UMA AVENTURA NA AUSTRÁLIA Pedro Maia, personal trainer, - TopicsExpress



          

UMA AVENTURA NA AUSTRÁLIA Pedro Maia, personal trainer, recentemente viveu uma nova aventura ciclística, desta vez por terras de arborígenas e cangurus... Após o resultado que alcancei no Campeonato da Europa de 24 H Solo comecei a delinear a minha estratégia para estar presente no Campeonato do Mundo da WEMBO em Canberra na Austrália e ao mesmo tempo “saborear” o prólogo da Prova por etapas Crocodile Trophy uma semana depois em Cairns a 3000 Km de distância. Devido ao investimento necessário para uma deslocação deste tipo e para um país tão distante, o apoio dado pelos meus patrocinadores obviamente que teve uma importância crucial. Depois dos apoios conseguidos tratamos da logística inerente a uma prova deste calibre onde as check list são muito extensas. Em termos de alojamento e deslocação na Austrália, optei por alugar uma autocaravana pois assim também servia de base para as provas. Partimos eu e a minha Pit Manager Tina Maia para ficarmos um mês Down Under, descolamos de Lisboa num Domingo e chegámos a Sydney numa terça-feira, tivemos todos os cuidados necessários para nos adaptarmos não só à duração da viagem mas também ao Jet Lag que naquela altura era de mais dez horas. Chegamos a Sydney sem qualquer percalço tratámos de ir buscar a autocaravana e passadas 3H30 estávamos em Canberra mais exatamente no Mount Stromlo. Como tinha havido uma prova de 25 horas para equipas no fim-de-semana anterior, estava tudo já montado à nossa espera. A infraestrutura tem um parque para autocaravanas com todas as comodidades necessárias para quem faz este tipo de atividade. Apesar da grande diferença horária dormimos muito bem e na quarta-feira montei a minha S-WORKS 29er e juntamente com um amigo meu belga Alexis Matthis (Campeão do Belga de maratonas e do Mundo 24H solo em 2012 na classe 30-35 anos). Confrontámos-mos com um circuito de 16,5 Km com aproximadamente 300m de acumulado, fantástico típico de bike park, técnico quanto baste, 90% em single track sem zonas perigosas e em hard pack com alguns sítios com alguma pedra solta, muito apropriado para uma competição deste género e isto em conjunto com uma fauna fora do comum, tendo os Wallibies (marsupiais idênticos aos Cangurus) como espetadores. A temperatura era a típica para esta altura da Primavera na Região por volta dos 20 graus durante dia e entre zero a três graus durante a noite, amplitudes térmicas que não estamos habituadas especialmente no final do verão no hemisfério norte mas também já íamos preparados a contar com isso. Até ao final da semana foi treinar, tratar da logística, equipar a nossa boxe com tudo o que seria necessário para a corrida. Ficámos bem posicionados numa boxe de 4mX4m com todas as comodidades necessária para um evento deste tipo. Sábado dia 12/10 chega o tão esperado dia, amanhece fresco mas com um sol radioso condições fantásticas para uma corrida deste género. Depois de tudo montado e preparado, aproximadamente 45 minutos antes da partida faço o aquecimento, incluindo algumas séries de sprints, e às 11H45 estou pronto na partida que é feita por partes e para evitar “engarrafamentos” partem primeiro os elites e campeões em título e depois as várias classes etárias. A partida é dada sem qualquer problema, há espaço para todos e tudo corre de uma fora fluída sem qualquer atropelo. Na primeira fase subíamos durante aproximadamente 20 minutos, de uma forma suave com curvas e contra curvas para o Observatório, o ponto mais alto do Mount Stromlo, chegados ao Observatório começavam as descidas técnicas com alguma pedra solta para depois voltarmos a subir sempre de forma suave mas desafiante para voltar novamente à mesma cota da subida anterior aí chegados, voltamos a descer e agora já em direção à meta aqui integrados num cenário perfeito de bike park onde surgem trilhos muito rápidos com curvas em relevê, parecendo mais um circuito de four cross. Estava tudo a correr muito bem, sentia-me forte e confiante e a gerir o esforço tendo em vista o tempo que ainda faltava para o fim. À terceira hora acontece-me algo que nunca tinha acontecido, em 20 participações de provas de 24 Horas, nunca tinha tido um problema mecânico, e foi logo aqui que fiquei sem suspensão à frente, o pó fino que estava no ar entrou pelos retentores da suspensão e misturando-se com o óleo, formou uma massa que veio a causar a perca de amortecimento e a partir daqui tudo mudou, para além de sofrer com o impacto nas mãos, a Bicicleta perdeu imenso em estabilidade e segurança. Depois de algum sofrimento, a minha Pit Manager, falou com a assistência da SRAM e estes prontificaram-se desde logo a resolver o problema, mas como iria ter alguma demora, esperei pela noite pois assim ocupava o tempo descansando um pouco só que, entretanto furei e os rolamentos da roda da frente desintegraram-se, talvez consequências pela falta de amortecimento, felizmente que tinha levado rodas suplentes. Cheguei à boxe, vieram buscar-me a bicicleta, fizeram o que tinham a fazer e passado hora e meia, entregaram-me a minha S-WORKS como nova. No processo perdi à roda de 2 voltas para além do stress que é ter uma avaria e da quebra de ritmo devido a uma paragem mais demorada, a partir daí, procurei encontrar novamente as sensações que tinha anteriormente e alcançar o melhor lugar possível. O dia nasce no Mount Stromlo é um espetáculo inolvidável, apesar de tudo, o cansaço mistura-se com uma sensação de alegria quando aparecem os primeiros raios do astro rei. Verifico a minha classificação, estou em sétimo, podia estar em quinto, mas estou muito feliz pois apesar de tudo consegui cumprir o meu objetivo que era ficar entre os dez primeiros da classe consciente que quando se compete com atletas desta estirpe, qualquer classificação é sempre um grande resultado. No final fui o melhor e único Europeu na minha classe 50+. Está terminado o primeiro desafio, depois da corrida surge o processo de recuperar, tratar da bicicleta e arrumar tudo, depois no final da tarde a entrega de prémios e um merecido jantar. A primeira fase do sonho Australiano já está. Começa o processo de recuperação, dormir o máximo possível e preparar tudo para partir no dia seguinte para Cairns, 3000 km a norte de Canberra, de forma a estar presente no prólogo da mítica prova por etapas australiana Crocodile Trophy. Programei o GPS para nos levar pelo “Back Country” e assim termos um contato mais estreito com as zonas da Austrália que não estão nos roteiros turísticos. Como devem imaginar foi uma experiência fantástica que tem que ser feita “in loco”, contada só escrevendo um livro. Uma coisa é certa, ser civilizado não é ter o último modelo de telemóvel, de computador, um bom carro ou uma mansão, é sim viver sobretudo respeitando os outros e o que nos rodeia, estive em sítios onde não se vêm bicicletas agora imaginem eu a aparecer de S-WORKS e todo equipado, não me senti mal, pelo contrário, mas ao mesmo tempo senti o tipo de ostentação que é ter uma bicicleta de 12.000 dólares australianos…………se calhar o preço de algumas casas. As estradas denotam a contenção de custos, nesta zonas não existem autoestradas existe isso sim uma faixa para cada lado e um cumprimento das regras de trânsito sem prevaricações, estão em muito boas condições e isto apesar dos “ROAD TRAINS”, deixem-me dizer-vos os TIR europeus metem-me respeito os “CONVOY” americanos são espetaculares agora um trator que puxa três atrelados perfazendo mais de 50 metros ambulantes, deixa-me boquiaberto e sem palavras. No entanto o respeito é enorme e tem mesmo que ser, na maioria das estradas cabem dois carros à tangente, e o civismo impera, aqui não há lugar para manobras perigosas nem “brincadeiras” pois existe um traço contínuo a separar a vida da morte. E falando em morte cangurus, wallibies, os mais variados animais e até mesmo gado bovino é encontrado em grande quantidade atropelado nas bermas da estrada. Há que ter um cuidado redobrado uma vez que somos nós que estamos a invadir o seu território. Depois de algumas peripécias e de chegarmos a ter que voltar para trás pois o GPS “mandou-nos” para uma estrada de terra batida com 100 km de extensão, até termos que guiar durante 200 Km a quarenta km por hora para não atropelarmos nenhum animal, chegámos a Cairns na véspera da prova e então aí tudo muda, clima tropical, vastas plantações de cana do açúcar, de bananas, de mangas e de muito mais, uma temperatura a rondar os 40 graus e a humidade a 100% ótimo para fazer exercício. Somos muito bem recebidos pela organização do Crocodile Trophy e ficam incrédulos quando lhes digo que fizemos 3000 km depois da prova de Canberra para estarmos ali só para fazermos uma etapa. Continuo a achar que tudo é mais simples na Austrália, mais uma vez estou perante um organização que vive à base do voluntariado, sem grande ostentações mas extremamente eficaz. Sábado está tudo a posto para fazer a primeira etapa do C.T., a organização abriu esta etapa para o público em geral e eu aproveitei esse facto para ter um objetivo de viagem e ao mesmo tempo usufruir do contato com os corredores desta tão afamada prova. Como é óbvio, esta não é a minha praia, uma etapa de 35 km não é bem para o que tenho treinado e depois das 24 horas e de 3000 km a conduzir, não ia ser fácil, mas também se o fosse perdia o interesse. A partida também foi faseada e parti de trás, sentia-me muito bem e recuperado e comecei desde cedo a ultrapassar Bastantes participantes, tanto do público como dos corredores do C.T., mais uma vez o percurso era composto de mais de 90% de single track, muito desafiante mas tal como no Mount Stromlo nada perigoso. Desta vez a bicicleta não teve qualquer problema mecânico e não tive qualquer contratempo. Deu-me imenso prazer e não fiquei nada arrependido por ter percorrido todos aqueles kms para estar presente, acabei por ficar à frente da Classe 3 do público e se continuasse em prova teria feito o pódio com um terceiro lugar. Corri confiante e acabei com um bom resultado e também com alguma pena de não continuar, mas uma coisa é fazer o prólogo de 35 km outra as 8 etapas com muito dureza que ainda faltavam, talvez numa próxima oportunidade. E já está, terminei com a satisfação do dever cumprido, agora chegou à altura de usufruir do que ainda me espera, mais duas semanas de Austrália e os trilhos fantásticos do Queensland e da Nova Gales do Sul e claro mais 4000 km de autocaravana até Sydney. Por último, aconselho e recomendo este país fantástico onde penso voltar um dia pois estou consciente que ainda está muito por ver, apreciar e usufruir.
Posted on: Thu, 07 Nov 2013 18:37:36 +0000

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