Veja Abinoã Veloso, Falar da moral do Talmud como algo isolado - TopicsExpress



          

Veja Abinoã Veloso, Falar da moral do Talmud como algo isolado e independente, como alguma coisa que não tem relação com o passado e com o futuro, é um grande erro histórico. O Talmud, de um modo geral, não é algo inovador, nem tampouco uma nova doutrina. É, na verdade, um comentário da antiga Torá, da Bíblia, que se amoldou aos novos tempos, à época em que foi escrito, segundo os novos conceitos e circunstâncias, de acordo com as recentes exigências da vida: espiritual, social, política, econômica etc. Por ser uma nova exegese da Bíblia, não é, logicamente, a mesma coisa que a Bíblia; porém, também não é algo isolado e independente dela. Representa uma fase singular na evolução histórica, um fator determinante no desenvolvimento do povo judeu. O mesmo se dá com a moral talmúdica. Tal qual o próprio Talmud, ela não deve ser considerada como algo isolado e independente, sim como um evolução da própria moral bíblica. Esta moral remonta aos tempos mais remotos da história judaica, e suas marcas podem ser percebidas até mesmo nos trechos mais arcaicos da Bíblia. E, não obstante as mudanças operadas ao longo dos tempos, os valores do povo judeu, na sua essência, continuam firmados na a mesma base talmúdica. Na própria Bíblia é possível perceber algumas modificações no que concerne aos valores morais dos judeus. Tomando como exemplo a guerra, nota-se que, durante o tempo que estes se encontravam em um estágio inicial de cultura, quando eram primitivos e bárbaros, suas guerras foram igualmente selvagens e bárbaras. O lema deles era: “Não deixarás nada com vida”. Alguns séculos mais tarde, entretanto, quando o povo judeu havia alcançado um nível de cultura espiritual mais elevado, na época em que eram influenciados pelos ensinamentos humanitários dos profetas, mudaram nitidamente seus conceitos. Por exemplo, antes de ir guerrear, eles eram orientados a incitar os inimigos para que aceitassem a paz. Quando se sitiava uma cidade, não era permitido destruir as árvores frutíferas. Somente devia participar das batalhas os voluntários, e unicamente aqueles que não tivessem corações fracos e que não fossem tímidos. Ainda sobre a guerra, os talmudistas notaram uma mudança fundamental operada na Torá, muito embora não aceitaram o fato de que esta mudança ocorresse também na esfera histórico-cultural, uma vez que todas as partes da Torá haviam sido outorgadas igualmente por Deus. Trataram então de resolver a questão estabelecendo uma diferença entre a “guerra santa” (isto é, a guerra ordenada por Deus) e a “guerra voluntária”(ou seja, a guerra decretada pela própria vontade do homem). A guerra contra os sete povos que habitavam a Palestina era uma guerra santa, porque Deus a havia ordenado, mandando que eles fossem exterminados. As demais guerras deixaram de ser santas, e por isso não seguiram as regras da lei. A moral judaica, consequentemente, tem passado por diferentes categorias evolutivas. A moral talmúdica é a moral judaica de uma determinada época histórica, ligada diretamente com a que precedeu e que, por sua vez, liga-se a que se segue. É fato conhecido que a Bíblia não se ocupa de questões puramente especulativas. Não pondera sobre a essência de Deus, sim sobre sua natureza; da mesma forma, não trata da imortalidade da alma humana nem de uma vida pós a morte. Sobre isso tem havido inúmeros comentários, explicações e hipóteses. Alguns afirmam que os hebreus daquela época estavam poucos desenvolvidos para se envolverem com assuntos filosóficos, estando portanto desinteressados dos grandes problemas do mundo. Seu mundo era reduzido; seus conceitos, limitados; e seu Deus era local, nacional, agindo com exclusividade no meio de seu povo. Outras nações e outros povos possuíam, a seus modos, seus próprios deuses. Até certo ponto, isto tem algo de verdadeiro, especificamente no que diz respeito ao estado primitivo em que eles viviam e na sua concepção limitada e grosseira que tinham de Deus. Nesse aspecto pouco se diferenciavam dos demais povos. Resquícios desta grosseira concepção de Deus podem ser encontrados em inúmeras passagens dos textos mais antigos da Bíblia. Todavia, já no livro de Deuteronômio, provavelmente por idéias especulativas, o conceito de Deus se torna elevado e delicado. O Deus de Deuteronômio já não é o Deus local e nacional, sim o Deus único de todo o universo, o Deus de todos os povos, o Deus do céu e da terra e de tudo o que há dentro deles: “Não há outro Deus além dele”. O Deus de Deuteronômio não é somente único, mas também incorpóreo, que não pode ser representado mediante imagens: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Dt. 5:8). É evidente que tamanha concepção de Deus somente é possível através de idéias especulativas. É bem verdade que o autor não se dá ao trabalho de fundamentar sua concepção filosófica do mundo, não a discute, nem se empenha em demonstrá-la por intermédio de conclusões lógicas;
Posted on: Tue, 29 Oct 2013 01:10:28 +0000

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