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Sobre o assunto abaixo, um dia escrevi: My Beautiful Dark Twisted Fantasy, disco recente do (adjetivo de Barack Obama) jackass Kanye West é uma obra prima. Difícil lidar com isso? Logo aquele invasor de palcos alheios? Pecador, travestido de Cristo na capa da Rolling Stone? Desagradável ególatra, certo de seu talento sobrenatural? Como aceitar de um idiota desses, uma jóia dessas, lapidada com faces tão cristalinas, que deixam transparecer com extrema delicadeza suas influências de Nina Simone, Gil Scott-Heron, Stevie Wonder e até de Justin Vernon do Bon Iver? Um disco conceitual e, é claro, polêmico, extremamente sensível, composto durante um exílio voluntário no Havaí. Obra criada sob a luz da literatura, poesia e música de Maya Angelou, com participações de Jay-Z, M.I.A., Elton John, Mos Def, Santigold, Alicia Keys, usados como testemunhas das boas intenções e do incrível talento de Kanye. My Beautiful Dark Twisted Fantasy é um depoimento perturbado de um artista fora do comum, e consciente disso, no auge e nas garras da fama. Runaway, que não para de tocar no meu ouvido desde 2010, soa Stevie Wonder em Music of My Mind 40 anos depois. “Eu sou tão talentoso em achar o que eu não gosto, que eu acho que chegou a hora de nós fazermos um brinde”, diz ironicamente o artista. “Vamos fazer um brinde para os arrogantes, vamos fazer um brinde para os babacas”, prossegue, homenageando os canalhas, idiotas, todos os que ele conhece e muito do que ele reconheceu em si próprio. A conclusão do melhor refrão do ano é: “Eu tenho um plano, fugir o mais rápido possível ". As cartas já estavam na mesa, Kanye é um dos artistas mais interessantes do cosmo musical desde o dia 11 de setembro de 2001, quando lançou, como produtor, pela Roc-A-Fella Records, The Blueprint, disco de Jay-Z. Seu primeiro disco, um dos melhores da década, The College Dropout, só confirmou isso. Logo depois, durante um concerto em benefício das vítimas em New Orleans do furacão Katrina, West afirmou na cara de George Bush que o presidente não se importava com os negros. O microfone de Kanye foi cortado e, na sequência, num atestado de medo, culpa e burrice, o o ator negro Chris Tucker também. Bush disse se tratar de um dos momentos mais desagradáveis de seu mandato. Desses momentos poucos se lembram, quando Kanye West, em entrevista para MTV, denunciou a homofobia do hip-hop Americano, por exemplo. Sua fé inabalável, provém de seu terrível acidente de carro em 2002 e da estúpida morte de sua mãe em 2008, ano em que esteve no Brasil para o Tim Festival. Nessa época Kanye disse que era como tentar andar sem uma perna e um braço para se apoiar. Já as suas influências vão longe. Das mais óbvias homenageadas como Ghostface Killah e Ol` Dirty Bastard do Wu-Tang Clan até a música clássica apreendida nos seus dias dentro da Academia de Arte de Chicago. Kanye sampleia cada vez menos, mas seu estilo já se caracterizou pelo uso dos vocais clássicos da soul music em suas mixagens. Suas experiências como produtor o aproximaram do dancehall jamaicano dos anos 90, influenciado, por sua vez, pelos gangsta rappers. O conteúdo lírico do dancehall era quase sempre violento e incentivava a tomada de poder por facções criminosas de Kingston. Era uma música essencialmente acompanhada de discursos poéticos e beats eletrônicos, assim como o ragamuffin, música responsável pelo renascimento da cultura dos anos 60 conhecida como Rude Boy, de jovens criminosos e gangues da Jamaica. Durante o final dos anos 70, uma segunda onda de Ska, nascida na periferia das cidades inglesas, produzida pelo selo 2 Tone (dos incríveis The Specials e Madness), ressucitou o termo Rude Boys and Girls. O Ska jamaicano influenciou definitivamente o mod, o punk rock Britânico e o pós punk. Mais tarde se tornou a música escolhida pela cultura skinhead e ironicamente pelo poder branco europeu. Originalmente nascido na década de 50 na Jamaica, o Ska é o precursor do Reggae e do Rocksteady, música adotada pelos Rude Boys (Ouça os lindos discos de Alton e Hortense Ellis) e é produto direto da música do Caribe e da África e do jazz e R&B americanos. Você percerbe onde a cobra morde o próprio rabo? Artistas americanos das margens do Mississippi influenciaram a música jamaicana que, indiretamente, influenciou no desenvolvimento do Rap e da cultura da música eletrônica. Como fruto dessa árvore enraizada: Kanye West. David Shields conta que "naqueles anos 50, a música americana era imensamente popular na Jamaica. A cultura musical daquele país era influenciada pelos DJs tocando em festas públicas. Os DJs ganhavam cada vez mais reputação pelos distintos tipos de discos que cada um tocava. Desenvolveram uma técnica de trocá-los tão rápido que a música continuava sem que você percesse o tempo em silêncio. Até mesmo quando grandes músicos estavam disponíveis para tocar ao vivo, a audiência preferia a manipulação e a combinação do material pré gravado". Prince Buster ou Count Machucki são exemplos desse momento. Kanye flerta com a música eletrônica também que, na cena do Haçienda, era fortemente influenciada pelo dub jamaicano, criado pelo gênio de Lee Scratch Perry. O reggae também foi diretamente influenciado pela soul music Americana combinado a elementos musicais mais tradicionais da cultura do país. Nas festas públicas, com Sound Systems móveis, King Tubby e Lee Perry destacavam o baixo das faixas gravadas provocando uma retirada repentina dos outros instrumentos e dos vocais. Faziam isso usando equipamentos eletrônicos rudimentares e abrindo espaço para os toastings (brindes como em Runaway de KW), ato de falar cantando. No início dos anos 70, alguns DJs jamaicanos levaram a prática para as ruas de Nova Iorque, onde se desenvolveu o primeiro capítulo do Rap. Em 2010 Kanye West lança My Beautiful Dark Twisted Fantasy.
Posted on: Wed, 25 Sep 2013 07:38:07 +0000

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