Todo mundo critica as mordomias a que têm direito autoridades e outros ocupantes de cargos de alto escalão, seja do governo, do legislativo ou do judiciário. As críticas são certíssimas. Tem que criticar mesmo. Mas, uma coisa estranha é que ninguém critica os executivos e donos de grandes empresas privadas, que desfrutam de mordomias muito mais espetaculares. Por que será? Será que é porque todo mundo acha que um dia vai ser um executivo ou um dono de empresa, e que, ao chegar lá, quer ter o direito de curtir as merecidas mordomias sem que ninguém incomode? Talvez. Mas a outra razão é que todo mundo tem a convicção de que, se a empresa é privada, não tem nenhum problema. Afinal, o dinheiro para as mordomias não saíram do nosso bolso, não é mesmo? Tem certeza? Então, se esse dinheiro que sustenta as mordomias dos empresários não saiu do nosso bolso, ele veio de onde? Deu em árvore? Foi fabricado em uma fotocopiadora de fundo de quintal? Caiu do céu? Na realidade, o dinheiro é o mesmo, ora ele é público, ora ele é privado. O dinheiro sempre terá origem no suor das pessoas que realmente trabalham. A cada produto que você compra no supermercado, um percentual é imposto oficial, e vai para o governo. E um outro percentual é lucro, e vai para o empresário. Um acrescimozinho no imposto, e você está bancando as mordomias das autoridades. Um acrescimozinho no lucro, e você está bancando as mordomias dos empresários. Mordomias são sempre deploráveis. No caso do dinheiro público, são um sinal de que os nossos impostos estão sendo investidos da forma errada. E no caso do dinheiro do empresários, são um sinal de que ele está lucrando demais às custas de nosso consumo. Em ambos os casos, as pessoas que realmente trabalharam para produzir aquela riqueza vão ficar só olhando os privilegiados usufruírem de suas esplêndidas mordomias. O vídeo que mostra os deputados da Suécia lavando sua própria roupa todo mundo adorou (até os brasileiros que nunca lavaram uma peça de roupa e não abrem mão de sua empregada doméstica adoraram). Mas nunca vi ninguém se preocupando em saber quantas pessoas são necessárias para cuidar da casa do Eike Batista e do Antônio Ermínio de Moraes. Aliás, aproveitando a deixa, é inevitável observar que citar a Suécia como exemplo de país "sem mordomias" é algo ridículo, já que o país é uma monarquia. E a monarquia é o exemplo mais fantástico de mordomia sustentada com dinheiro público. Os reis vivem em palácios, têm todas as suas despesas pagas pelo povo, não trabalham e ainda deixam as mordomias de herança para os filhos. Outro dia eu vi o Datena criticando o salário dos deputados. Na boa, esse Datena é muito cínico. Eu e você, que ganhamos salários normais, temos todo o direito de criticar o salário dos deputados. Mas o Datena, que ganha dez vezes mais do que um deputado, tem esse direito? A propósito, se você achou esse discurso muito socialista, saiba que até os Estados Unidos iniciaram, com a crise de 2008, uma ferrenha luta contra as mordomias dos executivos dos grandes bancos privados, que, enquanto ganhavam milhões de dólares de salário, os bancos que eles administravam iam à falência e arruinavam a economia do país.
Posted on: Sat, 13 Jul 2013 05:04:56 +0000
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