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*** g91 22/3 pp. 10-13 A história do asbesto — de salvador de vidas a ameaça à vida *** A história do asbesto — de salvador de vidas a ameaça à vida NÃO faz muito tempo que os moradores dum parque de trailers no Arizona, EUA, tiveram de vender sua casa e seus pertences ao governo, e mudar-se dali. Tudo o que havia no parque, desde os trailers até a mobília e os brinquedos das crianças, foi sistematicamente destruído — nivelado e enterrado sob camadas de papel-filtro, pedregulho e terra. Por quê? Radiação? Substâncias químicas tóxicas? Água contaminada? Não; o parque de trailers situava-se sobre os resíduos duma antiga usina de moagem. Estava contaminado com asbesto, ou amianto. Para o asbesto, este tem sido um século tumultuado — sofreu uma queda vertiginosa do pináculo da popularidade até as profundezas da desonra. Tendo sido outrora o favorito da indústria e o reverenciado salvador de incontáveis vidas em casos de incêndio, o asbesto é agora acusado de cumplicidade na morte de literalmente centenas de milhares de pessoas. O asbesto tem a dúbia distinção de ter revolucionado a indústria da construção civil — não só uma vez, mas duas vezes: a primeira, na onda global de incluí-lo nas construções; a segunda, na afobação algumas vezes louca de removê-lo outra vez. Escolas, escritórios e prédios de apartamentos foram interditados, com custo monumental para os contribuintes de impostos, proprietários e moradores. Uma gigantesca onda de processos inundou o sistema legal. E o medo alterou vidas — tudo por causa do asbesto. Mas o que é o asbesto? De onde vem? É realmente tão perigoso assim? Passado Variado Contrário ao que alguns talvez pensem, o asbesto não é simplesmente mais uma falha da tecnologia moderna, outro produto de laboratório que não deu certo. Não, o asbesto é um mineral extraído da terra. Ou, mais precisamente, o asbesto é uma classe de minerais — há seis tipos diferentes, cada um bem distinto. Mas todos são de estrutura fibrosa, e todos são extremamente resistentes ao calor. O homem vem utilizando o asbesto há milhares de anos. Muitos séculos antes de Cristo, camponeses finlandeses misturavam-no ao barro e com isso tapavam as fendas das suas choupanas feitas de toras. Os antigos gregos usavam-no para fazer pavios de lâmpadas. Os antigos romanos teciam fibras de asbesto para fazer toalhas, redes e até coberturas para a cabeça de mulheres. Tais tecidos eram fáceis de limpar: bastava lançá-los no fogo e retirá-los brilhantes e brancos! Nos tempos medievais, o Imperador Carlos Magno alegadamente convenceu alguns convidados bárbaros de que possuía poderes sobrenaturais ao atirar uma toalha de mesa de asbesto no fogo e retirá-la sem que ficasse chamuscada. Alguns ousados mercadores medievais chegavam a vender cruzes de asbesto, citando sua resistência ao fogo como evidência de que eram feitas da madeira da “cruz verdadeira”! Entretanto, até fins do século 19, o asbesto não passava de um mineral com características curiosas. Isso mudou por causa da era industrial. Nos anos 1800, a indústria se deu conta de que o asbesto é mais do que à prova de fogo; resiste também à corrosão e constitui um bom isolante. O asbesto logo encontrou sua utilidade no papelão alcatroado para a cobertura de telhados, em revestimentos de tetos, em pisos, na insulação, em misturas de concreto, em tubulações de cimento, no asfalto, em cortinas de teatro, em lonas de freio e até em filtros. Por fim, acharam-se umas 3.000 utilidades para ele. Não demorou muito, o asbesto sustentava uma próspera indústria global. Descobriram-se grandes jazidas desse mineral nos montes Urais da União Soviética, nos Alpes do norte da Itália, em Vermont, nos Estados Unidos e na África do Sul. Até meados da década de 70, a produção mundial de asbesto aproximava-se dos seis milhões de toneladas por ano. O Terrível Preço Esta súbita ascensão da popularidade, porém, não se deu sem rumores agourentos. De fato, já 19 séculos atrás, o historiador romano Plínio notara que os escravos que trabalhavam nas minas de asbesto pareciam padecer de problemas respiratórios. Seu aviso foi apenas o primeiro de muitos que foram soados. No início de 1900, médicos na Europa começaram a notar que os que trabalhavam com o asbesto morriam em decorrência de males respiratórios. Por volta de 1918, algumas companhias de seguro já se recusavam a segurar os que trabalhavam com asbesto, ao notar a média de vida anormalmente curta deles. Por volta da década de 30, autópsias haviam comprovado que a exposição maciça ao asbesto podia ser deveras fatal. Os pequeninos cristais em formato de agulha, de muitos tipos de asbesto, podem penetrar bem fundo nos pulmões, ou mesmo na cavidade abdominal, e permanecer ali, causando doenças às vezes décadas depois. Seguem-se algumas das doenças mais comuns relacionadas com o asbesto: Asbestose. O mal mais comum, particularmente entre os que ficaram expostos ao asbesto por um período prolongado. Uma lesão do tecido do pulmão que enrijesse aos poucos o pulmão e que obstrui os espaços de ar dentro do pulmão. A asbestose causa dificuldades respiratórias e torna os pulmões mais vulneráveis a infecções tais como pneumonia e bronquite, que por sua vez são muito mais perigosas para pessoas nessa condição. A asbestose é incurável, e pode matar. Câncer Pulmonar. Também muito comum, mata mais pessoas do que a asbestose. No entanto, é interessante que, quando a exposição ao asbesto é conjugada com o hábito de fumar, a incidência de câncer pulmonar realmente se eleva muito — bem mais do que se apenas fossem somados os riscos do fumar com os da exposição ao asbesto. Mesotelioma. Uma forma rara, porém extremamente letal, de câncer. Ataca a membrana que reveste o tórax ou a cavidade abdominal. Pode ocorrer mesmo depois de limitada exposição ao mineral, e pode surgir após um prazo de até 40 anos. Segundo o periódico Internacional Journal of Health Services, o asbesto causará de duzentas a trezentas mil mortes prematuras e dolorosas entre 1986 e o ano 2000 só nos Estados Unidos. Se isso for verdade, quase igualaria ao número de militares americanos mortos em combate durante a Segunda Guerra Mundial. Uma Reação Exagerada? Contudo, bom número de cientistas acusam de muito exagerada a reação à ameaça do asbesto. Afirmam que certos cientistas superestimaram os perigos, conduzindo a uma generalizada “fobia de fibra”, um pânico que causou mais dano do que bem. Por exemplo, Brooke Mossman, da Faculdade de Medicina da Universidade de Vermont, liderou uma equipe de cientistas na elaboração dum relatório publicado na revista Science. Mossman e seus colegas expressam forte desaprovação às enormes somas de dinheiro gastas na remoção do asbesto existente em prédios de escritório e escolas, muitas vezes para evitar níveis de exposição tão baixos, afirmam eles, que são praticamente inofensivos. De fato, acusam que o ar dentro de alguns dos prédios alistados para a remoção do asbesto contém na realidade menos asbesto do que o ar de fora! Citam-se estatísticas que mostram que as crianças correm muito mais risco de andarem de bicicleta ou de serem atingidas por um raio de relâmpago do que de ficarem expostas a tais níveis baixos de asbesto. Além disso, muitos projetos de remoção do asbesto foram empreendidos precipitadamente e mal executados, aumentando na verdade os níveis de asbesto nos prédios ao levantarem todo aquele pó. Em tais casos teria sido mais seguro simplesmente deixar o asbesto no lugar e vedá-lo. Ademais, conforme reconhecido por muitos países europeus em sua legislação sobre o asbesto, nem todas as variedades do mineral têm as mesmas fibras em formato de agulha. O asbesto crisotila é constituído de fibras mais longas e onduladas, que são mais prontamente detidas e expulsas pelos pulmões. Uns 95 por cento do asbesto produzido no mundo é dessa variedade de crisotila. O asbesto anfibólio, o tipo que parece causar a maioria dos casos de mesotelioma, só é usado raramente. Mossman e seus colegas descartam também a ‘teoria de uma só fibra’ — a noção de que até mesmo uma única fibra de asbesto pode ser letal. Afinal de contas, o asbesto é algo natural. Segundo um editor da revista Science, todos nós respiramos cerca de um milhão de fibras de asbesto por ano! Todavia, esses argumentos não apaziguam todos os cientistas. O Dr. Irving J. Selikoff, que em 1964 realizou um estudo decisivo sobre os perigos do asbesto, insiste que baixos níveis de exposição ao asbesto podem deveras ser perigosos. Muitos cientistas concordam com ele. Estão especialmente preocupados com prédios escolares. Simplesmente medir o teor de asbesto no ar em tais prédios não significa nada, afirmam eles, uma vez que apenas fontes muito específicas de asbesto apresentam perigo, tais como canos e caldeiras insulados. É provável que crianças curiosas ou travessas encontrem e mexam em tais fontes; zeladores e porteiros podem ficar expostos regularmente. Cientistas também discordam no que constitui os perigos do asbesto crisotila. Uma conferência internacional de cientistas na primavera de 1990 replicou ao relatório de Mossman publicado na revista Science por asseverar que a crisotila é tão perigosa quanto os outros tipos. Ademais, alguns têm levantado a acusação de que cientistas que subestimam os perigos do asbesto estão simplesmente sendo usados pela indústria do asbesto, que paga alguns deles para testemunhar no tribunal. O Fator Ganância Tais acusações, se verídicas, classificam o acusado de ganancioso. O fato, porém, é que a ganância é um tema constante na história do asbesto neste século. A indústria do asbesto foi acusada de ultrajante ganância ao manter os trabalhadores em ignorância dos perigos da exposição ao asbesto. Muitos tribunais têm sentenciado fabricantes de asbesto a indenizar os empregados por terem deixado de informá-los dos riscos envolvidos. E, apesar de toda a controvérsia, as companhias de asbesto ainda exportam seus produtos às nações menos desenvolvidas que ainda não baniram esse material — e onde os operários nem sempre estão apropriadamente protegidos contra ele. Acusações de ganância também têm sido dirigidas à indústria da remoção do asbesto. Críticos desaprovam fortemente os exorbitantes custos, que muitas vezes vão de 250 a 500 dólares o metro quadrado, bem mais do que cem vezes o custo inicial de instalação do asbesto. Há também relatos de corrupção. Muitas firmas de remoção foram apanhadas subornando funcionários do governo para que estes fizessem vista grossa aos métodos ilegais e perigosos de remoção e destinação final. Sabe-se de proprietários corruptos que contratam empresas inescrupulosas para remover o asbesto de modo incorreto, só para poupar dinheiro. Os trabalhadores que eles contratam muitas vezes nem têm idéia dos perigos do seu trabalho, não utilizam nenhum equipamento de proteção, e sabe-se que têm dado destinação ilegal ao asbesto depositando-o até mesmo em parques. O Asbesto e Você Contudo, ainda há alguma esperança nesta terrível história. A conscientização dos diversos perigos do asbesto espalha-se pelo mundo inteiro. Muitos governos estão restringindo o uso do asbesto, ou ao menos certificando-se de que os operários que lidam com esse mineral utilizem equipamentos de proteção. Que dizer se você achar que há asbesto em sua casa ou no seu local de trabalho? Em primeiro lugar, somente um exame de laboratório poderá determinar ao certo se realmente há ou não asbesto. Segundo, não entre em pânico. O pânico levou alguns a tentar remover sozinhos o asbesto, o que muitas vezes é ilegal e muito mais perigoso do que deixá-lo onde está. Busque orientação perita antes de fazer qualquer coisa. Só se deve permitir que uma empresa bem conceituada e licenciada remova ou vede o asbesto, dependendo do que a situação exija. Caso não tenha escolha senão trabalhar com o asbesto, é importantíssimo utilizar equipamento de proteção, como o é também manter o material molhado para impedir que suas fibras sejam transportadas pelo ar — não importa quão inconveniente isso possa ser. Certa pesquisa feita entre 405 trabalhadores no Egito constatou que apenas 31,4 por cento deles usava seus equipamentos de proteção ao trabalhar com asbesto. Por fim, não fume! Em certo estudo americano, 34 por cento dos operários que trabalhavam com asbesto eram fumantes, apesar de sua elevada preocupação com o câncer e apesar do fato de que os fumantes têm 50 vezes mais probabilidade de contrair distúrbios relacionados com o asbesto. Naturalmente, os peritos ainda discordam na questão de quão perigoso é o asbesto e de se certo grau de exposição é seguro. Eles talvez continuem a discordar, lançando estatísticas e estudos uns contra os outros, até o dia em que o homem finalmente pare de ‘arruinar a terra’ e de fazer mau uso de seus recursos. (Revelação 11:18) Mas, até lá, talvez seja mais sábio errar por excesso de cautela do que por falta dela. [Foto na página 12] Instalação típica para trabalho com asbesto, incluindo câmaras de descontaminação. Da esquerda para a direita: 1. área de trabalho; 2. sala de equipamentos; 3. câmara de vedação de ar; 4. chuveiro; 5. câmara de vedação de ar; 6. compartimento limpo.
Posted on: Sun, 10 Nov 2013 20:53:09 +0000

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