muitas são as variáveis responsáveis pela formação de meu caráter e minha personalidade, mas noventa por cento da culpa eu coloco nos livros. aos doze anos eu lia Agatha Christie e me deleitava na execução da ordem, método e massa cinzenta dos personagens Hercule Poirot e Miss Marple. a leitura detetivesca permaneceu comigo até longo tempo, me lapidando na atenção que eu daria a tudo, com seu detalhismo e sua fastidiosa descrição das coisas, pessoas e sentimentos. minha diversão era residir em seus livros, minha casa na árvore. nessa época também li Ela e A Volta de Ela, de Henry Rider Haggard, uma das melhores obras que eu já li na minha vida e que me fez ter uma visão diferente sobre as mulheres. depois minha atenção e atração foram voltadas para a filosofia, berço do ócio criativo e do sedentarismo galopante. desde os filósofos pré-socráticos até os donos da verdade que tem o título de filósofos atualmente, eu procurei ler tudo para terminar entendendo o nada. posso dizer que Michel de Montaigne me inspirou muita coisa, o vazio por exemplo, e que São Tomás de Aquino despertou em mim, ironicamente, as dúvidas sobre Deus. mas foi ao visitar um site nada ortodoxo em uma de minhas navegações pela internet, que eu me deparei com o ocaso de todos os meus pensamentos. o post que li era sobre o sorteio do livro de um escritor romeno que até então eu não tinha conhecimento, mas quando li algumas frases de autoria dele, aquele momento foi o divisor de águas da minha vida. ali eu tive meu primeiro contato com Emil Cioran. o dândi visceral, que jogava futebol em um cemitério e fazia de um crânio a bola, na infância, escrevia coisas que eu já possuía na mente, resultado de algumas perdas, mas não conseguia descrever e muito menos escrever de forma tão magistral como só ele sabe fazer. hoje eu sequer sei o que sai de mim, meus pensamentos, ou o que provém dos escritos do romeno, tão fixado me tornei pelas suas palavras. Emil Cioran foi quem me levou ao pensamento crepuscular, fonte de meu resultado atual, de quem vê escuridão em penumbra e a quem todo fiapo tem cor de enforcamento. (in Breviário da Agonia, capítulo 3 - O Pensamento Crepuscular) #BreviariodaAgonia
Posted on: Sun, 03 Nov 2013 08:59:56 +0000
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