandonaria nunca uma figura que cortava árvores como ninguém. Além do mais, tinha o naturalista Augusto Ruschi me incentivando a denunciá-lo. No meio dessa pausa, o Ruschi me convidou a ir com ele em Pinheiro, de onde chegava informação de que Rainor estava destruindo uma importante mata. Você vai lá fotografar para mim o que esse miserável está fazendo com a natureza. Me lembro bem das palavras do cientista e grande protetor da natureza. Peguei minhas máquinas e segui com Ruschi para Pinheiro, já maquinando na cabeça como faria a matéria. Me arrepiei todo quando entrei no carro dele. Mas no meio do caminho fiquei assustado, diante da vontade do Ruschi de dar um tiro no Rainor. Se eu encontrar esse bandido lá vou dar um tiro de carabina nele. E mostrou a arma. Tentei mostrar que não ficaria bem para um naturalista figurar no noticiário como um homem violento. Ruschi reagiu pior ainda: Fica bem é ele acabar com as matas, com a fauna, e não acontecer nada com ele. Fiquei desesperado pelo Ruschi. Chegamos ao lugar, um local de acesso não muito fácil por causa da precariedade do caminho, não havia estrada, era um arremedo. Mas Rainor já tinha feito o serviço todo. Só havia deixado os arvoredos e suas marcas nos troncos cortados. Vi o professor Ruschi entrar em desespero diante do quadro que encontrou. Na ausência do Rainor, resolveu me dar uma bronca. O que adianta vocês da imprensa que não conseguem sequer impedir que um homem só destrua as matas? Com o tempo, a fatalidade colocou Rainor do lado de minha casa em Jacaraípe. Com a morte do filho Moca, ele refugiou-se neste balneário. Resolvi fazer amizade com a família para chegar a ele. Comecei a conhecer a sua história através da família. Com jeito cheguei nele. Rainor vivia a tristeza da morte do filho. Deitava numa rede na varanda e ficava nela o tempo todo. Não estava para conversa. Assim passaram-se alguns meses. De repente ele desapareceu da rede. Sumiu. Como estava íntimo da família, foi fácil saber para onde ele tinha ido: sul da Bahia. Para fazer o que sempre fez - cortar árvores. Fiquei sabendo do lugar certo e parti para lá, na companhia do meu colega e hoje meu compadre Joaquim Nery. Flagramos o homem derrubando uma imensa mata. Não teve jeito. Me deu a entrevista tão esperada, que está aqui ao lado, e foi publicada no Jornal do Brasil, onde eu trabalhava. Daí para frente nasceu entre nós dois uma amizade que fugia à compreensão da sua mulher, Arlete. Quando eu ligava atrás dele e ela atendia, só ouvia impropérios. A começar por me chamar de cachorro. O que você quer com o meu marido, seu cachorro? Invariavelmente era assim que me atendia ao telefone. Mas veio o dia em que fui estar com ele em sua residência. Aí ela não se conteve. Quis uma explicação para a nossa relação fraterna: Não entendo, Rainor, como você o recebe. Ele só faz é escrever contra você. Rainor, com a inteligência que o fez um abatedor incomum de árvores, explicou à mulher: é a mesma relação do torturado com o torturador. Com o tempo, cria uma afeto. E criou: senti a morte do Rainor como senti de outras queridas pessoas. Era seu amigo. Mas o mundo não foi só de árvores abatidas e dinheiro para Rainor. Ele acabou pagando uma conta muito alta por conta disso. Viu sair de sua vida as pessoas mais queridas. E todas de forma trágica. O primeiro que tombou foi um irmão: morreu esmagado por toras de madeira num acidente com uma carreta que dirigia. Essa morte ocorreu há 40 anos. O irmão chamava-se Silvino. Depois de Silvino, veio um sobrinho queridíssimo, o Luiz Carlos. Morreu afogado. Tinha pouco mais de 20 anos de idade. Em seguida Rainor perderia uma irmã. Aliás, uma belíssima mulher. Também de forma trágica: desastre de carro. Junto com ela foi uma filha. Ela chamava-se Terezinha. Em seguida, mais precisamente em 1978, seu único filho, que tinha o mesmo nome dele, mas atendia pelo apelido de Moca, rolou numa ribanceira, num alto de montanha, em Domingos Martins, com seu jipe. Morreu aos 29 anos. O Moca foi um capítulo à parte na vida do pai. Ele havia se formado em ecologia na Dinamarca. E cuidava da natureza numa propriedade no alto da montanha. Rainor costumava brincar com o filho, dizendo que ele iria consertar os seus estragos ecológicos. Admirava o filho e tinha convicção de que ele seria responsável pela conversão à natureza. A morte do filho tirou temporariamente Rainor da floresta. Ele isolou-se, por algum tempo, numa casa de veraneio em Jacaraípe, onde curtiu a dor da perda. Mas logo voltaria à sua habitual atividade de derrubador de árvores, pois ficou sem quem o pressionasse para o lado preservacionista – o filho. Apesar de viajado (Rainor foi atrás de madeira em 176 países), ele costumava justificar seu trabalho dizendo da importância da madeira para a vida do ser humano. É antológica a entrevista que deu a Jô Soares: Jô entrou de sola nele acusando-o de derrubar, segundo as estatísticas de exportação da antiga CACEX, 60 milhões de árvores. Rainor respondeu: Jô! Se eu não tivesse cortado essas árvores todas você não estaria sentado nessa cadeira de madeira e muito menos me entrevistando nesta mesa de madeira. São Paulo não existiria. Nova York... Jô não soube mais o que fazer com ele. Ele era inteiramente safo com seus entrevistadores. Imprensado, noutra oportunidade, pelo Eustáquio Palhares, do programa de entrevista da TV Tribuna, saiu-se com esta: Búfalo Bill aniquilou milhares de bizons (búfalos americanos) para alimentar tropas de trabalhadores famintos. Se fosse hoje, ele seria execrado pelos ambientalistas, em vez do herói que foi. Eu cortei milhões de árvores para fazer as casas para vocês morarem e no entanto sou visto como vilão. Dissimulação de lado, retornemos ao drama do Rainor: depois da morte do filho, ele voltou a derrubar árvores sem parar, principalmente em novas regiões. Saudosista do jacarandá, procurou intensamente uma árvore na Amazônia que pudesse substituí-la no mercado e no seu prazer de apreciar os seus desenhos. Num trecho da Amazônia, na divisa do Estado de Goiás com o Pará, ele encontrou uma espécie de árvore semelhante. Chegou a serrar algumas e viu que elas tinham desenhos também. Mas, além da raridade, eram muito finas. Não deu para satisfazer seus desejos. As tragédias deram um tempo a Rainor. Uma trégua de 23 anos separou a morte do Moca da perda de sua filha caçula. Ela morreu de câncer no dia 12 de maio. Segundo a sua viúva, Arlete, e sua filha Renusa, Rainor, depois do enterro da filha entrou num estado de profunda tristeza, falecendo 34 dias depois. Para a filha Renusa, a única que sobrou com vida de seus filhos, o pai começou a temer pela vida dela também, como se estivesse condenado ao castigo de enterrar todos os seus entes mais queridos. E resolveu ir na frente. Morreu no dia 16 de junho de 2001. Diz a filha Renusa que o pai, depois da morte da filha caçula, perdeu a eloqüência (ele falava muito, principalmente quando o assunto era madeira). Quando falava era para se lastimar: Sou eu que tenho que morrer e não meus filhos. Para a filha que sobreviveu, e que tinha na figura do pai o homem imbatível, que desafiou em vida todos os perigos e armadilhas das florestas, foi uma agonia vê-lo, nesses dias que antecederam a sua morte, derrotado num canto de sua casa. Perdi o homem de minha vida fechou, com imensa tristeza, sua conversa com o repórter. Rainor foi enterrado fora do Espírito Santo. Seu corpo baixou à sepultura no cemitério de Itabuna, no sul da Bahia, onde reside sua filha Renusa. Mas o fim do rei da devastação das florestas lembra bem um personagem de Mil e uma noites que perseguia obstinadamente um tesouro sem saber de seus efeitos malignos – ele acarretou o mal às pessoas que o encontravam.
Posted on: Sat, 09 Nov 2013 02:16:10 +0000

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