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ótimo artigo: Por Jesse L Campos COPA MUITO LUCRATIVA É anunciado que a Copa de Futebol deve custar 30 bilhões de reais ao Brasil, enquanto que a de 2010 custou cerca de 12 milhões à África do Sul. Vivemos agora o que se delineou em 2010 quando da escolha do Brasil para sediar. Como contribuição para uma reflexão atual mais abrangente, abro aspas a seguir para meu artigo publicado em junho de 2010: “Após hospedarem a copa de futebol em 2002, “a Coreia do Sul e o Japão chegaram até implodir alguns estádios”, informa Richard Tomlinson, arquiteto e professor da Universidade de Melbourne na Austrália, também autor de um livro sobre o impacto da Copa do Mundo na África do Sul. Estádios se tornam um drama após a Copa. Por exemplo, o Estádio Saitama, no Japão, é uma arena espetacular de 700 milhões de dólares. Depois da Copa de 2002, esse estádio tem um uso máximo de 60 dias ao ano, com público pequeno. O prejuízo do Saitama é de 3 milhões de dólares por ano. Dos 10 estádios japoneses da Copa 2002, 8 deles têm prejuízos anuais entre 2 e 6 milhões de dólares. Porém, “para um país rico como Japão e Coreia, a quantia de dinheiro que se perde com uma Copa do Mundo não é muito significativa,” informa Simon Kuper, jornalista financeiro do “Financial Times” e autor do livro “Soccernomics” (Finanças do Futebol). Essa história é diferente quando se trata da África do Sul. A África do Sul já hospedou a Copa do Mundo de Rugby – uma modalidade muito popular em diversos países, particularmente na Inglaterra e suas ex-colônias. Porém, a International Rugby Board (um tipo de FIFA do Rugby), não exige novos estádios para suas Copas. No caso da Copa de Futebol, com as tremendas exigências da FIFA, a África do Sul foi para o sacrifício. Quando, em 2004, ela foi escolhida para sediar a Copa de Futebol, a estimativa era que o custo total seria 295 milhões de dólares. Até o presente, a África do Sul já gastou 6 bilhões de dólares, principalmente de dinheiro público, inclusive o das províncias. O Green Point, novo estádio da Cidade do Cabo, é o edifício mais caro já construído na África do Sul. Ele tem capacidade para 60.000 pessoas, mas a média de público nos jogos locais de futebol é de 5.000 pessoas. O Estádio Mbombela, em Nelspruit, edificado para hospedar apenas 4 jogos da Copa, ou 6 horas de jogo, custou 137 milhões de dólares. Nelspruit, uma das piores realidades sociais do mundo, é um show de desigualdade e miséria. Lassy Chiawayo foi empossado prefeito de Nelspruit em processo emergencial depois que o antecessor foi removido por escândalos e corrupção relacionados à Copa. “Não há razão para esconder que houve um colapso da retidão de governo, principalmente com a chegada da Copa,” denuncia o prefeito Lassy. Milhões desapareceram no ralo. Foram descobertas listas de morte, produzidas por facções rivais dentro do partido “African National Congress”. Jimmy Mohlala, presidente da câmara municipal foi assassinado. Sammy Mpatlanyane, influente secretário da cultura e esportes da província, teve o mesmo fim. Os episódios se espalham por outras sedes da Copa na África do Sul. Escolas públicas foram destruídas ou desocupadas para a construção de estádios, e os alunos foram para classes de containers sem janelas. Para remover e esconder a pobreza urbana, bem como para dar lugar a estádios, foram construídos diversos assentamentos enormes (“tin can town”), com barracos de zinco com um quarto para uma família toda, sem eletricidade e esgoto. Passou-se uma lei (“New Slum Act”) tornando obrigatório o favelado se submeter à remoção. 800 pedintes foram retirados de Johannesburg para não incomodarem os turistas. A África do Sul é extremamente carente em educação, saneamento e saúde. E a população é extensamente afetada pela AIDS. Pobreza e favelas são abundantes. O crime tem níveis semelhantes aos do Brasil. Esse quadro social poderia ter recebido o que foi destinado para a Copa, mas a Copa é quem levou a fortuna. Uma motivação para hospedar a Copa foi mostrar ao mundo uma África do Sul moderna, próspera e ótima para o comércio e turismo. Poré m, imagem sem realidade não subsiste. Copa não transforma África do Sul em um Japão. O ex-presidente do país, Thabo Mbeki, entendeu que o custo da Copa compensava porque “enviaria ondas de confiança da Cidade do Cabo ao Cairo.” Isso é retórica megalomaníaca de político no palanque. Copa jamais pode construir confiança, especialmente uma que seja sustentável. Essa vem de outro modo. A favor do custo da Copa, há o argumento que boa parte dos 6 bilhões de dólares foi investida em infraestrutura, como estradas e aeroportos. Esse argumento é falho porque, se há dinheiro para construir a infraestrutura para receber a Copa, então essa infraestrutura pode ser construída sem Copa, e o dinheiro dos estádios pode ser aplicado em financiar mais infraestruturas. É defendido que a Copa causará crescimento na economia da África do Sul. Razia Khan, presidente do Instituto de Macroeconomia e Pesquisa da África, informa que a Copa pode adicionar de 0,3% a 0,5% no PIB da África do Sul. Mesmo que esse crescimento do PIB venha acontecer, é oportuna a ponderação do acima citado professor Tomlinson: “O país pode colocar centenas de milhões de dólares em um estádio ou colocar esses milhões na construção de um novo porto, e é fácil de imaginar a diferença do impacto na economia.” Kuper, o jornalista financeiro também já acima citado, afirma: “Não penso que deveríamos falar em benefícios econômicos porque não há nenhum benefício... os benefícios são felicidade e grande coesão nacional... o sentir-se bem é importante...” Entretanto, essa felicidade é muito cara e passageira. Há modos mais eficazes e sem custo para a felicidade. E a coesão de Copa é também muito passageira. E ela é questionável quando se olha a vitrine de corrupção e violência, advinda dos preparativos da Copa, como em Nelspruit, e também o tratamento dado aos pobres. A tal coesão dos estádios pede a presença ostensiva da polícia. A trama do filme “Invictus” é que Mandela usou a Copa de Rugby para produzir uma aproximação dos negros e brancos. Entretanto, como dito acima, o custo financeiro foi diferente. E aproximação temporária e esportiva não é suficiente para mudanças reais de estruturas sociais injustas. O Brasil é prova disso. Então, quem lucra com a Copa? Essa é uma questão de resposta evidente: os que mais lucram são mídia e a FIFA. O lucro delas é digno de se não ser comentado. Construtoras também lucram e dão empregos, mas fariam isso de forma melhor se, conforme aponta o professor Tomlinson, o dinheiro de um estádio fosse para a construção um novo porto. O turismo e comércio têm lucro com a Copa, mas será que repõe 6 bilhões de dólares gastos pela África do Sul? E, no comércio, será que os lucros durante a Copa compensam a perda dos outros setores que sofrem interrupções? Falando em lucro de Copa, não se pode deixar de mencionar o enorme lucro dos corruptos oportunistas. E, concluindo, é preciso lembrar que há também o enorme lucro dos políticos com a Copa... Circo produz votos. O Brasil tem até 2014 para conhecer os lucros de uma Copa.” Isso escrevi em 2010. Entretanto, apenas para melhor exemplificar esse trágico drama da Copa, é relevante considerar uma informação atualizada. O estádio Green Point, acima mencionado como o edifício mais caro já construído na África do Sul, e cuja manutenção custa anualmente cerca de 5 milhões de dólares, é hoje um inútil elefante branco, foco de um debate acalorado, e é inclusive possível candidato a demolição
Posted on: Sat, 22 Jun 2013 15:05:03 +0000

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