Ulisses, o grande menino de Cosmópolis Após dez longos anos - TopicsExpress



          

Ulisses, o grande menino de Cosmópolis Após dez longos anos passados longe de casa, combatendo os troianos inimigos, Ulisses, o herói grego por excelência acabou por conseguir a vitória pela astúcia graças, no caso, ao famoso cavalo de madeira-o cavalo de Troia- abandonado na praia, perto das muralhas por tanto tempo sitiadas. Os troianos imaginaram se tratar de uma oferenda aos deuses e, no entanto, era uma máquina de guerra com o ventre repleto de soldados. À noite, os guerreiros gregos saíram de dentro da imponente estátua e massacraram até o último dos troianos, que dormiam.. Foi uma atroz carnificina, que suscitou a ira dos deuses. A guerra estaria terminada. Ulisses (Odisseu, que originou a Odisseia-narrativa das peripécias do herói - de Homero) voltaria pra casa, pra sua ilha, Ítaca (onde era rei), sua mulher, Penélope, e o filho, Telêmaco. Na volta para casa – mais dez anos-, enfrentou toda a sorte de percalços, de desafios - é, os deuses lançou a fúria, atormentando o herói - e a todos eles, sabia e corajosamente, venceu, conquistando o reconhecimento e todas as glórias cabidas a ele, chegando finalmente a sua terra natal, junto aos que o amavam, sendo recebido com imensa alegria e todas as honras que lhe eram devidas. Ulisses, o herói semideus, protagonista da epopeia grega, representa na mitologia grega o arquétipo da coragem, da sabedoria, da astúcia, da inteligência, do homem destemido e autêntico, o sábio que sabe o que quer e para onde vai. O Ulisses de cima é o grego conhecido de muitos, interessados ou não em relatos fantásticos da miologia. O Ulisses, a quem me reportarei agora, foi um rapaz adorável que um dia participou de muitos bons momentos da minha infância em Cosmópolis, junto com meus pais e os dele –saudosos- D.Rosinha Damiano e o Sr. Constantino Coutsoukos, o grego; o moço lindo que na adolescência pôde me acompanhar em muitos bons( e também angustiantes) momentos, compartilhando tristezas e alegrias. O Ulisses que fora, um dia, apaixonadaço por minha prima Zarif. "O Ulisses que, um dia, na juventude, “se esvaiu” de todos nós e, dali por diante, foi se perdendo na estrada da vida. Nome grego. Aparência, um dia, de um deus grego. Grande no tamanho, no coração, na alma. Frágil, indefeso, extremamente tímido, um menino na essência. Ulisses da esquina do Itaú, irmão de Jorge. Querido - um dia - por todos ... e sacaneado – um dia- por muitos. O primeiro baque veio com a morte prematura do pai; logo depois, também a da mãe. Teve uma vida feliz, farta, ótima educação. Tudo começou a mudar drasticamente com a morte do pai e piorou com a perda da mãe. O menino frágil não teve a sorte do herói grego, não teve estrutura pra aguentar as rasteiras da vida. Passou por toda a sorte de privações e provações. Começava aí um outro tipo de odisseia. A do inferno das drogas, o perverso mundo dos excluídos, o vagar sem destino, a despeito das inúmeras tentativas da família, sem sucesso. E Ulisses virou “Lissão”(ou Lição!). E Ulisses vagava dias e noites a esmo. Sozinho. Maltrapilho. “Ligeira”. Tinha uma casa. Recusava-se a voltar pra ela. Perdeu o seu chão, o seu lar. Sentia-se livre na rua. Contava com a generosidade de muitos. E escárnio de outros. Mantinha o sorriso de garoto, a inocência de garoto, de quando, juntos, dávamos comida aos patos e marrecos na chácara da família; a alegria, de quando, juntos, partilhávamos mesas fartas também em família. Apesar da aparência de maltrapilho, sua compleição física, seu jeito calmo e sua fala mansa denotavam que fora bem-nascido. A vida nos separou. Vez ou outra quando visitava a minha família, aos domingos, lá estava ele na soleira da porta da minha casa, à espera de uns trocos, de um prato de comida. E eu tentei, de todas as formas, muitas vezes, a dissuadi-lo daquela vida que levava...em vão. E ao adentrar na casa de minha mãe, muitas vezes impotente diante daquela situação, não conseguia almoçar pensando naquele moço ali, jogado na porta, não querendo entrar nunca, comendo rápido, faminto...não tinha como não me remeter à vida linda que um dia ele tivera...sempre impossível deter as lágrimas, a tristeza, sempre com meu coração moído sem poder fazer absolutamente nada. E tenho a plena convicção de que muitos a minha volta também se sentiam assim, sem poderem nada mais fazer... E ele se foi. Um anjo se foi. Seu corpo foi encontrado de frente à antiga casa de sua família, onde passou a sua infância, linda infância. Guardo comigo as melhores recordações desse menino-gigante-frágil, que um dia me fez muito feliz. Guardo comigo a sensação de ternura imensa e, ao mesmo tempo, a eterna impotência ao tentar lutar(em vão!) contra o inevitável: a devastação que as drogas trazem, principalmente para os que estão ao redor da pessoa envolvida, para aquelas pessoas que sofrem sem nada poderem fazer por aqueles que se afundaram no mundo sombrio, que recorreram a elas, às drogas, para tentarem camuflar, fugir, esquecer as dores do mundo. Siga em paz, Ulisses, doce menino, não mais errante. Você está liberto definitivamente dos perigos dessa vida. Deus e todos os que verdadeiramente te amaram e que já não se encontram mais neste plano aqui, estão a postos, aí no céu, à sua espera pra te acarinhar, pra te cuidar, pra te receber de braços abertos e liquidar com todas as suas “dores”, cicatrizar todas as tristezas, as feridas de sua alma. Beijos Rosana
Posted on: Sun, 30 Jun 2013 04:12:59 +0000

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