VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: prática de agressão, maioritariamente de - TopicsExpress



          

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: prática de agressão, maioritariamente de origem masculina mas também, convém não esquecer, feminina. Os homens agredidos, esses, calam-se ainda mais que as mulheres e nem é preciso explicar porquê. Nem tudo é tanto quanto se publicita, em matéria de igualdade de géneros e, assim, os célebres e antigos machismos e marialvismos, supostamente em vias de extinção, perdidos de riso perante estas convenientes ilusões, vão criando também estes silêncios masculinos, que invariavelmente se inibem perante uma sociedade pronta a julgá-los na sua virilidade; enquanto, por outro lado, continua imparável de exibição nas suas velhas práticas em relação a mulheres. É preciso despertar. A violência do agressor alimenta-se do medo, da insegurança e depois da consequente baixa auto-estima do agredido. Por isso as vítimas não são apenas mulheres, embora sejam estas a gritante maioria, por condicionantes mais ou menos óbvias. E neste último caso, constato, no meu círculo de contactos mais próximos, i.e. ao nível da confidência, e independentemente do estrato social/educacional em que se insiram, que são uma irrisória e aflitiva minoria as mulheres que conheci ao longo da vida que não tenham sido alvo de agressão por parte do cônjuge pelo menos uma vez. E tenho de esclarecer que muitas delas se situavam em zonas bem confortáveis da vida, considerados que sejam todos os níveis de conveniente inserção na sociedade. Calar? Parece que todas calam. As reacções ao acidente é que podem ser diferentes e, por isso mesmo, algumas de nós safam-se. Para além disto, deste flagelo imparável, que não obedece a tempos, progresso, condição académica, social ou financeira, e que é a violência física, a marcar cicatrizes visíveis para a vida, importa sublinhar que existe um outro tipo de violência, muito mais frequente, até, mas invariavelmente ignorado, como todas as agressões que não deixam marca visível a olho nu - as doenças, crónicas ou temporárias, do foro psicológico, por exemplo, sempre socialmente subestimadas até à inevitável ruptura - e que é a violência exercida psicologicamente sobre o outro: cônjuge, filhos, pais idosos, etc. Que pode deixar, e normalmente assim acontece, sequelas mais ou menos profundas, compatíveis com os maiores ou menores níveis de crueldade infligidos. Mas ficam lá e actuam pelos dias. O medo é, pois, elemento de peso aqui, que controla largamente tudo isto: paralisa a vítima e abre caminho à próxima agressão. O agressor é, quantas vezes, o resultado, ele próprio, de uma vida de violência continuamente perpetrada sobre si e sofrida em silêncio, a todos os níveis pensáveis. Não conhece outro caminho para lidar com a raiva acumulada. É assim que se exorciza. Na maioria dos casos, ambos, vítima e agressor, precisam de séria ajuda. E precisam de ser apoiados por um sistema de saúde atento, empenhado e acessível, e por forças de segurança informadas, isentas e actuantes perante este tipo de queixas, ou seja, por tudo aquilo que o mundo insiste em não ter, ou ter pouco. Há muito, mesmo muito a pensar e agir nesta área, que transcende largamente o espaço conjugal e familiar e designadamente ao nível da Educação, também. Palavras e slogans não chegam, embora importantes. Apoio precisa-se, a todos os níveis e não apenas das associações de apoio à vítima, de grande mérito, aliás, e a rebentar pelas costuras, que desempenham aqui um papel decisivo mas quase sempre de caracter paliativo e não preventivo. E não têm mãos a medir, por mais que tantos mas tantos distraídos por aí insistam em ver apenas mundos cor de rosa. No entretanto e até que a realidade acorde para a mais elementar prática de justiça, a firmeza, buscada além do medo perante a agressão, tem de resgatar-se do fundo de cada átomo da matéria que nos faz gente, e logo à primeira bofetada, para que a mensagem seja entregue desde logo. E sabemos que nem assim o problema será erradicado, porque existem sempre os outros, os casos muitíssimo graves, à deriva por esse mundo, de agressores que passaram há muito a fronteira da sanidade e não conhecem controlo possível para além do internamento adequado à origem do seu comportamento. E assim, seja lá como for e por mais que a situação seja o que é, denunciar, denunciar, denunciar é a palavra de ordem a concretizar. O silêncio é, aqui, o segundo agressor. E o mais forte.
Posted on: Mon, 25 Nov 2013 20:39:08 +0000

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