40 anos depois, uma reflexão a respeito do socialismo de Salvador - TopicsExpress



          

40 anos depois, uma reflexão a respeito do socialismo de Salvador Allende Allende foi sincero nas suas pretensões de se chegar ao socialismo pelas vias democráticas. Mas o socialismo pretendido por ele se assemelhava mais a uma série de medidas estatizantes de setores estratégicos do Chile promovidas por iniciativa do governo e utilizando as prerrogativas legais já existentes. E esperava fazer isso de forma paulatina sem assustar a burguesia, aglutinando forças e ampliando as conquistas sociais para a maioria, ou seja, os trabalhadores. Do ponto de vista clássico marxista/leninista do que se entende por revolução, com a vanguarda do proletariado fabril, organizado em seu partido político, liderando os camponeses e expropriando os meios de produção para o Estado Operário administrá-lo em benefício da maioria produtora, a experiência chilena tratava-se de uma reforma social profunda, mas não de uma revolução. E mesmo essa reforma não poderia levar o país rumo ao socialismo, pois ao se respeitar as vias democráticas, a Unidade Popular teria de controlar o Congresso, fato que não conseguiu realizar nos três anos em que esteve no governo. E pior; tomado em distância histórica, parece ingenuidade imaginar que a burguesia chilena assistiria de camarote as suas riquezas privadas, bem como o seu poder político, serem passados aos poucos para os operários, camponeses e favelados. Isso, sem falar, em todo o tipo de boicote e pressões norte-americanas visando ao fracasso da política econômica de nacionalizações. Não se pode entender como parece não ter a UP previsto e se preparado para as ferozes reações do capital internacional, liderado pelos Estados Unidos, que procuraria aglutinar a burguesia nacional temerosa em perder suas propriedades e explorar as vacilações da classe média. Assim, a despeito das conquistas sociais iniciais, com a melhoria do poder aquisitivo, através de aumento salariais, das nacionalizações da riqueza mineral, da reforma agrária e da apropriação pública das grandes fábricas, a isso se sobreveio o desgaste econômico dessa política econômica, simbolizado pelo retorno da inflação sem controle e o desabastecimento. Em todo momento, houve o conluio entre burguesia nacional e internacional, pois entendia-se que o sucesso das medidas socializantes do governo Allende, levaria necessariamente ao fortalecimento do exemplo socialista que, além de se radicalizar no Chile, poderia se estender a outros países latino-americanos. O que assustou a burguesia, segundo Peter Winn, em “A Revolução Chilena”, mais que a revolução de cima para baixo feita pelo governo e usando as vias legais, foi a revolução de baixo para cima levada a cabo pelos trabalhadores impacientes com o que consideravam ser o ritmo lento da passagem para o socialismo. Dessa forma, mesmo Allende não sendo – e nunca disse que era – um Lênin sulamericano, as suas políticas sociais e também de incentivo à democracia nos locais de trabalho, dando voz aos produtores na administração do processo produtivo, de certa forma, deflagrou o potencial revolucionário dos “de baixo” represado por anos de privações e com uma vanguarda há muito tempo ouvindo as pregações revolucionárias dos partidos comunista e socialista. E de certa forma, nos extratos mais baixos da sociedade, houve um ensaio revolucionário, com as expropriações feitas pelos trabalhadores do campo levando o governo a adiantar o projeto de reforma agrária. Nas fábricas e nos bairros operários a auto-organização incentivada pelo MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria) experimentou momentos de democracia direta e de intervenção nas políticas públicas. Essas organizações foram importantes na defesa da UP contra as ações golpistas ensaiadas pela direita antes do 11 de setembro de 1973. Mas, desarmadas, não foram páreo para o aparato militar desembainhado para o golpe final. Os trabalhadores, sim, tentaram fazer a revolução...
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 22:48:54 +0000

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